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Cidades

BR-163: do pôr do sol marcante ao mistério das lápides à beira da estrada

No aniversário de Mato Grosso do Sul, viajamos os mais de 800 quilômetros da rodovia que corta MS de ponta a ponta

Guilherme Henri | 11/10/2018 07:05
Caminhões na BR-163 durante pôr do sol em Sonora (Foto: Henrique Kawaminami)
Caminhões na BR-163 durante pôr do sol em Sonora (Foto: Henrique Kawaminami)

Os 845,4 quilômetros da BR-163, de sul a norte do Estado que hoje atinge os 41 anos reservam mistérios, arte, delícias em pote e um pôr do sol que só a paisagem do cerrado poderia evidenciar. A estrada que atravessa Mato Grosso do Sul é, também, cheia de vida. 

Segundo A CCR MS Via, concessionária responsável pelo trecho, a população "lindeira" é de 1,3 milhão de pessoas. Delas, se tiram histórias inspiradoras de quem viu o Estado crescer em meio ao vai e vem incessante de pessoas, ao longo de 21 cidades no trajeto. Parte delas, brotou da rodovia, construída pelo Exército na década de 1970.

O curioso se esconde nos extremos de norte a sul que ganham características climáticas inconfundíveis das direções. Antes de chegar a Sonora o calor em meio ao canavial explica o suor do boia fria enquanto ao sul, o clima ameno de Mundo Novo faz esquecer, que na verdade se está em Mato Grosso do Sul e não no Paraná.

Com o pé na estrada é possível contar o que a estrada reserva e as vidas que fazem dela uma artéria do desenvolvimento de Mato Grosso do Sul.

Pôr do sol visto em Sonora (Foto: Henrique Kawaminami)
Pôr do sol visto em Sonora (Foto: Henrique Kawaminami)
Postes de iluminação em meio a plantação de cana no fim de tarde em Sonora (Foto: Henrique Kawaminami)
Postes de iluminação em meio a plantação de cana no fim de tarde em Sonora (Foto: Henrique Kawaminami)

“O pôr do sol pede parada”

A viagem começa no extremo norte, em Sonora, divisa com o estado de Mato Grosso. A recepção ficou a cargo do pôr do sol sem igual, que foi caindo em meio ao imenso canavial às margens de Sonora. A parada chega a ser obrigatória. O astro ganha coloração amarela intensa e se mistura rapidamente com o laranja e o vermelho do crepúsculo.

Caminhoneiros preparando almoço em posto desativado (Foto: Henrique Kawaminami)
Caminhoneiros preparando almoço em posto desativado (Foto: Henrique Kawaminami)
José Batista, 67 anos, e Anderson Ferreira, 34 anos (Foto: Henrique Kawaminami)
José Batista, 67 anos, e Anderson Ferreira, 34 anos (Foto: Henrique Kawaminami)

“O tempero do posto desativado”

Na estrada, qualquer sombra é parada para quem sobrevive dela. Seguindo a regra, os amigos caminhoneiros José Batista, 67 anos, e Anderson Ferreira, 34 anos, preparam o almoço em posto desativado perto de Sonora, onde pretendem carregar os caminhões com carga viva de bois.

O cardápio é simples: arroz, feijão, macarrão e bife. Tudo feito ali mesmo, no compartimento que mais parece miniatura de cozinha. O convite para pegar outro prato é certeiro e acompanha boa prosa e risadas.

“É dessa estrada que sobrevivemos. Levando boi de lá pra cá. Você acostuma comer em qualquer lugar, porque se parar em postos o lucro já fica na estrada”, explica José Batista.

