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Interior

ONG do RJ vê ação “abominável” da Funai e traz 10 t de alimentos a índios

Organização com lema “quem tem fome, tem pressa” diz não se importar com litígio das terras

Izabela Sanchez | 20/02/2020 12:43
Caarapó tem áreas disputadas por índios e fazendeiros, como na Fazenda Yvu onde houve conflito armado em 2016. (Foto: Arquivo/Campo Grande News)
Caarapó tem áreas disputadas por índios e fazendeiros, como na Fazenda Yvu onde houve conflito armado em 2016. (Foto: Arquivo/Campo Grande News)

Enquanto a discussão judicial sobre a posse das terras se arrasta há anos, a Ong carioca “Ação da Cidadania” leva à risca o slogan “quem tem fome, tem pressa” e vai entregar, no próximo sábado (22), 10 toneladas de alimentos às comunidades indígenas de Mato Grosso do Sul. A Funai (Fundação Nacional do Índio) suspendeu a assistência há quase dois meses ao alegar ocupação ilegal dos índios Guarani Kaiowá em terras não demarcadas e em disputa.

A Ong do Rio de Janeiro tem 26 anos de fundação e atua na emergência humanitária da fome, especialmente, quando o Brasil regrediu e, desde 2017, colocou 13,5 milhões de pessoas na pobreza, conforme os últimos dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Os números, cita a organização, simbolizam retrocesso quando comparados a 2014, ano em que o país havia deixado o mapa da fome da ONU (Organização das Nações Unidas). A miséria voltou a crescer, pouco tempo depois, em 2016.

Em Mato Grosso do Sul a situação de miséria de comunidades indígenas que acampam em terras que reivindicam como tekoha, no sul do Estado, não é novidade. Destacam-se locais onde a fome já tirou a vida de crianças, a exemplo de Kurusu Ambá, na região de Coronel Sapucaia, uma das mais pobres.

Quem tem fome, tem pressa - Diretor executivo da Ação da Cidadania, Rodrigo Kiko Afonso contou que a ong, presente em 20 Estados do Brasil com ações humanitárias, chega pela primeira vez a Mato Grosso do Sul. As notícias da fome entre os índios que ganharam as manchetes de jornais como o britânico BCC, após a suspensão do fornecimento de cestas básicas, chamou a atenção da organização.

“A gente sempre lutou pela questão da segurança alimentar, quem tem fome tem pressa. A ação criou maior mobilização social no Brasil no combate à fome, foi indutora de uma série de avanços”, diz. “A gente [Brasil] tem piorado drasticamente, agora a gente está com 13,5 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da miséria”.

“É algo inaceitável, isso representa a população de vários países”, critica.

Kiko explica que a ong vai entrar 1000 cestas em Dourados, no sábado, para organizações de Mato Grosso do Sul que serão responsáveis pela entrega, a exemplo do Cimi (Conselho Indigenista Missionário), frente parlamentar pela segurança alimentar, juristas pela democracia e coletivo terra vermelha.

Cerca de 20 entidades ficarão responsáveis pela distribuição em comunidades que vivem em áreas de disputa em Dourados, Ponta Porã, Caarapó, Amambaí, Coronel Sapucaia e Antônio João. Mil famílias serão beneficiadas. Em Caarapó, desde a suspensão, comunidade já denunciou estado de desnutrição de ao menos três crianças.

“A nossa atuação primeira é dizer que não dá para discutir política pública e ideologia e deixar gente morrer de fome enquanto se discute. Então assim, nosso lema sempre foi esse, independente da importância da discussão política dos direitos dos índios, a gente atua sempre com a questão de quem tem fome”, comentou.

Kiko chamou a decisão da Funai de “falha grave”, por “abandonar [indígenas] ao léu por dois meses sem receber esses alimentos”. “É abominável”, disse.

Funai - Nesta semana, a Fundação comunicou a entrega de 544 kits com arroz, feijão, fubá, farinha de mandioca, óleo, açúcar, leite em pó e macarrão, referentes ao mês de janeiro, mas em lugar "neutro", fora das áreas de retomada e acampamentos, após um acordo com a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).

As entregas foram interrompidas em janeiro, após um despacho da direção nacional da Funai ao alegar que o auxílio em áreas não demarcadas "não constitui obrigação legal" do órgão. O documento ainda aponta que a Funai não tem orçamento para o deslocamento dos servidores que acompanham os caminhões da Conab na entrega dos alimentos.

O MPF-MS (Ministério Público Estadual de Mato Grosso do Sul) deu prazo de 48h para a Funai e Conab no último dia 3 para responderem a recomendação de retomarem a entrega dos alimentos, alguns estavam prestes a vencer por falta de distribuição.

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