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Em Pauta

A arte de acertar errando. Os cálculos de Colombo

Mário Sérgio Lorenzetto | 13/12/2018 10:11
A arte de acertar errando. Os cálculos de Colombo

Colombo garantiu aos governantes da Espanha que existia uma rota mais rápida, mais segura e mais barata para chegar à China. Bastaria cruzar o Atlântico para completar a viagem. Na verdade, Colombo estava desafiando o grego Eratóstenes, que no século III antes de Cristo calculara a circunferência da Terra por um método que, era tão simples e instrutivo que é repetido anualmente, há 2.500 anos mais tarde, nas escolas de todo o mundo. Eratóstenes concluiu que o mundo tinha uma circunferência de aproximadamente 40.000 quilômetros.

A largura de leste a oeste da Eurásia é de aproximadamente 16.000 quilômetros, segundo o grego. A aritmética geográfica exigiria, segundo esse cálculo, que a distância entre a China e a Espanha fosse de aproximadamente 24.000 quilômetros. Os construtores navais e possíveis aventureiros europeus sabiam que não havia nenhuma embarcação no século XV que pudesse resistir a uma viagem de 24.000 quilômetros, muito menos completar a viagem de volta.

A arte de acertar errando. Os cálculos de Colombo

As bases do cálculo de Colombo.

Colombo acreditava, de certo modo, haver refutado Eratóstenes. Marinheiro habilidoso e intuitivo , ele percorrera a parte leste do Atlântico, desde a África até a Islândia. Em suas viagens utilizara um quadrante náutico na tentativa de medir o comprimento de um grau de longitude. De certa forma, convenceu-se de que seus estudos comprovaram a afirmativa atribuída a um califa de Bagdá que vivera no século IX, de que um grau de longitude equivalia a 91,18 quilômetros.

Na verdade o valor é próximo de 111 quilômetros. Colombo multiplicou o valor de 91,18 km por 360, o número de graus de um círculo, para fechar seu cálculo do tamanho da circunferência da Terra: 32.800 quilômetros. Uma imensa diferença de 7.200 quilômetros dos cálculos de Eratóstenes. Associando esse número ao cálculo da extensão da Eurásia, explicou que a viagem pelo Atlântico até a China poderia chegar a apenas 4.800 quilômetros. Uma diferença de 19.200 quilômetros dos cálculos feitos por Eratóstenes. E foi além, o genovês também afirmou poderia reduzir 965 quilômetros dessa viagem de 4.800, se as velas fossem alçadas a partir das Ilhas Canárias. Compreendia que essa distância de 3.835 km poderia ser facilmente atravessada por embarcações espanholas.

Ao desembarcar nas Américas, em 1492, colombo naturalmente proclamou comprovadas suas ideias. Totalmente erradas, mas que renderam fortunas inimagináveis para os monarcas espanhóis, objetivo principal a que se propunham. Acertaram errando grosseiramente.

A arte de acertar errando. Os cálculos de Colombo

A convulsão biológica que Colombo trouxe à América.

Colombo e sua tripulação não viajaram sozinhos. Vieram acompanhados por uma coleção de insetos, plantas, mamíferos e micro-organismos. As expedições europeias trouxeram bovinos, ovinos e equinos, além de plantas como a cana-de-açúcar (oriunda da Nova Guiné), trigo (do Oriente Médio), bananas (da África), e café (também da África). Igualmente importantes, ainda que menos afamadas, criaturas das quais os colonizadores nada sabiam pegaram carona nessa viagem. Minhocas, mosquitos e baratas. Abelhas e gramíneas africanas. Ratos de todos os tipos.

Passaram a correr no solo das Américas como impetuosos turistas rumo a terra desconhecidas. Bovinos e ovinos trituraram a vegetação existente com seus dentes afiados, impedindo que arbustos e árvores nativas crescessem novamente. Sob suas patas brotava o capim africano, espalhado pelo chão sufocava a vegetação nativa. Esse capim estrangeiro era mais condizente com a criação de bois, cavalos e carneiros pois cresce a partir da base da folha, ao contrário da maioria das espécies, inclusive as nativas, que crescem à partir da ponta. Ao longo dos anos, florestas de palmeiras, mognos e paineiras se transformaram em florestas de acácia e arbustos etíopes. Movendo-se apressados por debaixo, mangustos indianos - pequenos e ágeis mamíferos - levaram vorazmente as cobras da República Dominicana à extinção.

Nativos e recém-chegados interagiam de forma inesperada, criando uma verdadeira convulsão biológica. Ao trazerem a banana-da-terra, trouxeram cocoideos africanos- pequenas criaturas com cascos duro que sugam a seiva das raízes. Em terras dominicanas esses insetos não tinham inimigos naturais. Houve uma explosão deles - fenômeno conhecido como "liberação ecológica". E a destruição dos bananais.

Em contrapartida, o inimigo biológico principal dos espanhóis era a formiga lava-pés. Essa formiga ataca tudo que as perturbe. O grande aumento dos cocoideos estrangeiros levou a um aumento ainda maior de formigas nativas. Todas as plantações espanholas de laranja, romã e cássia foram destruídas pelas formigas. Milhares de hectares foram queimados e dessecados. Cordões de formiga invadiam as casas dos espanhóis, enegrecendo até os telhados e seus ferrões causavam muito mais dor que a picada de abelhas e de vespas. Aterrorizados, os espanhóis que não haviam sido derrotados pelos tainos (indígenas dominicanos que já não existem), abandonaram suas casas aos insetos. A região foi despovoada.

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