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Em Pauta

Os oito negros da Vacaria batiam enxada e dançavam sapateado

Por Mário Sérgio Lorenzetto | 27/07/2025 07:00
Os oito negros da Vacaria batiam enxada e dançavam sapateado

Em certa manhã clara e sorridente, impregnada do aroma das flores, na fazenda Passatempo, uma das mais importantes da Vacaria, partiram para a roça seis dos oito peões, pretos, oriundos da distante Minas Gerais. Cada um levava palha de fumo ordinário, exalando fumaça mal cheirosa. “ Esparramemos, negrada, ordenou o mais importante deles ao chegarem no novo milharal. Vamos aproveitar e mandar enxada antes que o sol esquente e a água venha”.


Os oito negros da Vacaria batiam enxada e dançavam sapateado

Feliz era quem andava à cavalo.

Gaúchos, indígenas e paraguaios eram considerados os trabalhadores felizes pois andavam a cavalo. Na concepção dos mineiros, tinham nascido em cima de um equino. Só trabalhavam “respirando o ar puro, espiando o gado e cantando para reunir as vacas. Depois, era só tocar para o mangueiro para comer sal. Isso que era vida boa”. Na hierarquia social da Vacaria, os mineiros eram os últimos da pirâmide social. Nada a ver com a cor da pele, mas por não trabalharem montados em um cavalo.


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Feijão com couve.

Feijão com couve e torresmo, angu com carne de vaca e arroz era o que comiam os negros das Minas Gerais. Fartura. Eles tinham saído da fome para “mastigar à vontade nos campos da Vacaria”. Os trabalhadores nascidos na Vacaria esperaram o churrasco com mandioca. O paraguaio serviu ovos estalados também com mandioca.


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Olha a cobra!

Os mineiros voltaram para a capina após o farto almoço, sem entusiasmo, cabisbaixos e invejosos, quando o que ia à frente pulou de lado, gritou - “oia a cobra”. Era uma urutu de cabeça triangular enroscada para o bote. A negrada assombrou-se com o tamanho do bicho, que nunca imaginaram existir. O pasmo deu lugar à agressividade. Nervosos, saltitantes, empolgados pela luta, cortaram o bicho em diversos pedaços. E ao entardecer todos foram para dentro do cristalino córrego Passatempo.


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Sapateado mineiro.

À noite surgiu um violão no galpão e um repentista ensaiava enquanto os outros queriam um sapateado bem mineiro. Os roceiros iniciaram um sapateado, sem ritmo e frio, esquentando aos poucos com novos adeptos entrando, cantando e batendo palmas. Eles não conheciam a arte das cavalgadas, mas sabiam alegrar a todos da fazenda como nenhum outro.

 

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