PM e professora indígena exigiam R$ 150 mil para acabar com invasões
Para demonstrar liderança sobre índios que cercam sítios, sargento da PM e líder indígena suspenderam ataques no fim de semana

O sargento da Polícia Militar Waldison Candido Francisco, 46, e a professora indígena Dirce Cavalheiro Veron, 45, presos ontem (21) em Dourados, a 233 km de Campo Grande, exigiam pagamento de R$ 150 mil para acabar com as ameaças de invasões a sítios localizados nos arredores da Aldeia Bororó, região oeste do município.
Há um ano as propriedades estão cercadas por índios que moram na reserva de Dourados e desaldeados, vindos de outras regiões de Mato Grosso do Sul. Se não pagassem o dinheiro, que seria, segundo os autores do crime, dividido entre as lideranças da “retomada”, os sitiantes não iriam mais dormir porque “a coisa ia ficar feia”.
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Importante líder dos povos indígenas de Mato Grosso do Sul, Dirce é filha do cacique Marcos Veron, morto em 2003 em confronto com funcionários de uma fazenda em Juti.
Em 2003, então estudante de direito e já atuante em defesa da causa indígena, ela fez parte do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, nomeada pelo então presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva.
O PM também é de origem indígena e mora na Aldeia Jaguapiru, em Dourados. Em 2016, ele foi candidato a vereador pelo DEM, mas teve apenas 295 votos e ficou longe de se eleger.
Prometeram trégua – Conforme o delegado Rodolfo Daltro, do SIG (Setor de Investigações Gerais), o primeiro contato de Dirce Veron e do sargento Waldison com os sitiantes ocorreu semana passada, alguns dias depois dos intensos confrontos entre os índios e seguranças dos sitiantes, no feriado do dia 12 de outubro.
“Depois desses confrontos, os sitiantes foram procurados pela Dirce Veron, que fez a proposta de serem pagos R$ 150 mil para que cessassem os conflitos na região”, afirmou o delegado. O SIG foi avisado e começou a investigar o caso. Logo descobriu que o homem era policial e pediu apoio da Corregedoria da PM.
Segundo Rodolfo Daltro, foram pelo menos três encontros para a negociação, todos com a presença do policial militar. “Ele acompanhava, mas as ameaças se o dinheiro não fosse pago eram feitas principalmente pela Dirce”.
Para demonstrar o controle sobre os índios que cercam as propriedades, Dirce e Waldison prometeram que no fim de semana passado não haveria tentativa de invasão. “De fato não houve conflito e isso nos chamou muito a atenção, pois demonstrou que essas duas pessoas tinham liderança sobre os indígenas”, afirmou o delegado.
Como a promessa de que não haveria tentativa de invasão foi cumprida, as vítimas da extorsão combinaram com os dois o pagamento de R$ 120 mil em quatro parcelas semanais de R$ 30 mil. A primeira parcela seria paga ontem.
“Houve impasse quanto ao local e a Dirce começou a acirrar as ameaças afirmando que os produtores não iriam dormir mais, que não teriam paz. Ficou combinado então que o pagamento da primeira parcela seria feito ontem à tarde no estacionamento de um mercado”, contou o delegado.
Dirce Veron e o PM chegaram ao local do encontro de moto. Assim que pegaram o dinheiro do sitiante, os dois foram presos. A professora indígena ainda tentou evitar o flagrante e jogou o dinheiro na carroceria de caminhonete estacionada no local. Os dois foram levados para a delegacia e autuados em flagrante por extorsão.
O chefe do SIG disse ao Campo Grande News que as investigações continuam para saber se há outras pessoas envolvidas no esquema e para descobrir se a dupla praticou o mesmo crime contra outros produtores rurais da região.
Dirce Veron está em uma cela na 1ª Delegacia de Polícia Civil e o sargento para o Presídio Militar, em Campo Grande. Se o flagrante for convertido em prisão preventiva, ela vai ser levada para um presídio feminino.
Veja abaixo o vídeo com entrevista do delegado, imagens dos dois presos e Dirce Veron discursando em defesa dos índios: