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Humildade de Tite fará a diferença para o Brasil na Copa, prevê Copeu

Baiano radicado em Campo Grande desde 1973, Copeu fez dois jogos pela Seleção em 1968 e brilhou no Palmeiras, Santos e Comercial nas décadas de 1960 e 1970

Paulo Nonato de Souza | 07/05/2018 09:41
O ex-atacante Copeu, estrela do futebol brasileiro nas décadas de 1960 e 1970, vive em Campo Grande desde 1973. Ele aposta na humildade do técnico Tite como trunfo do Brasil na Copa (Foto: Antônio Fernandes)
O ex-atacante Copeu, estrela do futebol brasileiro nas décadas de 1960 e 1970, vive em Campo Grande desde 1973. Ele aposta na humildade do técnico Tite como trunfo do Brasil na Copa (Foto: Antônio Fernandes)

Aliada à força de um time formado por craques como Neymar, Marcelo, Daniel Alves, Philippe Coutinho e Gabriel Jesus, a humildade do treinador Adenor Leonardo Bachi, o Tite, será um diferencial importante que poderá ser decisivo para a conquista do título da Copa do Mundo da Rússia pela Seleção Brasileira.

Esta é a opinião do ex-atacante Carlos Cidreira, o sempre risonho Copeu, de 75 anos, um baiano radicado em Campo Grande desde 1973, que jogou pela Seleção em dois jogos, ambos em 1968 contra o Paraguai, e fez sucesso no futebol paulista na década de 1960 como jogador do Palmeiras e do Santos, e na década de 1970 na ponta-direita do Esporte Clube Comercial.

“A primeira coisa que admiro em um ser humano é a humildade, e isso está sobrando no Tite. E quando você é um treinador, tem essa humildade e o grupo na mão, tudo se torna mais fácil. Por isso está dando tudo certo com a Seleção Brasileira”, destacou Copeu.

Para o experiente ex-atacante, quando o treinador quer ser “o cara” do time, as coisas tendem a não dar certo, mas se ele souber dividir responsabilidades com sua comissão técnica, reconhecer virtudes e deixar com os jogadores o papel de protagonistas, as chances de sucesso serão muito maiores.

“O Tite se recusa a ser “o cara”. Você percebe isso de longe, nem precisa conviver com ele. A humildade é a força, a segurança dele, facilita a relação dele com as pessoas que trabalham com ele, principalmente com os jogadores, que são a parte mais importante, porque são eles que entram em campo, quem corre são eles. Então, o que o técnico tem que fazer é unir o grupo e passar o jeito que ele quer que o time jogue, pois o único jeito de fazer o time correr pelo treinador e ser amigo dos jogadores”, argumentou.

Pela humildade, o técnico Tite tem o grupo de jogadores na mão, segundo o ex-jogador Copeu (Foto: Vanderlei Almeida/AFP)
Pela humildade, o técnico Tite tem o grupo de jogadores na mão, segundo o ex-jogador Copeu (Foto: Vanderlei Almeida/AFP)

Tite assumiu o comando da Seleção Brasileira com vitória por 3 a 0 diante do Equador, em Quito, no dia 01 de setembro de 2016, e desde então tem surpreendido até os mais otimistas dos otimistas com números extraordinários. Em 2017 foram 11 jogos com oito vitórias, dois empates e apenas uma derrota por 1 a 0 diante da Argentina em um amistoso na Austrália. Em 2018 disputou dois amistosos e venceu ambos diante da Rússia, em Moscou, por 3 a 0, e da Alemanha, em Berlim, por 1 a 0.

“O trabalho do Tite não tem como dar errado, é um trabalho muito bem feito, e por isso essa nossa confiança. O Brasil pode até não ser campeão lá na Rússia, mas tem todas as condições de fazer uma Copa bem melhor do que foi em 2014”, avalia Copeu.

Segundo ele, com seu estilo “só sei que nada sei”, Tite nunca se coloca na posição de quem sabe mais do que os outros, e esta postura humilde o deixa sempre aberto a aprender e crescer cada vez mais como treinador, além de trazer os jogadores para o seu comando.

“Querer ser “o cara” é o grande erro de qualquer treinador. Por que você acha que o Leão (curta e conturbada passagem como técnico da Seleção em 2000) e o Dunga (técnico da Seleção nos períodos 2006/2010 e 2014/2016) não deram certo? Porque eles não são humildes. Eles queriam ser “o cara”, e quem são “os caras” são os jogadores”, declarou Copeu.

