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Capital

PRF diz não ser “Chuck Norris” do tiro e que camionete era arma de vítima

"O Adriano tomou uma atitude drástica contra a minha vida. A partir do momento que acelerou a caminhonete contra mim", diz policial durante julgamento

Aline dos Santos | 11/04/2019 12:53
Ricardo Moon, que responde a processo em liberdade, é julgado nesta quinta-feira. (Foto: Marina Pacheco)
Ricardo Moon, que responde a processo em liberdade, é julgado nesta quinta-feira. (Foto: Marina Pacheco)

Réu pela morte de um empresário após briga de trânsito, o policial rodoviário federal Ricardo Hyn Su Moon, 49 anos, minimizou a fama de campeão de tiro e relatou ter agido em defesa legítima diante da vítima Adriano Correia Nascimento, que, em suas palavras, estava armado com uma caminhonete de duas toneladas.

“O Adriano tomou uma atitude drástica contra a minha vida. A partir do momento que acelerou a caminhonete contra mim, me senti com perigo de ter a minha vida ceifada. O Adriano estava armado com uma caminhonete de duas toneladas. Fui vítima de uma tentativa de homicídio”, afirma Moon, que foi ouvido por uma hora durante o julgamento, que acontece nesta quinta-feira (dia 11), em Campo Grande.

Com voz calma e poucos movimentos, como pôr e tira os óculos, Ricardo Moon deu sua versão sobre a madrugada de 31 de dezembro de 2016, um sábado e último dia daquele ano. A Hilux conduzida por Adriano e o Mitsubishi Pajero, onde estava o policial, se cruzaram na avenida Ernesto Geisel. Depois de uma fechada de trânsito, o policial rodoviário federal conta que estranhou a caminhonete ter mudado de faixa e se posicionado atrás do seu veículo enquanto aguardava no semáforo vermelho.

Ricardo seguia para a rodoviária de Campo Grande, onde prosseguiria de ônibus até o trabalho, em Corumbá. “Estava escuro, deserto. Saí do carro para não ficar de costas para o perigo. Ele não precisava ter mudado de faixa”, diz.

Ele afirma ter se identificado como policial e pedido para que os três ocupantes da caminhonete mostrassem as mãos. Mais perto, disse que verificou estado de embriaguez do trio e decidiu chamar a PM (Polícia Militar). O policial conta que não poderia simplesmente ir embora, sob o risco de incorrer em crime de prevaricação, diante de um condutor embriagado ao volante.

O PRF conta que Adriano queria ir embora e acelerou em sua direção, quando ele se postou À frente da Hilux para fazer uma fotografia da placa usando o celular. Num primeiro momento, segundo Moon, a caminhonete encostou em suas pernas e ele caiu sobre o capô. Depois, disse que houve uma nova investida e que reagiu a tiros.

Fotografia da perícia mostra trajetórias dos disparos dentro da caminhonete da vítima. (Foto: Marina Pacheco)
Fotografia da perícia mostra trajetórias dos disparos dentro da caminhonete da vítima. (Foto: Marina Pacheco)

Funcional, tiros e pneu – O policial afirma que foi questionado por que não apresentou a carteira funcional. “Não tinha recebido ainda. Só tinha uma folha sulfite, um termo de posse dobrado dentro da carteira”.

Como estava de traje “sereia”, com a parte de baixo do uniforme e uma camiseta listrada sobre o uniforme da PRF, a promotoria questionou do motivo de ele não ter levantado a primeira veste para mostra a logomarca da corporação. Em resposta, ele comentou que seria até “cômica” a conduta.

Ricardo relatou que antes trabalhava na Polícia Civil de São Paulo, com roupa à paisana e sempre foi atendido quando se identificava como policial. Do trabalho anterior, também relatou ter sofrido ameaças, inclusive da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).

A promotora Lívia Carla Guadanhim Bariani ainda questionou se o policial não poderia ter atirado no pneu da caminhonete. Ele disse que o procedimento é vetado por ordens internas e que “é coisa de filme”.

Exagerado – Questionado pelo juiz Carlos Alberto Garcete sobre colecionar de 8 a 10 campeonatos de tiros, o policial disse que a colocação é exagerada. “Não sou o Chuck Norris do tiro. Meu nome não está nem no top 20”, diz. Chuck Norris fez filmes de ação e sempre com a marca de "durão".

Além da arma funcional, usada nos disparos que matou Adriano, ele tem mais duas pistolas, revólver, carabina e rifle.

Bebida e posição – No período da manhã, durante o interrogatório do réu e oitiva das duas vítimas de tentativa de homicídio – Agnaldo Espinosa da Silva e Vinícius Cauã Ortiz Simões, a defesa e a promotoria delinearam duas linhas de atuação.

O advogado Renê Siufi, que atua na defesa do policial, centrou o questionamento no consumo de bebida alcoólica das três vítimas, incluindo Vinícius, que na época tinha 16 anos e relatou ingestão de cerveja e vodka, além de perguntar se os amigos sabiam que Adriano consumia droga, agredia funcionária, caluniou pessoa, furtou energia elétrica e tinha medida restritiva.

Já a acusação questiona a todo tempo o posicionamento do policial na hora dos disparos. A perícia aponta que o atirador estava no vértice esquerdo do veículo, portanto, não na frente da caminhonete. Ricardo Moon conta que pulou para a lateral com intuito de salvar sua vida, em legítima defesa.

A perícia aponta que havia sujicidade (poeira) na calça do policial, mas abaixo do joelho, enquanto que o normal, devido à altura da caminhonete, era que o veículo o tocasse nas coxas. O policial respondeu que sentiu dores acima do joelho.

A expectativa é que o julgamento termine às 19h. Ele é julgado pela morte de Adriano (motivo fútil e recurso que dificultou a defesa da vítima) e tentativas de homicídio contra Agnaldo (que sofreu fratura ao pular da caminhonete) e Vinícius (baleado nas pernas).

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