Os dois afirmam que não trocam o sossego do volante por escritório nenhum e afirmam que só de olhar o que fica na beira da estrada dá para saber que Mato Grosso do Sul avançou. “O pedágio deixa o trecho mais caro, mas a visão que se tem agora é de outro Estado”, completa

Borracharia ao lado de posto desativado perto de Rio Verde (Foto: Henrique Kawaminami)
Borracharia ao lado de posto desativado perto de Rio Verde (Foto: Henrique Kawaminami)
Manoel Souza Oliveira, 51 anos (Foto: Henrique Kawaminami)
Manoel Souza Oliveira, 51 anos (Foto: Henrique Kawaminami)

“Emprego e morada ao lado do nada”

Observando os caminhoneiros que ali comem, o borracheiro Manoel Souza Oliveira, 51 anos, mantém uma modesta borracharia, também casa ao lado do posto desativado. Não há "civilização" em pelo menos 50 quilômetros, mas o homem chega a mudar o sereno semblante se o assunto é deixar o lugar.

“Estou aqui há 17 anos, desde que o posto ainda existia. Depois que fechou, fiquei aqui e cuido de tudo inclusive da minha vida”, diz.

O movimento, diz, já não é mais o mesmo desde a privatização. Entretanto, o pouco que se ganha ainda é sustento para ele, a mulher e as galinhas que ali moram. “É bom demais tudo isso aqui. O povo para e entre um conserto e outro você acaba viajando junto num ‘dedo’ de conversa”, conta.

Zenilda dos Santos, 51 anos (Foto: Henrique Kawaminami)
Zenilda dos Santos, 51 anos (Foto: Henrique Kawaminami)
Prateleiras de loja com produtos de pesca, conveniência e variedades (Foto: Henrique Kawaminami)
Prateleiras de loja com produtos de pesca, conveniência e variedades (Foto: Henrique Kawaminami)

“Há 30 anos fisgando pescador com vara e flor”

A estrada é a mesma, mas o cenário vai mudando. Primeiro, só se vê mato e pastagem, aos poucos os rios ficam mais evidentes. O negócio é tirar o proveito deles nas proximidades de Coxim. Zenilda dos Santos, 51 anos, está há 30 anos como comerciante a beira da BR-163. Tudo começou quando ainda era casada.

O casal tinha comércio em outro prédio, mas depois da separação ela conseguiu se mudar para onde está e hoje a estratégia é oferecer aquilo que tem saída por ali: vara e chapéu para pescar ao lado do pote de doce e flor de plástico.

“Quem tem negócio na beira da estrada é ‘pinga mais não seca’. Pelo vai e vem das pessoas você persegue que o Estado mudou. Todo mundo está sempre com pressa. Atrás de dinheiro. E é nessa que estou. Vendendo meus produtos e sobrevivendo”, revela.

Ainda segundo ela, a rodovia trouxe e levou amores, mas hoje a esperança é de garantir a aposentadoria. “Só saio daqui se for para não trabalhar mais”, afirma.

Motociclista cruza MS pelo menos duas vezes ao ano (Foto: Henrique Kawaminami)
Motociclista cruza MS pelo menos duas vezes ao ano (Foto: Henrique Kawaminami)
Carlos Batista, 36 anos (Foto: Henrique Kawaminami)
Carlos Batista, 36 anos (Foto: Henrique Kawaminami)

“MS é ponte entre morada e saudade da família”

No meio do caminho, na parada para esticar as pernas, num posto perto de Rio Verde, o advogado Carlos Batista, 36 anos, preparava a capa para encarar a chuva ao longo do caminho. De motocicleta, há 20 anos, pelo menos duas vezes ao ano, cruza o Estado de ponta a ponta. Sai de Rondônia onde mora e vai até o Paraná matar a saudade da família.

“A o Estado avançou muito. Você vê pelos prédios na beira da estrada. Na fachada das lojas é possível ver a modernização e a necessidade de expandir. Toda vez que encaro essa viagem eu vejo pelo menos uma novidade”, descreve.

Sem delongas, encerra a prosa dizendo que no total são 2 dias para ir e depois do descanso mais 2 para voltar. Por isso, precisa acelerar a Yamaha Midnight, pois não costuma demorar no Estado do Pantanal.

