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Em Pauta

Carreiras no Coqueiro. Quando a única diversão era a corrida de cavalo

Por Mário Sérgio Lorenzetto | 24/07/2025 08:05
Carreiras no Coqueiro. Quando a única diversão era a corrida de cavalo

Coqueiro era uma fazenda de criação de gado, na Vacaria, fundada por Ana Barbosa e seu segundo marido, Inácio Pereira. O casal teve muitos filhos, mas a que herdou a fazenda, a sede, foi a Candelária, moça tida como vivaz e simpática. Mancava pela paralisia infantil. Candelária casou-se com Leon Block, apelidado Mussulião, francês de origem, que o destino levou ao sertão, lá pelo ano da graça de 1.902.


Carreiras no Coqueiro. Quando a única diversão era a corrida de cavalo

O bolicho do Mussulião.

Mussulião dedicou seus dias na Vacaria a dirigir um bolicho. Apelou para os inúmeros parentes da Candelária parar vender pinga, frangos recheados, pastéis e até tamanduá-bandeira. As corridas de cavalo eram centralizadas no bolicho do Mussulião. Muita alegria, mas quando a “branquinha” agia, não raro surgiam discussões, sururus, que podiam chegar a alguma morte. Esse bolicho era o centro da diversão de uma boa parte da Vacaria. Talvez o único. O francês usava óculos baratos, tendo sempre um livro aberto no balcão. Tinha raros fios ruivos no cabelo, olhos azuis e apenas quarenta anos. Arrastava um português com um sotaque horrível.


Carreiras no Coqueiro. Quando a única diversão era a corrida de cavalo

As comitivas eram de dois peões para cada cavalo corredor.

Dormiam cedo em suas fazendas nas vésperas de uma corrida de cavalos. Às três da manhã, já estavam trotando, depois do chimarrão. Viajavam até o sol surgir, quando paravam para descansar. A conversa era baixa para não perturbar o sono matutino do equino parelheiro - aquele que iria disputar a corrida. Procuravam dar-lhes o “pindó”- a verde folha do coqueiro doce. A conversa da peonada não variava, era sempre sobre as raras mulheres da região e, obviamente, de cavalos de corrida.


Carreiras no Coqueiro. Quando a única diversão era a corrida de cavalo

Cuidado! O adversário vai envenenar teu cavalo.

Podiam passar muitos dias na região onde estava o bolicho do Mussulião. Exigia muita cautela. Eram prevenidos conta a aproximação de seu parelheiro de algum desonesto que poderia aplicar veneno no equino às vésperas da corrida. Nos dias santos e feriados as carreiras no bolicho do Mussulião eram obrigatórias, todas fiscalizadas pelo Gregório, o substituto do francês.


Carreiras no Coqueiro. Quando a única diversão era a corrida de cavalo

Uma carroça de milho trocada por um boi de três anos.

Os cereais eram parcos na Vacaria. Criava-se o boi e não havia braços para lavouras. A população de brancos e de índios era diminuta. Embora a terra produzisse com prodigalidade, uma carroça de milho custava um boi de três anos. Era o alimento preferido pelo cavalo. O querido da peonada que tinha cavalo de corrida. Eles não comiam enquanto o cavalo não estivesse bem alimentado.


Carreiras no Coqueiro. Quando a única diversão era a corrida de cavalo

Os trios paraguaios e a aposta maluca.

Nos dias de corrida não faltava pelo menos um trio paraguaio. Comiam chipas, jogavam o 31, bebiam pinga e espichavam-se pelo gramado escutando algum trio paraguaio, acompanhado sempre por violão. Modas tristes, cheias de recordação da guerra, enfunadas de patriotismo, exaltando os feitos de seus antepassados guaranis. Recordavam Curupaiti, Lomas Valentina, Tuiuti ou Itororó, como se tivessem vencido e os que morreram ressuscitariam em Assunção, onde encontrariam, tal como os muçulmanos, muchachas lindas e ébrias de volúpia. As apostas corriam mais que os cavalos. Apostavam tudo. Dizem que chegaram a apostar suas próprias mulheres, tal a certeza de vitória de seu cavalo parelheiro.

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.