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Capital

Igreja e Justiça se únem para famílias acolherem crianças que vivem em abrigos

Campanha lançada este mês pelo Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul e Arquidiocese quer aumentar número de participantes

Maressa Mendonça | 26/05/2020 14:09
Criança brinca em um dos abrigos mantidos em Mato Grosso do Sul. (Foto: Arquivo Campo Grande News)
Criança brinca em um dos abrigos mantidos em Mato Grosso do Sul. (Foto: Arquivo Campo Grande News)

Em Campo Grande, duas famílias já abriram as portas e o coração para receberem temporariamente crianças que foram retiradas das famílias biológicas por conta de violência ou abandono. Mas com a pandemia da covid-19 aí, projeto luta para ampliar o número de voluntários.

A ação é parceria do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, prefeituras e Arquidiocese, como força de garantir proteção maior do que receberiam se estivessem em abrigos, enquanto a justiça determina se voltarão para a família de origem ou se poderão ser adotadas.

As “Famílias Acolhedoras” recebem as crianças por um tempo determinado e sabem que o projeto não tem a ver com adoção, mas com acolhimento temporário. Quem participa não costuma se arrepender. "Tem muitas crianças precisando que cuide delas. Me perguntam, mas você vai ter que devolver? Eu respondo que sim. Elas não são minhas. Elas fazem mais bem para a gente do que a gente para elas", declara a aposentada Maria Belina, de 64 anos, que faz parte do projeto desde 2018.

Advogada Bianca Borges explica funcionamento do projeto "Família Acolhedora" (Foto: Paulo Francis)
Advogada Bianca Borges explica funcionamento do projeto "Família Acolhedora" (Foto: Paulo Francis)

Em dois anos, três crianças já passaram pela casa da família.  A gente não pensa no dia que eles vão embora", conta. A aposentada defende que o diferencial do acolhimento nas casas é justamente esta atenção. “No abrigo não falta comida, não falta roupa para elas. Mas quando chove, cai um trovão os nossos filhos correm para nossa cama. E eles?”, questiona.

A família não nega que o momento da despedida é difícil, mas reforça que mesmo assim vale a pena. “Dói, mas é bom saber que de repente estão voltando para a família delas, para a origem ou então indo para outras famílias. Tem criança que nunca mais vai lembrar de mim porque veio muito pequenininha, mas isso não importa”.

Um casal de produtores rurais também faz parte do projeto. A mulher de 50 anos conversou com a reportagem do Campo Grande News, mas pediu para não ter o nome divulgado. Ela conta ter recebido a primeira criança em junho do ano passado, outras duas vieram depois e desde então todos os parentes estão envolvidos no processo de acolhimento.

“Não estou saindo por causa do corona. Então meus filhos de 22 e 28 anos vão comprar roupinhas e fraldas”, conta. Ela também reforça que o momento da despedida não é dos mais fáceis, mas nada que não seja superável. “No começo dói, mas é maior que eu o sentimento de fazer alguma coisa. Saber que deixou uma sementinha de amor. Isso basta”.

Crianças têm brinquedos disponíveis em abrigos, mas acolhimento em ambiente familiar é mais eficiente (Foto: Arquivo/Campo Grande News)
Crianças têm brinquedos disponíveis em abrigos, mas acolhimento em ambiente familiar é mais eficiente (Foto: Arquivo/Campo Grande News)


O processo - A advogada da Família Acolhedora, Bianca Borges explica que para participar do projeto basta ir até o Fórum preencher um cadastro ou ligar para o número (67) 98462-8245.

Dentre os critérios analisados, o de a família não ter interesse em adoção e também não depender exclusivamente da renda ofertada para a família acolhedora. Isto porque quem acolhe recebe um salário mínimo por mês para atender as necessidades básicas da criança.

Também é preciso ter uma casa em condições de receber o menino ou menina. "Não precisa ser rico, pode ser solteiro, não pode ter antecedentes criminais. São alguns requisitos básicos", comenta a advogada. Após esse processo a família acolhedora participa de palestras e recebe visitas de assistentes sociais.

A família de origem também passa a ser acompanhada para saber se poderá receber a criança de volta.

“Em um abrigo familiar, a criança desenvolve mais que  em um abrigo comum porque tem atendimento personalizado, mais afeto, uma educação mais personalizada. Em um abrigo isso não é possível porque são várias crianças”, finaliza a advogada ao comentar sobre as vantagens do projeto. “Quanto mais família a gente cadastrar, mas criança a gente tira do abrigo”, finalizou.

A juíza Katy Braum, titular da Vara da Infância, Juventude e do Idoso de Campo Grande comenta que Camapuã é a cidade do estado com maior experiência no tema, onde o projeto ocorre há 15 anos. "Lá não tem abrigo, somente famílias acolhedoras".

Segundo ela, as famílias acolhedoras podem ficar com, no máximo, duas crianças por vez. Em relação ao processo de despedida, ela comenta que há um trabalho de transição. "As famílias acolhedoras mantém contato com a família da criança depois", diz.

Para a juíza, o projeto só tem benefícios. "Ser bem amado e amar nos ensina a ter o coração aberto. Lembra da sua primeira professora? Provavelmente você a amava, mas superou a separação quando passou de ano e guarda o carinho daquela relação até hoje", disse.

Mato Grosso do Sul tem 56 famílias acolhedoras após 18 anos do início do projeto, em Camapuã. A maior parte dos participantes vive em Dourados, com 16 voluntários no total.

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