Pedestres as margens de rodovia que não tem passarelas (Foto: Henrique Kawaminami)
Pedestres as margens de rodovia que não tem passarelas (Foto: Henrique Kawaminami)
Catador de reciclável e seu cão as margens da BR-163 (Foto: Henrique Kawaminami)
Catador de reciclável e seu cão as margens da BR-163 (Foto: Henrique Kawaminami)

“O risco e a falta de atenção acompanham a rodovia”

Ao longo do trecho, não é difícil ver pedestres se arriscando entre um lado da margem da rodovia e o outro. Conforme a PRF (Polícia Rodoviária Federal), não há passarelas na rodovia e no perímetro urbano das cidades o show de desatenção é igual o risco de morte.

Ciclistas, pedestres e catadores de recicláveis se arriscam entre o vai e vem de carros e caminhões. Barulho de buzina competem com o esbravejar de quem acredita estar certo.

Além disso, entre Rio Verde e São Gabriel do Oeste, o fluxo de caminhões parece se intensificar. Os poucos veículos da rodovia chegam a sumir perante aos grandes veículos que transportam algodão, boi e até porcos.

Caminhões tomam a pista perto de São Gabriel do Oeste (Foto: Henrique Kawaminami)
Caminhões tomam a pista perto de São Gabriel do Oeste (Foto: Henrique Kawaminami)
Bruno Nogueira Gomes, 25 anos (Foto: Henrique Kawaminami)
Bruno Nogueira Gomes, 25 anos (Foto: Henrique Kawaminami)

“Estrada parece solidão mas, na verdade é muita tensão”

Próximo a São Gabriel do Oeste, Bruno Nogueira Gomes, 25 anos, estava sozinho, na entrada de uma fazenda com o guincho de trabalho. Responsável por dar auxílio aos motoristas, é um solitário da estrada, em clima de tensão contínua dada à natureza do trabalho.

“Você nunca sabe o que vai acontecer. De repente estou aqui olhando o trânsito quando um carro pode bater em um caminhão. Graças a Deus, desde que estou neste serviço, há 2 anos, nunca aconteceu comigo, mas imagino isso a todo o momento”, diz.

Sobre a hipótese de abandonar o trabalho na estrada, o rapaz diz que embora o risco, prefere continuar sem rotina. “Não é desgastante. Considero melhor do que trabalhar na cidade”, diz o trabalhador, que mora na cidade logo a frente – São Gabriel do Oeste.

Camilo e Loreni Babinski (Foto: Henrique Kawaminami)
Camilo e Loreni Babinski (Foto: Henrique Kawaminami)
Trailer fica no km 614 da BR-163, em São Gabriel do Oeste (Foto: Henrique Kawaminami)
Trailer fica no km 614 da BR-163, em São Gabriel do Oeste (Foto: Henrique Kawaminami)

“Só não trabalha em MS quem não quer”

No km 614, já no perímetro urbano de São Gabriel do Oeste, o trailer do casal Camilo e Loreni Babinski, ambos de 52 anos, parece ser parada obrigatória para quem as vezes permanece mais tempo na estrada do que em casa.

Em Mato Grosso do Sul, há 20 anos, o casal conta que veio para trabalhar e aqui construiu a vida.
“Muito bom de emprego. Aqui mesmo só não trabalha quem não quer. Lembro de quando cheguei e não tinha quase nada disso aqui. Hoje, você pode ver tem posto, empresa e hotel do lado. Todos eles igual a nós tiram o sustento da rodovia”, diz Camilo.