O CRAQUE NEYMAR – “No meu modo de pensar o Neymar é o jogador que eu tenho certeza que não vai tremer na Copa. Já não tenho tanta certeza quanto a outros jogadores, como o William e o Philippe Coutinho, porque eles não dão continuidade. Jogam uma partida bem e no jogo seguinte não apresentam o mesmo desempenho, o ritmo deles cai, e o Neymar não, o Neymar é brincadeira. Penso que o Neymar vai se dar bem na Copa do Mundo por ele ser atrevido, do tipo que não treme nunca”.

RECEIO SOBRE GABRIEL JESUS – O atacante revelado no Palmeiras, atualmente no Machester City, da Inglaterra, estreou na Seleção em 2016 com 17 anos, e jogou como um veterano diante do Equador. Fez dois gols, um de calcanhar, e ainda sofreu um pênalti na vitória brasileira por 3 a 0.

“O Jesus é muito novinho ainda, é a primeira Copa dele e pode acontecer de tremer, mesmo com o histórico de não ter tremido quando subiu da base para o profissional do Palmeiras, nem na Seleção nem no clube dele na Inglaterra. Eliminatórias é uma coisa, Copa do Mundo é outra bem diferente, e acho que vai ter que ser feito um trabalho psicológico com ele para que isso não aconteça na Rússia”, advertiu Copeu.

FINAL COM A ALEMANHA – Copeu acredita que a Argentina com um time já envelhecido, a começar por Messi, sua principal estrela, não terá poder de reação na Copa do Mundo, e por isso aposta em uma semifinal com Brasil, Alemanha, França e Espanha.

A seleção comandada pelo técnico Jorge Sampaoli é considerada a mais velha da história argentina em Copas do Mundo. Lionel Messi, de 30 anos, puxa a fila dos trintões argentinos tidos como titulares para a disputa na Rússia. Em plena Copa de 2018, o goleiro Romero terá 31; Otamendi, 30, Mascherano, 34, Enzo Pérez, 32, Di María e Agüero, 30.

“Não acredito na Argentina. O Messi, na idade dele já não adianta querer resolver nada, os principais jogadores argentinos estão numa idade que não conseguem mais resolver uma partida”, comentou Copeu.

O ex-jogador disse que o melhor dos mundos seria uma final entre Brasil e Alemanha. “De preferencia com vitória de 7 a 1 para o Brasil”, profetizou Copeu (risos), referindo-se ao placar humilhante da eliminação brasileira pelos alemães na semifinal da Copa do Mundo de 2014.

Aos 75 anos, Copeu guarda na memória e no seu álbum os bons momentos da carreira de jogador (Foto: Antônio Fernandes)
Aos 75 anos, Copeu guarda na memória e no seu álbum os bons momentos da carreira de jogador (Foto: Antônio Fernandes)

LEMBRANÇAS DA SELEÇÃO - Uma das estrelas da geração que foi tricampeã do mundo na Copa de 1970, Copeu disse que guarda boas lembranças dos seus dois jogos pela Seleção Brasileira em 1968, quando vivia o auge da sua carreira no Palmeiras, mas lamenta, sem mágoa, o fato de não ter sido lembrado pelo técnico João Saldanha para as Eliminatórias nem por Mário Jorge Lobo Zagallo, que o sucedeu às vésperas do Mundial no México.

Nascido em 26 de setembro de 1943, ele completou 27 anos de idade três meses depois do Mundial do México, disputado nos meses de maio e junho.

“Para mim, jogar na Seleção Brasileira é disputar uma Copa do Mundo. Você fazer dois amistosos não significa muita coisa, tanto que cheguei até esquecer disso uma época, mas o gostoso é que você jogou ao lado de grandes feras, caso do Pelé, Carlos Alberto Torres, Ademir da Guia, Gylmar, o goleiro, e por aí vai. A única coisa que você guarda de bom para sempre é ter jogado com esses jogadores que foram monstros do futebol brasileiro, agora, disputar uma Copa do Mundo é algo que vale a pena, não tem como você esquecer”, declarou.

Copeu chegou à Seleção em uma época que havia muita rivalidade entre São Paulo e Rio nas convocações, o chamado “bairrismo”. Ele foi convocado para a disputa da Taça Oswaldo Cruz, contra o Paraguai, pelo técnico Osvaldo Brandão, um gaúcho de Taquara que se consagrou no futebol paulista comandando o Palmeiras e o Corinthians.

