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Capital

Alvo da Omertà, pistoleiro entrou em contato com família 3 vezes após fuga

Juanil Miranda Lima é apontado como responsável por execuções atribuídas a organização criminosa

Marta Ferreira e Aline dos Santos | 21/10/2019 17:27
Autoridades estão oferecendo recompensa por informações dos executores. (Foto: Divulgação)
Autoridades estão oferecendo recompensa por informações dos executores. (Foto: Divulgação)

O caminho investigatório traçado até agora pela força-tarefa criada para achar os culpados pelas mortes atribuídas a grupo de extermínio atuante há pelo menos uma década em Campo Grande indica que os dois homens apontados como pistoleiros da organização criminosa prepararam juntos a fuga.

Os ex-guardas civis municipais Juanil Miranda Lima e José Moreira Freires, o Zezinho, não foram mais vistos depois de 9 de abril deste ano, data da execução por engano do estudante de Direito Matheus Coutinho Xavier, 20 anos, filho do verdadeiro alvo, o capitão da Polícia Militar Paulo Roberto Xavier. 

Pelo menos um deles, Juanil Miranda Lima, fez contato com a família por três vezes desde então, a última delas em julho, segundo revelou a filha dele, de 18 anos, em depoimento a promotores do Gaeco.

“Sufocada” pelo sumiço do pai, a jovem procurou o Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubo a Banco, Assalto e Sequestro) no mês de agosto, espontaneamente, para tentar localizar Juanil, “vivo ou morto”. Em pouco mais de meia hora de relato, ao qual o Campo Grande News teve acesso, diz que não fazia perguntas ao pai por medo, mas se mostra relativamente tranquila ao responder as perguntas.

A depoente afirma que Juanil sumiu, mesmo, depois do dia 23 de abril, quando ela, sem saber, o avisou de operação feita pela polícia em residência no bairro Moreninhas, onde foi localizado hacker contratado pelos dois pistoleiros para rastrear o capitão da Polícia Militar cuja morte havia sido encomendada. 

Como o pai frequentava o lugar, onde mora uma mulher com quem se relacionava, a menina afirma ter sido alertada da movimentação no local por meio de um parente e, na sequência, ligado para o pai e questionado se sabia daquilo. Ele não foi mais visto, diz. 

Depois, relata, o pai ligou para mãe dela, de quem é separado, por meio do celular de um advogado, identificado como “Almir”. Nessa oportunidade, determinou a retirada dos filhos e da atual mulher da casa onde viviam, por medo.  Em julho, conta, houve uma ligação de número aparentemente do Paraguai. 

Confira o vídeo, que teve imagem e voz distorcidas para proteger a imagem da depoente.

Ajuda – No depoimento aos promotores do Gaeco, a jovem afirma que no primeiro mês de desparecimento, chegou a ser entregue dinheiro para a atual mulher de Juanil e os irmãos dela, moradores em outra casa. Acredita que o emissário possa ter sido a esposa de “Zé”, como José Moreira Freires é chamado entre eles. 

Para a menina, um fato estranho foi o pai ter começado a ajudá-la financeiramente, coisa incomum.  A jovem diz que mais recentemente Juanil apareceu na casa dela, “do nada”, com um Corsa branco. 

Em trecho importante do depoimento, ela revela o que, na sua concepção,”ligou os pontos”, sobre a participação de Juanil nessa morte. Dias antes do crime, afirma, saiu com o pai para consertar o celular e ele passou de carro com ela em frente a um lava-jato próximo da casa da futura vítima.

No dia seguinte ao crime, ainda de acordo com o depoimento, o pistoleiro chegou a chorar, ao falar da idade dela, apenas um ano mais jovem que o rapaz morto por engano.

Confira no vídeo com mais um trecho do depoimento:

Gente grande – O depoimento da filha do pistoleiro também mostra que a família sabia do envolvimento dele com “coisas erradas”. Toda vez que precisava de dinheiro, diz a jovem, Juanil procurava o “Zé”, como era conhecido entre eles José Moreira Freires. A amizade entre eles e o pai era coisa de duas décadas, acredita.

Nas conversas da mãe com o pai, a jovem afirma que ele a ser questionado sobre o risco de parar na prisão e recebeu como resposta declaração confiante, de que isso não ocorreria. Conforme a jovem, Juanil falava que, ao contrário, iria ganhar muito dinheiro.

Na fala dela, o pistoleiro cita policiais e até “juiz” como envolvidos no grupo. Ela cita o nome “Jamil”, mas diz não saber se tratar de “juiz ou delegado”.

Confira o trecho:

Junto com as falas da mulher do ex-guarda civil Marcelo Rios, preso desde maio, quando foi pego com arsenal de guerra, as declarações da jovem são consideradas reveladoras para a investigação.

Apontados como os responsáveis por executar os desafetos do grupo, seja em assuntos de “negócio” ou pessoais, José Moreira Freires, 46 anos, e Juanil Miranda Lima, 43 anos, são considerados foragidoa. Ambos têm ordem de prisão expedida na Operação Omertá, que investiga 23 envolvidos no grupo de extermínio sob liderança, segundo o Gaeco, dos empresários Jamil Name, 80 anos, e Jamil Name Filho, 42 anos. Pai e filho foram transferidos no dia 12 de outubro para o presídio federal de segurança máxima em Campo Grande e tem ida prevista para unidade penal do tipo em Mossoró (RN).

Freires já é condenado a 18 anos de prisão pelo assassinato do delegado de Polícia Civil aposentado Paulo Magalhães, 57 anos, ocorrido no dia 25 de junho de 2013. O ex-guarda civil aguardava em liberdade a apelação contra a sentença, sendo monitorado por tornozeleira eletrônica, mas diante do desaparecimento desde abril, foi solicitada sua ida para o regime fechado. Juanil ainda não é réu por assassinato, embora seja identificado como assassino de aluguel da organização criminosa.

As autoridades estão oferecendo recompensa para quem tiver informações de Juani e de José Moreira Freires.

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