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Capital

À beira de BR, favela abriga o drama de pessoas que sobrevivem do lixo

Mariana Lopes | 11/03/2014 10:47
(Foto: Cleber Gellio)
(Foto: Cleber Gellio)

Em meio aos quase 400 barracos montados à beira da rodovia  BR-262, a favela conhecida por Cidade de Deus, no bairro Dom Antônio Barbosa, em Campo Grande, abriga o drama diário de pessoas que sobrevivem do lixo.

Para os que moram ali e trabalham como catadores do aterro da Capital, a vida nunca foi fácil e o dinheiro sempre foi contato. Justificável ou não, o argumento usado para invadir uma área pública é de que o valor do aluguel apertava o orçamento no final do mês.

Cada lona montada abriga uma família e histórias de vidas. Muitas acabam se cruzando em relatos bastante parecidos, de pais que lutam para sustentar os filhos com uma renda mensal que dificilmente ultrapassa R$ 1 mil.

Na casa de Priscila Peres Romã, 26 anos, a única fonte de renda é o trabalho dela, para sustentar a mãe e um sobrinho. Há dois meses na cooperativa de reciclagem, ela conta que recebe por produção.

“Quando o mês rende dá para tirar uns R$ 800, mas quando chove muito, daí só tiro uns R$ 500”, comenta Priscila.

Antes, os três moravam em uma casa de três cômodos no bairro Dom Antônio Barbosa, onde Priscila pagava R$ 200 de aluguel. Mas na época, ela trabalhava em um frigorífico, e a renda mensal era de R$ 650, valor que ainda dividia entre contas de água, luz e alimentação.

“Nesse tempo minha mãe ficou doente, foi quando todas as contas atrasaram e eu decidi vir para cá, em um momento de desespero”, lembra Priscila. Mas ela admite que, apesar do desconforto do barraco, hoje a vida está melhor, porque pelo menos sobra um "troco" no final dos meses.

“Aqui a gente vivi de promessas, todo mundo promete, mas nunca cumpre, e ainda sofremos com o preconceito, mas não estamos aqui por opção, enfrentamos muitas dificuldades”, reclama Priscila.

(Foto: Cleber Gellio)
(Foto: Cleber Gellio)
Rosimeire é uma das moradoras da favela. Ela passa apuros com a família principalmente quando chove. A água entra tanto pelo chão quanto pelo teto do barraco (Foto: Cleber Gellio)
Rosimeire é uma das moradoras da favela. Ela passa apuros com a família principalmente quando chove. A água entra tanto pelo chão quanto pelo teto do barraco (Foto: Cleber Gellio)

Na rua detrás, em outro barraco improvisado de três cômodos, mora Rosimeire Cardoso de Freitas, 32 anos, com o marido e quatro filhos. Ela e o companheiro trabalham como catadores no Lixão de Campo Grande e a renda mensal da família é de aproximadamente R$ 800, contando já com o auxílio do Bolsa Família.

Há quase um ano, ela largou a casa onde morava e pagava R$ 350 de aluguel, para recomeçar a vida na favela. “Hoje sobre dinheiro para a gente ter outras coisas, mas em compensação, passamos muitos apuros aqui”, relata a catadora.

Os apuros aos quais ela se refere são os dias de chuva, quando os barracos são tomados pela água, que invade as casas tanto pelo teto quanto pelo chão. “Chove mais dentro do que fora e vira uma lama só, daí a gente tem que correr para salvar o máximo de coisas que conseguir”, conta Rosimeire.

Mas “entre trancos e barrancos”, tudo se ajeita de alguma forma. Hoje, ela, assim como a maioria dos moradores da Cidade de Deus, aguarda que o poder público olhe para a situação deles e cumpra as inúmeras promessas. “Falam que vão tirar a gente daqui, arrumar casa, ajudar, mas até agora nada”, comenta a catadora.

Filha de casal peruano. Família é um das centenas de família que mora na Cidade de Deus. (Foto: Cleber Gellio)
Filha de casal peruano. Família é um das centenas de família que mora na Cidade de Deus. (Foto: Cleber Gellio)
Ilda Patrícia com a filha caçula no colo (Foto: Cleber Gellio)
Ilda Patrícia com a filha caçula no colo (Foto: Cleber Gellio)

Imigrantes - Antes de chegar à favela em Campo Grande, o casal Ilda Patrícia Limachi, 26 anos, e José Luis Bobis Pacheco, 33 anos, saiu de Lima, no Peru, e foi para São Paulo. Porém, na metrópole brasileira os dois não encontraram as oportunidades que esperavam e resolveram buscar uma cidade menor.

Ilda e José têm três filhos pequenos, um de 2 ano e 6 meses e o outro de 1 ano e 3 meses, e ela ainda está grávida de 9 meses do terceiro. Para sustentar a família, eles vendem brinquedos em feiras pela cidade e conseguem ganhar, em média, R$ 150 por semana.

Eles admitem que a vida na “Cidade Morena” é melhor do que na “Cidade da Garoa”. “Lá é muito ruim para trabalhar, tem o rapa que sempre pega as nossas mercadorias”, reclama José Luis.

Contudo, o casal confessa que estão longe de onde imaginavam quando resolveram arriscar a sorte em outro país. Embora dos dois não paguem aluguel, água e luz, acreditam que todos que moram na Cidade de Deus querem um dia sair dali.

“Quando chove alaga tudo, as casas são muito quentes, sem contar o cheiro do lixo e a quantidade de moscas. Outra coisa que é ruim é que tem muito ladrão, é comum a gente voltar para casa e ela estar arrombada”, pontua Ilda Patrícia.

Em 2010, o então prefeito de Campo Grande, Nelson Trad Filho, construiu o conjunto José Teruel Filho, com 362 casas pela Emha (Agência Municipal de Habitação) para as pessoas que moravam na favela Cidade de Deus, e, por um tempo, os barracos foram extintos da região do bairro Dom Antônio Barbosa.

No entanto, novas famílias montaram barracos no local e a favela ressurgiu com tudo e volta a fazer parte do cenário de Campo Grande.

Moradores vivem em meio a lixo e a falta de estrutura. (Foto: Cleber Gellio)
Moradores vivem em meio a lixo e a falta de estrutura. (Foto: Cleber Gellio)
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