O trailer faz sucesso faz um sucesso danado vendendo galeto frito para reforçar o lanche dos viajantes. E como a atividade depende de quem passa na rodovia, o receio que fica é de um dia ter que sair dali. “A rodovia está sendo duplicada e quando a concessionária começou a fazer, nosso maior medo foi de pensarem em nos tirar. Mas eu calculo que não, porque não estamos atrapalhando, Deus há de ter piedade”, suplica. (Veja matéria completa no Lado B)

Panela de feijão em fogo de lenha (Foto: Henrique Kawaminami)
Panela de feijão em fogo de lenha (Foto: Henrique Kawaminami)
Algacir Pasquele, 57 anos (Foto: Henrique Kawaminami)
Algacir Pasquele, 57 anos (Foto: Henrique Kawaminami)

“É manhã com cheiro de feijão feito no fogão de lenha”

O dia vai clareando e é hora de “levantar acampamento”. Em Jaraguari, lanchonete ao lado da rodovia recebe quem busca o cafezinho, acompanhado de um inesperado espetinho de frango frito. O caminho de todos ali é longo e precisa de reforço. O que ajuda, além do bom papo entre eles, é o cheiro inconfundível do feijão já sendo preparado para o almoço em fogão de lenha.

Parece que ninguém quer sair de perto.  Além do cheiro, o fogo também ajuda a esquentar quem está gelado da estrada.

“É a vida. Venho de Santa Catarina e vou até o Mato Grosso entregar lamina de madeira. Estou nessa vida há 22 anos e chego a passar 20 dias na estrada. Esse Estado mesmo conheço de ‘cabo a rabo’”, diz o caminheiro Algacir Pasquele, 57 anos, que passa por MS todo o mês.

O caminhoneiro aproveitou a oportunidade para se queixar. Conforme ele, o asfalto da rodovia está bom, porém ainda não há estrutura suficiente que justifique os valores cobrados nos pedágios, que chegam a R$ 7.

Entrada do restaurante Parada do Ingá (Foto: Henrique Kawaminami)
Entrada do restaurante Parada do Ingá (Foto: Henrique Kawaminami)
Cozinheira Dona Maria preparando o tradicional prato porco no tacho (Foto: Henrique Kawaminami)
Cozinheira Dona Maria preparando o tradicional prato porco no tacho (Foto: Henrique Kawaminami)

“Parada do Ingá e porco no tacho para fortalecer”

No quilometro 51, quase na entrada do Distrito de Anhandui, o Restaurante Parada do Ingá tem 67 anos de histórias para contar, de quem da BR-163 nascer e continua vivo, alimentando os estradeiros.

No almoço, em cumbucas de self service, o prato principal da casa, o porco no tacho, é servido, ao lado dos acompanhamentos: salada, arroz, arroz com pequi, feijão, macarrão, polenta e mandioca, tudo por R$ 14,00. Tudo é feito com tempero especial de Dona Marina, cozinheira há mais de 20 anos na casa.

"O porco no tacho é o segredo, preparado diferente dos outros lugares. É frito na banha dele, no tacho, com couro e tudo, por isso que o pessoal gosta. As vezes a gente tem também frango caipira, bife na chapa, bisteca na chapa, carne de panela ou a vaca atolada", detalha Marcio Pooter, proprietário do restaurante.

A clientela? A maioria caminhoneiros e viajantes da BR-163, a qual seguimos caminho. (Veja matéria completa no Lado B)

Doces em pote de loja a beira da BR-163 em Anhanduí (Foto: Henrique Kawaminami)
Doces em pote de loja a beira da BR-163 em Anhanduí (Foto: Henrique Kawaminami)
Dilma Medina, 50 anos (Foto: Henrique Kawaminami)
Dilma Medina, 50 anos (Foto: Henrique Kawaminami)

“Pimenta, doces, queijos, muita arte e cooperatividade em Anhanduí”

No distrito de Anhanduí, o desafio é passar pela BR-163 e não para comprar pelo menos um dos potes com conservas de salivar. Com nome de ex-presidenta, Dilma Medina, 50 anos, e vendedora sorridente de uma das barracas a beira da estrada.

Ela conta que o sucesso entre os viajantes são as pimentas em conserva e os variados potes de doce. “Estou só há três meses aqui e a diferença de um trabalho na cidade e grande. Na estrada se tem paz, historias e sorrisos”, diz.

