No grupo de risco, necessidade tira idosos de casa em busca de sustento

Alexandre Brites, 90 anos. Armando Ibrahim, 75 anos. Juracy Sobrinho, 64 anos. Três idosos, pertencentes ao grupo de risco e que deveriam estar em casa, protegidos do novo coronavírus. Mas, a necessidade de conquistar ou aumentar a renda não permite que o trio desfrute do “luxo” de ficar em isolamento. É na rua e no comércio de Campo Grande que ambos dedicam longas horas do dia ao trabalho.
“Tenho que aproveitar enquanto tenho saúde”, orgulha-se o experiente Alexandre, de 90 anos, que apesar de aposentado precisa se arriscar para faturar dinheiro extra.
“Só de aluguel são R$ 400 em uma peça para dormir, fora a comida”, comenta ao citar parte de seus gastos mensais.

Sem familiares na Capital, as pessoas mais próximas ao idoso estão a cerca de 900 quilômetros daqui, em São Paulo (SP). Atualmente, o idoso trabalha em ruas do Centro, como cuidador de veículos.
Quando questionado se existe o medo da contaminação pelo coronavírus, que já infectou mais de mil pessoas, em Mato Grosso do Sul (1.100 para ser mais exato - conforme último balanço divulgado pela SES, Secretaria de Estado de Saúde), o “não” tímido, logo se torna dúvida. “Mas minha máscara está sempre aqui”, garante.

Outro que precisa enfrentar a multidão que circula diariamente pelo comércio central é ‘seo’ Armando. No auge dos seus 75 anos, o vendedor ambulante até ficou um bom tempo em casa, ou melhor, na casa do sogro de seu filho, onde vive atualmente, mas a necessidade também fez o idoso voltar para as ruas.
“Eu não tenho mais dinheiro, então não tenho o que fazer. Fiquei dois meses parado, mas agora preciso”, explica Armando, que há 8 anos mora em Campo Grande. A reportagem, o idoso afirmou ainda, receber benefício do Governo, mas deixou claro que o valor não é suficiente.
“Tem aluguel, médico, comida”, justifica. “Quando eu vendo, ajudo eles”, diz referindo-se ao casal, também de idosos, com quem mora atualmente.
Ganha pão – Entre as pessoas do grupo de risco que precisam deixar a segurança do lar para trabalhar está o comerciante Juracy, de 64 anos. É da loja de linhas, na Avenida Calógeras, que o trabalhador tira o sustento do mês. Ao lado da esposa, também com mais de 60 anos, ele afirma não ter alternativa.
“Temos contas para pagar, então não tem como parar”, garante. Apesar disso, o trabalhador não deixa os cuidados com a saúde de lado. “Procuramos se precaver e vamos tocando o barco. Fazemos a higienização das mãos, uso de máscaras e também álcool em gel”, justifica.
