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Capital

Preso pela Lama Asfáltica diz que não virou fazendeiro da noite para o dia

Jodascil da Silva Lopes estava foragido desde quinta-feira, se apresentou nesta segunda-feira e continua preso

Anahi Zurutuza e Adriano Fernandes | 15/05/2017 19:31
Andréa Flores, advogada de Jodascil dá entrevista ao sair da sede da PF (Foto: Adriano Fernandes)
Andréa Flores, advogada de Jodascil dá entrevista ao sair da sede da PF (Foto: Adriano Fernandes)

Jodascil da Silva Lopes, o quarto preso na 4ª Fase da Operação Lama Asfáltica, passou pelo menos cinco horas prestando depoimento após se apresentar à Polícia Federal na tarde desta segunda-feira (15). Dentre os pontos destacados pelo pecuarista e ex-servidor do Estado aos policiais, segundo a defesa dele, é de que ele não virou fazendeiro da noite para o dia.

A advogada dele, Andréa Flores, afirmou à imprensa ao deixar a sede PF em Campo Grande que o cliente continuará preso pelo menos por esta noite.

Ela já tentou, sem sucesso, a revogação da prisão na sexta-feira (12), um dia depois que a força-tarefa da Lama Asfáltica prendeu três pessoas, levou nove para depor e vasculhou 32 endereços em busca de documentos que comprovem a existência de organização criminosa que desviou milhões dos cofres públicos. Outro pedido de liberdade, entretanto, será feito, segundo a defensora.

Policial federal durante buscas em repartições do governo (Foto: Marina Pacheco)
Policial federal durante buscas em repartições do governo (Foto: Marina Pacheco)

Livros – Lopes foi funcionário da SED (Secretaria de Estado de Educação) em 2014, último ano do governo de André Puccinelli (PMDB), e é responsável pelo parecer para a compra sem licitação de 100 mil livros da Gráfica e Editora Alvorada, aquisição que segundo a investigação faria parte de esquema para “lavar” dinheiro.

Para os investigadores, a compra, feita no apagar das luzes do governo de Puccinelli, foi desnecessária e por isso, suspeita. A maior parte – cerca de 80 mil exemplares – das cinco obras paradidáticas foi encontrada na secretaria durante busca e apreensão no ano passado, o que segundo a força-tarefa seria mais uma evidência de que a compra teria ocorrido para mascarar lavagem de dinheiro.

Segundo relatório da CGU (Controladoria-Geral da União), somente em dezembro de 2014, a Editora Alvorada recebeu R$ 11.224.625,00, sendo R$ 5,5 milhões no dia 30, penúltimo da gestão anterior.

Consta no Portal da Transparência do Governo do Estado, que Jodascil exerceu a função de coordenador na SED de agosto a novembro de 2014, com salário de R$ 4.175,63.

Ele ainda é alvo de inquérito do MPE (Ministério Público Estadual) desde 2015. A promotoria apura suposto tráfico de influência, corrupção ativa e desvio de dinheiro público, irregularidade que teriam acontecido em uma licitação de kit escolar para alunos da rede estadual realizada 2010, de acordo com os autos da investigação.

Documentos apreendidos durante buscas e apreensões (Foto: Marina Pacheco)
Documentos apreendidos durante buscas e apreensões (Foto: Marina Pacheco)

Fazendas – A propriedade rural JL, localizada em Porto Murtinho e que pertence a Jodascil Lopes, foi um dos locais vasculhados pela PF no dia 11 de maio.

Para a investigação ele tem movimentação financeira atípica, o que seria indicativo ou de que foi beneficiado com o esquema ou que seria “laranja”.

A advogada dele afirma que, entretanto, o cliente é pecuarista desde 2000 e dono de três fazendas em Mato Grosso do Sul há onze anos. Ela acrescentou que em 2016 Jodascil tinha 3 mil cabeças de gado. “Não virou fazendeiro depois que assumiu o cargo no governo”.

Os dados sobre a movimentação financeira, que segundo Andréa inocentam o cliente foram apresentados nesta segunda-feira para o delegado da PF que conduziu o depoimento de Jodascil, serão digitalizados e entregues depois para constarem no inquérito.

O pecuarista nega qualquer envolvimento no esquema.

A defensora afirmou ainda que Lopes só não se apresentou antes porque no dia da operação estava em uma de suas fazendas, na região de Jardim – a 233 km de Campo Grande – e que o local estava sem energia elétrica. Um familiar dele foi até a propriedade no fim de semana para avisá-lo, completou a advogada.

Família – Além de Jodascil, a mulher dele, Maria Aparecida Gonçalves Lopes, foi alvo da 4ª fase da Lama Asfáltica. Ela foi levada para depor no dia 11 de maio.

O filho do fazendeiro, Jodascil Gonçalves Lopes, é advogado em Campo Grande, que junto com Andréa Flores – a advogada da família – escreveu livro organizado por André Puccinelli Júnior.

Movimentação de policiais na quinta-feira (11) (Foto: Marina Pacheco)
Movimentação de policiais na quinta-feira (11) (Foto: Marina Pacheco)

Operação – Antes das 6h do dia 11 de maio, a Polícia Federal saiu às ruas de Campo Grande e mais cinco cidades para prender três pessoas.

No Estado, naquele dia, equipes comandadas pela força-tarefa cumpriram dois dos três mandados de prisão e um dos alvos, Jodascil da Silva Lopes, foi considerado foragido. Foram presos André Luiz Cance, ex-secretário de Estado de Fazenda, e Mirched Jafar Júnior, dono da Gráfica e Editora Alvorada.

Dentre os alvos de mandados de condução coercitiva – quando a pessoa é obrigada a ir até a sede da PF para depor – estavam o ex-governador André Puccinelli (PMDB) e o filho dele.

A Lama Asfáltica, deflagrada em 2015 com base em investigações que começaram em 2013 e sobre o período de 2011 a 2014, apurou que a organização criminosa causou prejuízo de aproximadamente R$ 150 milhões aos cofres públicos, por meio de fraudes de licitações, desvio e lavagem de dinheiro.

Os investigadores – da PF, CGU (Controladoria-Geral da União) e da Receita Federal – estão em busca, justamente, do rastro do montante milionário que teriam sido desviados.

A quarta etapa da operação foi batizada de Máquinas de Lama porque investigadores apuraram que parte dos pagamentos de propina era feitos por meio do aluguel de maquinário. Outras fases foram nomeadas Fazendas de Lama e Aviões da Lama.

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