Sobre o movimento, ela como vendedora não tem o que reclamar “qualquer curioso que para e olha não sai de mãos vazias”. “E gente de todo o Brasil que passa por aqui”, descreve seus clientes.

Ailton Luiz, 40 anos, vizinho de barraca da vendedora,  está há 30 anos a beira da BR.  No “corre corre” de repor prateleiras diz que no distrito todos se ajudam.

“Se dona Maria faz um doce bom, ela logo o produz e o passa para que outros também o vendam. E assim segue todos os produtos que vendemos aqui”, explica o proprietário da lojinha.

Lápides de cemitério consumidas pelo tempo (Foto: Henrique Kawaminami)
Lápides de cemitério consumidas pelo tempo (Foto: Henrique Kawaminami)
Portal de entrada do cemitério é feito com madeira (Foto: Henrique Kawaminami)
Portal de entrada do cemitério é feito com madeira (Foto: Henrique Kawaminami)

“O cemitério da saudade sem ninguém por perto”

Entre os mistérios sem ninguém para explicar, rumo ao sul, perto do quilômetro 386 da rodovia, algo intriga os olhos: um cemitério apenas com três túmulos sobressai em meio à paisagem de pastagem. Não há sedes de fazendas, casas ou acampamentos próximos.

Das lápides, duas guardam fotos de homens e a terceira nada. Elas são guardadas por um muro baixo e um portal erguido com madeira. Sem flores e com uma árvore solitária, a saudade que ali mora parece ter seguido o rumo junto a estrada.

Assentamento no quilometro 312 (Foto: Henrique Kawaminami)
Assentamento no quilometro 312 (Foto: Henrique Kawaminami)
Delírio José Custodio, 51 anos (Foto: Henrique Kawaminami)
Delírio José Custodio, 51 anos (Foto: Henrique Kawaminami)

“Em assentamento, Delírio faz jus ao nome contando histórias”

No quilometro 312, Delírio José Custodio, 51 anos, parecia esperar alguém parar para contar suas histórias. Com largo sorriso, ele diz que o assentamento criado pelo movimento sem-terra existe ali há 15 anos.

Entre palavras soltas, consegue dizer que o acampamento e pequeno, com cerca de 20 famílias e todos sobrevivem do plantio na terra. Enquanto conversa, bate a enxada.

“Essa rodovia deu uma ‘levantada’, mas coisa boa para nós não veio não. Só mais dinheiro tirado na hora de levar as verduras para a cidade”, resume.

Alho pendurado e vassoura em barraca as margens da BR-163 em vila perto de Dourados (Foto: Henrique Kawaminami)
Alho pendurado e vassoura em barraca as margens da BR-163 em vila perto de Dourados (Foto: Henrique Kawaminami)
Paulo Felix da Silva, 84 anos (Foto: Henrique Kawaminami)
Paulo Felix da Silva, 84 anos (Foto: Henrique Kawaminami)

“Alho pendurado, amendoim com casca e até vassoura”

Seguindo rumo ao sul, antes de chegar a Dourados, as vilas como a Vargas e São Pedro tomam a lateral da BR-163. A maneira de vender chama a atenção pela variedade de produtos. Os olhos se enchem de cor.

E alho pendurado na telinha roxa, amendoim com casca, vassoura artesanal pendurada e tem também botijão de gás. Isso, sem mencionar nos doces de pote das frutas do cerrado e nas já tradicionais pimentas.

Embora a maneira de vender seja incomum, o plano de agregar tudo segue a tendência do mercado. Segundo o comerciante Paulo Felix da Silva, 84 anos, a estratégia e agregar tudo o que o concorrente também oferece para não perder nenhuma chance de emplacar venda ao viajante.

“Estou há 25 anos aqui e sempre foi assim. Sempre vendendo um pouco de tudo para tirar o meu sustento”, revela.

