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JULHO, QUARTA  16    CAMPO GRANDE 28º
Da “época de ouro” à decadência, Centro de Campo Grande resiste é na simpatia

Capital

Da “época de ouro” à decadência, Centro de Campo Grande resiste é na simpatia

“A Rua 14 de Julho tinha fama, brilho, glamour”, rememora dona de butique

Por Aline dos Santos | 16/07/2025 12:42


Da “época de ouro” à decadência, Centro de Campo Grande resiste é na simpatia
Mário aproveitou ida ao Centro para engraxar os sapatos com André. (Foto: Henrique Kawaminami)

RESUMO

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O Cine Alhambra, inaugurado em 1937 na Avenida Afonso Pena, simbolizava o progresso de Campo Grande, mas foi demolido em 1987, refletindo a transformação da cidade. O comércio central, que antes pulsava com vida, enfrenta desafios, como a migração para os bairros e a falta de segurança, agravada pela pandemia. Lojas tradicionais, como a Ótica Seiko, resistem, mas enfrentam dificuldades devido a mudanças urbanas e à descentralização do comércio. A vice-presidente da ACICG, Sidney Volpe, lamenta a perda do glamour da Rua 14 de Julho e destaca a necessidade de ações para revitalizar a área central, que atualmente sofre com o abandono e a presença de problemas sociais.

De um passado em preto e branco, surge o Cine Alhambra, na Avenida Afonso Pena. No meio da rua,  uma carroça leva anúncio da “Casa Pernambucanas”, que prometoa economia e “óptimos tecidos”.  Na fachada do cinema, o letreiro convida: “Hoje Culpa do Divórcio”.

Em 1939, o crescimento dessa parte do então Mato Grosso (MS foi criado em 1977) era destaque no Jornal do Comércio, como resgata a publicação “Registro na História”, que conta os 90 anos da ACICG (Associação Comercial e Industrial de Campo Grande”. O texto trazia uma foto da fachada do cinema, inaugurado em 1937, com capacidade para 1.100 poltronas e um claro “attestado de progresso” da pulsante cidade.

Era o tempo dos “formosos palácios”, como eram chamadas as edificações no Centro de Campo Grande. Em 1987, o Alhambra foi demolido, o tempo passou, a cidade cresceu, o comércio migrou para os bairros, os ricos se mudaram para os residenciais e a região central conheceu o esquecimento.

Mas, mesmo num cenário de desafio, o Centro resiste é na simpatia. Ainda que numa escala muito menor, a região “pulsa”. Seja na música que transborda das lojas para a calçada, que para alegria ou desespero dos passantes toca do mais novo sucesso sertanejo ao pop; nos incessantes convites dos vendedores para o cliente fazer sua comprinha; ou nos clássicos. Como encontrar o engraxate André Luiz Ferreira exercendo seu ofício, tal qual já fazia no final da década de 80.

Da “época de ouro” à decadência, Centro de Campo Grande resiste é na simpatia
O engraxate André e o ex-prefeito Lúdio Coelho no fim da década de 80. (Foto: Roberto Higa)

Desta vez, o cliente não é o ex-prefeito Lúdio Coelho, um dos políticos mais influentes de MS e que faleceu em 2011. O registro histórico foi eternizados pelo fotógrafo  Roberto Higa. Mas é com o mesmo esmero que trabalha para polir os sapatos de Mário Santos, 69 anos, consultor de telefonia.

Vindo de São Paulo e há 18 anos em Campo Grande, Mário mora no Bairro Vilas Boas e costuma ir ao Centro por motivos profissionais. A opção por engraxar é para deixar o sapato bonito. Já a opção de passear pela área central tem uma dose de saudosismo, um reencontro com época que era comum ver pipoqueiros e engraxates pelas esquinas.

Da “época de ouro” à decadência, Centro de Campo Grande resiste é na simpatia
Cezar Nogueira tem loja há 39 anos na Rua 14 de Julho, Centro da cidade. (Foto: Henrique Kawaminami)

Relógios, óculos e clientela fiel - Passar pela porta da Ótica Seiko, onde sempre tem um funcionário para das boas-vindas, é visitar uma das lojas mais longevas da Rua 14 de Julho. Já são 39 anos em atividade, perto da Afonso Pena. No comando, está Cezar Nogueira, 57 anos.

Em meio a relógios e armações de óculos, os clientes, um público fiel, são conhecidos pelos nomes. Nessas quase quatro décadas na 14, o comerciante conta que amargou prejuízo com as regras do Cidade Limpa, quando foi obrigado a trocar a fachada.

“Você gastou dinheiro naquela época e hoje os caras chegam e fazem o que quer. Na época, tinha gastado R$ 50 mil na minha fachada e tive que jogar fora para botar uma de um metro quadrado e com autorização da prefeitura”, diz o comerciante. Mas, para ele, o pior foi a revitalização da 14 de Julho, obra que durou 18 meses, entre maio de 2018 e novembro de 2019.

Da “época de ouro” à decadência, Centro de Campo Grande resiste é na simpatia
Fachada da Ótica Seiko, com tradicional relógio. (Foto: Henrique Kawaminami)

“Essa revitalização acabou com o Centro. As pessoas se afastaram e tem a descentralização, que é um fenômeno da cidade que vai crescendo. O cara que acostuma vir ao Centro, chega e não consegue estacionar. Eu mesmo tenho dois convênios de estacionamento. Tenho que bancar, não tem como, é um investimento”, destaca Cezar.

Ele credita a vida longa da loja a atendimento e preço competitivo. Mas logo um cliente também se manifesta: “e qualidade”. O comerciante conta que atende gerações de uma mesma família.

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Movimentação no Centro de Campo Grande. (Foto: Arca)

“E você tem que conseguir cativar essa nova geração. Porque os tempos mudam. Tem que falar a língua do novo. E tenho visto que o pessoal está desengavetando os relógios”, lembra Cezar.

Se passa a semana toda no Centro, aos domingos, o comerciante usa o transporte coletivo para passear pelos bairros. “Vou interagir. Chego nos bairros, ando. Domingo eu tiro para andar de ônibus”.

A arte do comércio Cezar aprendeu trabalhando por 50 anos ao lado do pai, que teve relojoarias na 14 de Julho, Calógeras e Terminal do Oeste (na antiga rodoviária).

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Fachada do Cine Alhambra, inaugurado em 1937 na Avenida Afonso Pena. (Foto: Reprodução)

A época de ouro – “A 14 de Julho era símbolo de elegância. Uma referência de comércio. Todas as pessoas, de todas as cidades, vinham para a 14 de Julho”, afirma Sidney Volpe, que é vice-presidente da ACICG (Associação Comercial e Industrial de Campo Grande).

Por quase 40 anos, ela manteve a butique de roupas femininas Doce Delírio de portas abertas na principal rua comercial do Centro. Mas migrou para a Rua Antônio Maria Coelho, no Jardim dos Estados.

Da “época de ouro” à decadência, Centro de Campo Grande resiste é na simpatia
 Sidney Volpe é vice-presidente da Associação Comercial de Campo Grande. (Foto: Paulo Francis)

Fazia até desfile na 14 de Julho. Na época de Natal, era a coisa mais linda. A rua tinha vida, era um orgulho trabalhar ali. Essa época deixou muitas saudades. Fico muito entristecida de ver a 14 desse jeito. Tinha fama, brilho, glamour”, rememora a empresária Sidney Volpe.

Para ela, a agonia do comércio de rua começou na pandemia, em 2020. “Os proprietários não quiseram abaixar o valor dos alugueis e muita gente deixou o Centro. Passada a pandemia, o comercio enfraqueceu muito ali. Falta segurança”, diz.

Desta forma, surge um cenário com tráfico de drogas, dependentes químicos e imóveis fechados. Ela destaca que a associação mantém diálogo com a prefeitura para que a região central receba ações que consigam reverter o abandono.

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Réplica do Relógio da 14 agora tem marcador digital. (Foto: Henrique Kawaminami)

Bar em casa de 99 anos – Parte da 14 de Julho de 2025 se firma em uma nova modalidade de negócios: os bares que movimentam a noite do Centro. Estreante no comércio, Kayky Sanches, 31 anos, inaugurou o Má.donna há um ano.

“E com certeza, eu faria tudo de novo. O que me motivou a abrir o bar foi o movimento que vi se iniciando ali. Vi o potencial da 14 de Julho, toda revitalizada e principal rua comercial de Campo Grande. Tinha tudo para dar certo”, afirma.

A escolha foi por um imóvel de 99 anos. “Ele tinha fechado na pandemia e estava há anos para alugar. Não foi fácil, porque é bem antigo e precisa de reparos constantes. Mas sempre quis preservar a identidade do Centro da cidade”.

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Estreante no comércio, Kayky Sanches abriu bar há um ano na Rua 14 de Julho. (Foto: Arquivo Pessoal)

O bar funciona de segunda a segunda. “O Centro era mais perigoso quando não tinham os bares. Só tinha dependentes químicos e andarilhos. Agora a rua é ocupada por público indo a barzinho, indo se divertir”, afirma Kayky.

Numa nada velada “disputa” com o comércio diurno, ele detalha que cada estabelecimento faz limpeza da calçada durante a madrugada. Já quem trabalha no local de dia diz que precisa fazer faxina caprichada diante de lixo e forte odor de urina.

Segundo Kayky, quem não faz a limpeza são os ambulantes, que nem tem regulamentação para vendas na 14 de Julho.

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Rua 14 de Julho e o relógio original. (Foto: Arca)

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