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Capital

Claquete e câmeras são “armas” nas mãos de alunos contra violência

Com oficina, garotada desenvolve várias habilidades emocionais e têm espaço para debater problemas

Anahi Zurutuza | 15/04/2023 07:45
Selton Antônio, de 11 anos, trocou aulas de dança pelas câmeras. (Foto: Alex Machado)
Selton Antônio, de 11 anos, trocou aulas de dança pelas câmeras. (Foto: Alex Machado)

Luz, câmera, ação! Há pouco mais de um ano, o jargão do cinema está na ponta da língua de alunos de uma escola pública da Capital. A claquete e as câmeras são as “armas” nas mãos dos adolescentes para enfrentar as dificuldades do cotidiano escolar, incluindo o bullying e a violência.

Na Escola Municipal João Evangelista Vieira de Almeida, localizada no Santo Amaro, bairro do noroeste de Campo Grande, a oficina de audiovisual faz sucesso e os debates propostos pelo professor Bruno Godoy, no contraturno das aulas, contaminam toda a comunidade escolar. “O que eles tratam lá vai parar na sala de aula e acaba sendo propagado para toda a escola”, explica a diretora Mariluce Cavalheiro, lembrando que o resultado do primeiro ano do projeto foi tão bom, que a gestora pediu bis para 2023.

No ano passado, depois das aulas teóricas sobre as linguagens audiovisuais, passando, por exemplo, pelas noções básicas de fotografia, cinema e animação, com pitadas práticas de ângulo, luz, enquadramento, os estudantes partiram para os “sets de filmagem” e locações, aproveitando os espaços da escola e se revezando na frente e atrás das câmeras, nas funções de roteirista, diretor, apresentador e cinegrafista de um documentário.

Dia de aula na biblioteca com alguns dos alunos da oficina de audiovisual. (Foto: Alex Machado)
Dia de aula na biblioteca com alguns dos alunos da oficina de audiovisual. (Foto: Alex Machado)

O tema do filme foi escolhido em votação, depois que lista foi montada a partir dos assuntos trazidos pela turma para a oficina e imagine só: a gurizada escolheu falar sobre violência nas escolas e bullying. “Tudo começa nas nossas rodas de conversa, de acordo com a realidade deles. Durante as reuniões, eles começam a conversar sobre algum problema e a gente vai anotando. Depois de escolhido o tema, vem a pesquisa, leitura de notícias, o levantamento de dados e a montagem do roteiro”, detalha Bruno, que é formado em Artes Visuais e tem pós-graduação em linguagem audiovisual.

O documentário de 5 minutos foi planejado, gravado e editado pelos alunos, que têm de 11 a 14 anos, com direito a trecho em stop motion (técnica de animação que usa fotos para a montagem das cenas) e making off (erros de filmagem e bastidores).

Aluna posicionando boneco de massinha para cena de stop motion. (Foto: PMCG/Divulgação)
Aluna posicionando boneco de massinha para cena de stop motion. (Foto: PMCG/Divulgação)

O que ninguém imaginava é que ao estudar o tema, boa parte da turma se identificaria como vítima de bullying. “A maioria aqui já passou por uma situação. A gente foi contando para o professor ao longo do ano. Foi muito bom, porque o professor ajudou a gente, até psicologicamente. E esse documentário foi muito legal pra gente mostrar pros agressores como que quem sofre o bullying se sente”, afirma Ana Rute Fernandes, de 13 anos.

Os trabalhos ao longo do ano também ajudaram os alunos a desenvolverem habilidades emocionais, como perder a timidez, por exemplo, o que segundo Mariluce foi um ganho importantíssimo para os alunos que sequer abriam a boca em sala de aula.

A vergonha em excesso pode fazer a gurizada “engolir” os sentimentos, reflete a diretora. E dar voz aos problemas antes que o estudante tente resolvê-lo com uma atitude explosiva, por exemplo, acaba sendo uma das essências do projeto, uma vez que entre números e letras, na sala de aula, muitas vezes não há tempo hábil para debater temas mais subjetivos.

À esquerda, Ana Rute, uma das apresentadoras do documentário sobre bullying. (Foto: Alex Machado)
À esquerda, Ana Rute, uma das apresentadoras do documentário sobre bullying. (Foto: Alex Machado)

No fim do ano passado, o filme foi para em tela no Teatro Glauce Rocha, arrancando aplausos da plateia do Feac (Festival de Arte e Cultura) da Reme (Rede Municipal de Ensino) e o orgulho do professor Bruno, além de arrebanhar novos adeptos à oficina, como o aluno Selton Antônio, de 11 anos. “Eu vi o vídeo e achei muito interessante. Eu gosto de mexer com tecnologia e por isso me interessei”, conta, lembrando que deixou as aulas de dança urbana para se dedicar às câmeras.

A Escola João Evangelista ainda disponibiliza oficinas de judô e tênis de mesa, oferecidos pela Geac (Gerência de Esporte, Arte e Cultura) da Semed (Secretaria Municipal de Educação).

O cenário – Com o bom exemplo da unidade da Reme no Santo Amaro, o Campo Grande News abre neste sábado (14) série de matérias sobre a cultura da paz nas escolas, em semana que o medo se instalou nas comunidades escolares.

As polícias Militar e Civil de Mato Grosso do Sul já receberam 60 denúncias de perfis nas redes sociais fazendo apologia a ameaças de ataques em escolas e tenta combater as fake news. Os alarmes falsos começaram a ser relatados depois do massacre na creche em Blumenau (SC).

Efeito contágio – O Campo Grande News optou por não detalhar as supostas ameaças e nem expor as escolas que tiveram problemas para não contribuir com o “efeito contágio”.

Na semana passada, veículos de comunicação de todo o Brasil anunciaram mudanças nos protocolos de cobertura de ataques em escolas, baseados em recomendações de estudiosos em comunicação e violência. Ao exibir imagens e contar a história do agressor, a mídia pode favorecer a proliferação de ataques a escolas e creches, por exemplo. O que esses assassinos buscam, dizem estudos, é a notoriedade instantânea, sem se importar com as consequências.

Confira a galeria de imagens:

  • Fotos: Alex Machado.
  • Campo Grande News
  • Stop motion na tela. (Foto: Alex Machado)
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  • Produção de bonecos de massinha para stop motion. (Foto: PMCG/Divulgação)
  • Turma do ano passado. (Foto: PMCG/Divulgação)
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