Sobre de onde vem as mercadorias, o idoso define: “do mesmo lugar de onde meus clientes são: de toda parte do Brasil”, diz Paulo sobre os produtos vendidos também por viajantes.

Imagens feitas por artistas expostas a beira de rodovia (Foto: Henrique Kawaminami)
Imagens feitas por artistas expostas a beira de rodovia (Foto: Henrique Kawaminami)
Elias Jose Simões, 49 anos (Foto: Henrique Kawaminami)
Elias Jose Simões, 49 anos (Foto: Henrique Kawaminami)

“A ascensão como artista veio com a BR-163”

Ainda nas vilas, impossível não admirar o trabalho do artista Elias Jose Simões, 49 anos. Ele tem um ateliê modesto construído em frente a sua casa, e o que chama a atenção de quem passa são as imagens de santos construídas com metal que alcançam até a altura de 4 metros.

“Antes na cidade era só mais um vendendo a ‘gatos pingados’. Mas, há 7 anos, que decidi aqui me instalar meu crescimento foi significativo. Sair daqui? Jamais! Considero essa opção como andar para trás. O negócio e seguir o sentido dessa BR, sempre para frente”, afirma.

Prova da paixão pelo lugar, foi a construção da casa para a famílias nos fundos da oficina praticamente a céu aberto. “Não me incomodo com barulho dos carros ou caminhões não. Na verdade, até que e bem tranquilo. A casa fica bem lá no fundo”.

Já a estratégia de venda é apenas mostrar o que suas mãos são capazes de fazer com algumas ferramentas, metais e muito talento. “As imagens saem de R$ 1,5 mil até R$ 10 mil. A maioria dos clientes são caminhoneiros, ou viajantes. Mas, existe também uma demanda das igrejas”, relata.

Airton, Laise e a filha na cabine de caminhão (Foto: Henrique Kawaminami)
Airton, Laise e a filha na cabine de caminhão (Foto: Henrique Kawaminami)
Airton Rodrigues da Silva, 30 anos (Foto: Henrique Kawaminami)
Airton Rodrigues da Silva, 30 anos (Foto: Henrique Kawaminami)

“Lar é onde a família está”

Perto do Mundo Novo, divisa com o estado do Paraná, o caminhoneiro Airton Rodrigues da Silva, 30 anos, precisou parar num posto de combustíveis para uma emergência: trocar a fralda da filha recém-nascida na cabine do caminhão.

Mas, ele só estava no auxílio, pois quem colocou a mão na massa foi a esposa, Laise Garcia, 30 anos.

“Desde que ela tinha 20 dias nós viajamos juntos por todo esse Brasil. Está BR não chega a ser uma rota a qual usamos muito, mas pelo que percebi melhorou muito em termos de trânsito”, diz.
O caminhoneiro ainda contou que ele e a família já estão na estrada há 5 dias. Saíram do Rio Grande do Sul e vão até Rondônia”, relata.

Aves brancas enfeitam galhos de árvores as margens da BR-163 perto de Mundo Novo (Foto: Henrique Kawaminami)
Aves brancas enfeitam galhos de árvores as margens da BR-163 perto de Mundo Novo (Foto: Henrique Kawaminami)
Misteriosa capela azul na BR-163 (Foto: Henrique Kawaminami)
Misteriosa capela azul na BR-163 (Foto: Henrique Kawaminami)

“Capela azul misteriosa e paisagem sem igual”

O cemitério de três solitárias lápides não está sozinho. Um dia chamada de rodovia da morte, a estrada tem capelas espalhadas, memória das vítimas dos acidentes.  Quase em Dourados, uma pintada de azul, cercada. 

Viagem que segue, e o que era pasto e cerrado, novamente perde a vez para os rios. Segundo a CCR MS Via, a BR-163/MS passa por 36 rios ao longo de toda sua extensão.  Ao longo da viagem, a equipe passou por 21 cidades, cortadas pela rodovia e que, neste 11 de outubro, ajudam a contar os 41 anos sul-mato-grossenses.

 

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