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Em Pauta

Em época de crise, malditos dançaram até morrer

Mário Sérgio Lorenzetto | 03/01/2018 09:00
Em época de crise, malditos dançaram até morrer

A parte germânica da Europa estava em crise e eles dançaram até morrer. Ninguém sabia porque haviam começado a dançar. Um dia de fevereiro de 1278. Sobre uma das pontes que cruzava o Rio Mosa, na região da Alemanha, Holanda e França, se via uma multidão formada por mais de duzentas pessoas que agitavam seus corpos descontroladamente. Compulsivamente. Incapazes de deter-se. Como se tivessem sido vítimas de algum tipo de malefício diabólico que as obrigava a dançar contra sua vontade.
De repente, a ponte caiu. A maioria dos dançarinos caiu na água. Para surpresa de todos os presentes nenhum deles se esforçou para alcançar as margens do rio ou flutuar. Pelo contrário. Todos continuaram contorcendo-se na água, batendo seus braços e pernas como possessos, afundando cada vez em maior número e pedindo auxílio porque não podiam deixar de dançar. Nem mesmo quando estavam afogando.
P que aconteceu em 1278 no Rio Mosa, mais exatamente em Maastrich, na Holanda, não foi um fato isolado. Um século mais tarde, a apenas trinta quilômetros de Maastrich, em Aquisgrán, teve início outro surto de dança. Dessa vez, o episódio de dança descontrolada atingiu Colonia, Metz, Utrech, Brujas e Estrasburgo. Outros, na Inglaterra, várias décadas depois. Antes de todos esses surtos, em 1237, um grupo de crianças saiu dançando de Erfurt, na Alemanha, e foi dançado e pulando pelos vinte quilômetros que a separam de Arnstad, na Turíngia alemã, em clara similitude com a lenda do flautista de Hamelin, originária da mesma época e região.
Mas o que faz um povo dançar até morrer, nem sempre em época de crise? Apesar dos inúmeros estudos e documentos, ninguém sabe explicar. Crendo que as causas da praga eram de natureza sobrenatural, algumas autoridades, decidiram contratar músicos profissionais. O erro foi catastrófico. Outros entraram na dança e ela se prolongou por muito tempo. Poucos saíram com vida. Alguns tentaram relacionar o surto com a corea de Sydeham, também chamada de corea menor, uma enfermidade infecciosa do sistema nervoso produzida pela bactéria Streptococcus pyogenes, mas isso não explica nem a quantidade de pessoas envolvidas como também ter ocorrido em lugares tão distintos. Também falaram em tarantismo, histeria coletiva e até de possessões demoníacas. Ultimamente, consideram a hipótese de ingestão acidental de Claviceps purpurea, um fungo que cresce no centeio, entre outros cereais e ervas, do qual se obtêm o LSD, mas essa hipótese não explica a duração por até meses a fio do surto de dança. Sem parar. Nem mesmo com o desenfreio das danças carnavalescas, o Brasil não conhece um surto desse tipo.

Em época de crise, malditos dançaram até morrer
Em época de crise, malditos dançaram até morrer

Ponha um pouco de sinestésico em sua vida.

Imaginem Vladimir Nabokov e sua esposa Vera discutindo qual o tom de azul que enxergavam em seus escritos à máquina datilográfica quando todos sabem que eles eram pretos. Em uma entrevista de 1962 à BBC, o autor conta que compartilhava sinestesia com sua mulher e seu filho. Cada um deles enxergava cores diferentes nos escritos de Nabokov.
Imaginem um gênio pensando. E esse gênio têm sinestesia. Que é a mistura dos sentidos. Quando os sentidos não respeitam as fronteiras, como se fossem povos que não admitissem as fronteiras e se misturassem. Ver colorido números ou letras escritas em preto, saborear palavras escutadas, tocar com os dedos os sabores, sentir o cheiro da música. É assim. Está demonstrado que as pessoas sinestésicas ativam simultaneamente duas ou mais zonas do córtex cerebral. De maneira muito simplória essa é a base científica da sinestesia. Sabemos que é uma simplificação elevada à máxima potência para explicar a complexidade dos processos cerebrais que ocorrem na sinestesia. Mas está claro que não é uma associação da memória. É sentir o cheiro amarelo do jacarandá. É sentir o sabor ácido da palavra espanhola cocotologia, como explicava o russo Nabokov.
Todos nascemos sinestésicos, acreditem. Todavia, para nosso pesar, as conexões neurológicas mudam com o passar do tempo. Somente um de cada dois mil adultos a conserva. Esse dado implica que você talvez conheça algum sinestésico. Talvez esse alguém não o saiba. Alguns entendem que essa qualidade é mais comum em artistas. Mas a ciência não aceita essa hipótese que conecta a capacidade com criativa com a sinestesia. É fácil cair nessa trama quando estudamos a sinestesia e vemos na lista dos sinestésicos gente como Charles Baudelaire, Marcel Proust, Arthur Rimbaud e Jimi Hendrix. Todavia a sinestesia é para a "gente comum", não para os famosos.

Em época de crise, malditos dançaram até morrer

Implantes cerebrais para melhorar a memória em voluntários.

Cientistas da Universidade Southern Califórnia anunciaram recentemente a exitosa aplicação de implantes cerebrais para melhorar a memória em voluntários. Em essência, essa prótese é constituída por pequenos dispositivos equipados com eletrodos que são inseridos na região cerebral denominada hipocampo. Ao gerar impulsos elétricos replicam o mecanismo natural que é como se formam e armazenam as recordações de longo prazo. Nesses diminutos dispositivos há um software programado com um "neurocódigo", identificado e desenvolvido à partir da análise e estudo dos sinais cerebrais. O que se persegue é que eles restaurem ou reimplantem os circuitos neuronais da memória com lesões cerebrais ou afetadas com males como a demência ou o Alzheimer, que perderam a capacidade de recuperar suas recordações. Atuariam como uma espécie de "bypass" cerebral.
Na experiência, os cientistas constataram que os resultados alcançados pelos vinte sujeitos voluntários quando levados aos testes de memória melhoraram 30% com os implantes em seus cérebros. Acreditam que além dos males que desejam exterminar - demência e Alzheimer - outras doenças como lesões oculares, problemas neurodegenerativos, autismo e dislexia poderão ser resolvidos com esses implantes.

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