Produtor quer fechar venda por R$ 150 milhões e índios cobram Justiça
Prazo final de mais uma trégua intermediada pela União entre fazendeiros e índios, a reunião de amanhã no Ministério da Justiça, em Brasília, é aguardada para pôr desfecho ao conflito pela terra indígena Buriti, que contempla 15 mil hectares, distribuídos por 30 propriedades rurais, nos municípios de Sidrolândia e Dois Irmãos do Buriti.
“Só tem um assunto para se tratar, não tem dois. A nossa proposta é tal. A reunião é para fechar negócio”, afirma o presidente da Acrissul (Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul), Francisco Maia. De acordo com ele, as indenizações devem partir de R$ 150 milhões.
- Leia Também
- Ministro da Justiça se pronuncia sobre compra da fazenda Buriti na 2ª feira
- Tensão na aldeia Buriti motivou novo pedido de efetivo da Força Nacional
“Daí para fora. Tem propriedade com mais benfeitorias, pasto formado, água”, explica. Os fazendeiros exigem pagamento em dinheiro. E, segundo o presidente da Acrissul, um produtor rural já perdeu o interesse em fazer negócio com o governo federal.
O pagamento pela terra nua - situação excepcional, pois, até então, a remuneração é somente pelas benfeitorias – foi anunciada em 20 de junho pelo ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho. Na ocasião, a proposta de preço deveria ser divulgada em agosto. No meio das negociações, a União propôs fazer o pagamento em TDA (Título da Dívida Agrária), mas o plano não vingou.
Segundo Francisco Maia, os levantamentos da terra e benfeitorias já foram concluídos. “Estamos esperançosos e a Buriti vai servir de modelo de negócio para outras regiões em disputa”, avalia. O presidente da Acrissul e produtores rurais embarcam amanhã de madrugada para o Distrito Federal. A reunião será às 15h.
O dinheiro do Leilão da Resistência, que arrecadou R$ 1 milhão, vai custear a viagem. “O valor foi retido, mas parcelamos e vamos pedir que a Justiça libere”, diz.
Assessor jurídico da Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul), Gustavo Passarelli conta que a entidade também vai enviar produtores rurais a Brasília, todos à espera de um desfecho.
Lider terena, Lindomar Ferreira espera que, enfim, saia uma definição para acabar com o conflito fundiário em Sidrolândia. “Já passou do tempo de resolver”. Segundo ele, a situação oscila entre momentos de calmaria e muita tensão.
Os indígenas também vão cobrar do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, a conclusão do inquérito sobre a morte do terena Oziel Gabriel, 35 anos. Ele foi baleado durante a ação de reintegração de posse da fazenda Buriti. Ferido, morreu no hospital de Sidrolândia. O caso, registrado em 30 de maio, deu repercussão nacional à disputa, por vezes sangrenta, por terra em Mato Grosso do Sul.
Histórico - Reivindicada pelos terenas, a terra indígena Buriti fica localizada entre os municípios de Sidrolândia e Dois Irmãos do Buriti. Em 2001, a Funai aprovou o relatório de identificação da área de 17 mil, sendo dois mil já demarcados.
No mesmo ano, fazendeiros recorreram à Justiça para anular a identificação antropológica. Em 2004, decisão judicial foi favorável aos produtores. Dois anos depois, com nova decisão no TRF 3, a terra voltou a ser reconhecida como indígena.
Somente em 2010 o Ministério da Justiça declarou que a área pertencia aos terenas. Os próximos passos seriam a demarcação física da reserva e homologação da presidente da República. No entanto, em 2012, o processo voltou a ser suspenso por decisão judicial favorável aos fazendeiros. Segundo os índios, a população chega a 6 mil pessoas, distribuídas em nove aldeias.