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Capital

Em carta para juiz, Nando diz que foi torturado para confessar assassinatos

Luiz Alves Martins Filho é apontado como líder de grupo de extermínio que matou 16 pessoas em Campo Grande

Anahi Zurutuza | 24/07/2017 16:06
Nando, numa das vezes que foi levado ao local onde corpos estavam enterrados (Foto: Polícia Civil/Divulgação)
Nando, numa das vezes que foi levado ao local onde corpos estavam enterrados (Foto: Polícia Civil/Divulgação)
Trecho da carta onde Luiz Alves Martins Filho descreve suposta sessão de tortura (Foto: Reprodução)
Trecho da carta onde Luiz Alves Martins Filho descreve suposta sessão de tortura (Foto: Reprodução)

Apontado pela Polícia Civil como dono de um “cemitério particular” em Campo Grande, Luiz Alves Martins Filho, o “Nando”, alega que sofreu tortura física e psicológica para confessar os 16 assassinatos atribuídos a ele. Ele ainda acusa outro homem, que segundo a Polícia Civil, seria um dos integrantes do grupo de extermínio que atuava na região bairro Danúbio Azul.

Na carta, escrita com a ajuda de um companheiro de cela, Nando relata que quando foi preso, no dia 10 de novembro do ano passado, policiais usaram uma sacola plástica para asfixiá-lo e lhe deram choque para fazer com que ele falasse sobre os homicídios que estava sob investigação.

O acusado dos assassinatos em série conta que depois da suposta sessão de tortura na delegacia, ele foi levado para um local deserto, onde continuou apanhando e sofrendo ameaças.

“Manuziarão (sic) a pistola na minha cabeça, o tempo todo me batendo e me ameaçando de morte”, diz um trecho da carta. Ele completa: “mandarão (sic) eu correr com objetivo (sic) de me matar”.

Escavações no cemitério clandestino (Foto: Arquivo)
Escavações no cemitério clandestino (Foto: Arquivo)

‘Foi o Vasco’ – Nando acusa Jeová Ferreira Lima, conhecido como “Vasco” e que chegou ter a prisão temporária decretada por ser suspeito de integrar o grupo de extermínio, de ser o dono do cemitério clandestino no Jardim Veraneio, onde a polícia encontrou 13 ossadas.

Ele argumenta ainda que soube mostrar onde as vítimas dos homicídios foram enterradas porque Vasco teria mostrado a ele.

Gravação – Na carta, Luiz Alves Martins alega ainda ter uma gravação de uma conversa com um policial civil que investigava outros crimes no Danúbio Azul. O áudio de uma câmera que ficou ligada e no bolso da calça dele serviria de prova da tentativa de Nando de denunciar o desaparecimento de pessoas e assassinatos no bairro.

Saúde A carta foi escrita por um detento que não se identifica, mas diz que Nando não sabe escrever. O interno relata ainda os problemas de saúde do companheiro de cela, que ele precisa de atendimento médico e que está em depressão.

Nando tem uma cistostomia – abertura na bexiga para introdução de catéter para coleta da urina. Por conta do problema, a Defensoria Pública pediu no dia 7 de julho que a prisão preventiva do acusado seja substituída pela prisão domiciliar.

Nos relatos para justificar o pedido, o defensor informa que, ao invés de dormir no colchão e com cobertores – no caso das noites frias –, Nando está dormindo sobre pedaços de papelão, já que há secreção vazando pela abertura de cistostomia feita na bexiga dele, onde é introduzido catéter para coleta de urina.

A urina e pus faz com que o mau cheiro seja constante e que ele tenha de limpar a cela onde está três vezes ao dia, além de lavar mais de seis peças de roupa diariamente.

Algumas das vítimas, segundo a polícia, teriam sido mortas por Nando (Foto: Reprodução)
Algumas das vítimas, segundo a polícia, teriam sido mortas por Nando (Foto: Reprodução)

Primeira denúncia – Na audiência de custódia, em novembro do ano passado, Nando já havia dito à juíza Liliana de Oliveira Monteiro que tortura. Na ocasião, ele disse que “os policiais colocaram um saco plástico em sua cabeça e ameaçaram colocar droga em sua casa”, constou na ata da sessão.

Na época, a magistrada pediu que a denúncia fosse investigada.

A reportagem tentou contato com o defensor de Nando para saber se ele pediu providências com base no conteúdo da carta, mas ele estava em audiência e por isso, só poderia atender no fim da tarde.

O delegado-geral Marcelo Vargas informou não saber sobre a carta, mas que falaria com a Corregedoria da Polícia Civil.

O Campo Grande News também pediu uma posição do juiz que recebeu a carta e da Corregedoria, via assessoria de imprensa, mas até o fechamento da matéria não havia recebido retorno.

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