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Em Pauta

Mensalão e o dia seguinte à votação do impeachment

Mário Sérgio Lorenzetto | 07/04/2016 08:33
Mensalão e o dia seguinte à votação do impeachment

Dilma perdeu a parceria do PMDB. Restam-lhe raros votos desse partido. Com a saída do PMDB do governo, Dilma assumiu, de fato, o cargo de vice-presidente. Lula governa. O novo presidente leiloa mais de 600 cargos públicos como se fossem privados, também surgem denúncias de que leiloa dinheiro para quem ajuda-lo a impedir o impeachment.
Trabalha com o que há de pior na política nacional, PP e PSD são siglas exclusivas de interesseiros. Este é um país inexplicável, após o maremoto de anticorrupção que tomou as ruas do país, temos um Mensalão a céu aberto.
Se escapar do impeachment, o poder não retornará a Dilma, mas Lula terá um governo tão ou mais medíocre que o de Dilma, tanto técnica como eticamente. Também terá de conviver com Eduardo Cunha, um anti-PT fanático, envolvido em tudo que há de errado e podre na política nacional, mas que vetará toda e qualquer iniciativa de Lula. Também terá de conviver com uma economia ainda mais deteriorada. Tantos os investidores que especulam no mercado como os jornalistas que especulam nos editoriais, continuarão preferindo Temer a Lula.
Mas, ainda existe a tênue possibilidade desse segundo Mensalão, patrocinado diretamente por Lula, desta vez sem intermediários, ser derrotado. O impeachment pode vencer. Se conseguir os 342 votos necessários para retirar o PT do poder, Temer será um presidente sem voto popular. Raramente, essa alternativa de poder, dá certo sem o auxílio dos canhões. Nas ruas e nos campos, o PT, sigla que, goste-se ou não, tem forma e militância, não deixará de gritar "golpe" nos ouvidos de Temer a cada mês, a cada semana, a cada dia, a cada hora. Greves e mais greves. Invasões de terras... tudo que conhecemos do petismo oposicionista.
O dia da votação do impeachment não será, portanto, o último. Se a parte da população que se mobiliza nas ruas entender que precisa se concentrar em pautas concretas (não das difusas atuais), como a luta por uma reforma política que extinga os partidos sanguessugas, poderá até ser o primeiro dia de um país com esperanças.

Mensalão e o dia seguinte à votação do impeachment

Eleições gerais já! A abstração dos ingênuos.

Não é possível termos eleições gerais em pouco tempo. Não há como fazê-las sem romper a Constituição. A primeira hipótese para que ela ocorresse seria a de Dilma renunciar. Como resposta, ouvimos um sonoro não. O caminho da anulação da eleição passada deve continuar no TSE. Na hipótese, de médio prazo, de muitos meses, do tribunal eleitoral anular a eleição, cabe recurso ao STF, fato que levaria muitos outros meses de demora. Assim, só teríamos eleição para a escolha de um novo presidente em uma data longínqua de 2017. Mas, quem elegeria o novo mandatário do país seria o Congresso Nacional e não a população. Também nesse caso, cabe recurso para o STF, ainda que seja apenas protelatório. Não existe radar que coloque eleições gerais na tela. Ela é apenas uma abstração dos ingênuos.

Mensalão e o dia seguinte à votação do impeachment

"Faça você mesmo" é a grande alternativa dos brasileiros na crise.

Quem garante é o Google: está ocorrendo uma mudança clara nos hábitos dos consumidores brasileiros. O número de buscas por algo usado, por exemplo, cresceu 50%. Entre contratar um serviço ou lições de "faça você mesmo", a segunda opção explodiu e nas áreas mais variadas. Desde como consertar eletrodomésticos - alta de 36% - até como fazer amaciantes de roupa em casa - aumento de 72%. O dados comparam o número de buscas nos primeiros meses de 2016 em relação com o segundo semestre de 2015. Outro exemplo eloquente da mudança: entre um restaurante e alguma receita famosa que se pode aprender pelo YouTube, a segunda opção deu um salto de 220%. Os consumidores também estão pesquisando mais para efetuar uma compra. As buscas por sites de comparação de preços cresceram 60%.

Mensalão e o dia seguinte à votação do impeachment

Toda liberdade aos professores?

Com bastante frequência nos Estados Unidos, surgem notícias acerca de um professor do ensino de crianças ou de jovens que foi despedido. Por lá muitas são as razões para tal demissão sumária. As mais polêmicas são as ligadas a escândalos. Depois de ter escrito algo de fundo racista, excesso de álcool, fotos nuas suas trafegando na internet...
Mas, a maioria das demissões são decorrentes das reclamações de pais que não concordam com o teor do que é ensinado pelos mestres. E aí vale tudo. Vale até exigir do professor darwinista que ensine criacionismo para os alunos, sob pena de demissão. Os pais, nos EUA, efetivamente tem voz e poder nas escolas. Eles sabem que os professores são pagos com o seu dinheiro, advindo de impostos. Os pais norte-americanos pensam em proteger seus filhos do que acham ser influência imoral ou nefasta de alguns professores. Esse é um modelo de educação.
O brasileiro é um modelo advindo da Prussia, um reino do século 18 que se estendia da Alemanha até a Polônia. Esse modelo educacional propugnava por uma educação que converteria alunos em trabalhadores obedientes e produtivos, com um padrão militar, onde os professores fazem o que bem entendem. Por aqui, é praticamente impossível aos pais impedir que seus filhos sejam ensinados por um determinado professor ou que sofram as influências de alguma ideia que julguem incorreta.
Não importa se o assunto é de ordem religiosa, sexual, política ou moral. Nem com muitos abaixo-assinados se pode remover um professor do "quadro". É preciso haver uma falha disciplinar muito grave para perderem o emprego na terra dos "concursos". Quem é concursado, na prática, é uma instituição, faz o que bem entende. Inclusive o não fazer, o não lecionar coisa alguma.
Por boas ou más razões, os professores brasileiros são dos atores mais intervenientes no debate público e nas reivindicações salariais. Por exemplo: é com o nosso dinheiro, pago em impostos, que foram a Brasília lutar contra o impeachment de Dilma. Eles são a ponta de lança do petismo local. Sem eles, o petismo vira "nadismo", um nada à esquerda.
É surpreendente ver as atitudes que, por vezes, tomam na defesa de seus "direitos" (mas não nos deveres). Chegam a trancar as escolas com cadeado nos meses que dedicam às greves. São a força mais ativa e célere. Qualquer texto que discuta suas funções recebe comentários com insultos e linguagem de taberna. Embora possamos e devamos condenar quem cometer esses excessos, uma questão mais difícil é se deveríamos ter um sistema como o dos EUA, em que o professor perde o emprego se não tiver uma conduta exemplar.
Em um país onde nada é claro, nada é preto ou branco, pelo contrário, tudo é cinzento, tudo é ineficiente, fica a indagação: professores livres, ineficientes e indelicados ou constrangidos, tutelados pelos pais e certinhos? Ora bolas, esse debate não modificará coisa alguma na realidade educacional de Campo Grande.

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