Brandão, que faleceu em São Paulo no dia 29 de julho de 1989, aos 73 anos, teve várias passagens pela Seleção, a primeira delas na década de 1950, quando convocou uma novidade chamada Garrincha, e a última nas Eliminatórias da Copa de 1978, quando caiu sob forte crítica da imprensa do Rio de Janeiro por ter escalado o lateral-esquerdo Wladimir, do Corinthians, como titular no empate por 0 a 0 com a Colômbia, e foi substituído pelo carioca Claudio Coutinho.

“Mas não guardo mágoa de nada, sou feliz com a vida que Deus me deu, com as oportunidades que tive na vida. Só tenho é que agradecer ao seu Brandão e ao Antoninho (Antônio Fernandes, auxiliar-técnico de Osvaldo Brandão na Seleção). Foi muito bom ter jogado ao lado de todas aquelas feras”, frisou Copeu. Nos dois jogos com o Paraguai, o Brasil venceu o primeiro por 4 a 0 e perdeu o segundo por 1 a 0, e ele conta como privilégio ter formado o ataque do Brasil ao lado de Pelé, Rivelino e Edu.

Para os jogos diante do Paraguai, Brandão chamou apenas jogadores do futebol paulista, mas a seu favor contra o carimbo de “bairrista”, além de ter lançado o carioca Garrincha, do Botafogo, com a camisa da Seleção na década de 1950, foi ele quem convocou pela primeira vez os volantes Toninho Cerezo, do Atlético Mineiro, e Falcão, do Internacional, nas Eliminatórias da Copa de 1978, e ambos não foram lembrados por Cláudio Coutinho na convocação para a Copa na Argentina.

Recorte de um jornal da época mostra a curiosidade da imprensa sobre Copeu no dia da sua apresentação à Seleção (Foto: Arquivo pessoal)
Recorte de um jornal da época mostra a curiosidade da imprensa sobre Copeu no dia da sua apresentação à Seleção (Foto: Arquivo pessoal)

A BIOGRAFIA - Natural de um lugar chamado Pau Miúdo, na periferia de Salvador, Copeu iniciou a carreira aos 15 anos como meia-direita de um time baiano chamado Guarani Futebol Clube, depois foi para o Botafogo, também da Bahia, onde mostrou ser tão promissor que em 1964 foi convidado para fazer um teste no Palmeiras, em São Paulo.

O teste no Palmeiras durou um mês e após ser aprovado pelo técnico Sylvio Pirillo, gaúcho de Porto Alegre, falecido em 22 de abril de 1991, e assinar contrato, Copeu quase foi parar na Portuguesa Santista. Ele entrou em uma negociação de troca com o zagueiro Osmar, da Portuguesa Santista. “O Palmeiras cedeu meu passa para a Portuguesa Santista, mas eu não aceitei. Nem apareci lá”, lembrou.

Copeu teve duas passagens pelo Palmeiras. A primeira no período de 1964 a 1967, depois foi emprestado ao São Bento de Sorocaba, que comprou seu passe em 1968. Do São Bento foi parar no Santos de Pelé e retornou ao Palmeiras ainda em 1968.

O Palmeiras de 1968:  Em pé - Geraldo Scallera, Chicão, Baldochi, Nélson, Ferrari e Dudu; Agachados - Copeu, Servilio, Artime, Ademir da Guia e Serginho (Foto: Álbum do Copeu)
O Palmeiras de 1968: Em pé - Geraldo Scallera, Chicão, Baldochi, Nélson, Ferrari e Dudu; Agachados - Copeu, Servilio, Artime, Ademir da Guia e Serginho (Foto: Álbum do Copeu)

“Disputei um Campeonato Paulista pelo São Bento e fiz constar no meu contrato que eu só jogaria contra os times grandes, porque aí tinha casa cheia e transmissão pela televisão. O presidente do clube aceitou as minhas condições, então só joguei contra o Palmeiras, Santos, Corinthians e a Portuguesa de Desportos, que também era grande naquela época”, lembrou.

Na volta ao Palmeiras, Copeu permaneceu no time palestrino até 1971. Foram 122 jogos com 69 vitórias, 30 empates, 23 derrotas e 16 gols marcados, e quando saiu foi para o Sport Recife, Remo de Belém do Pará e veio parar em 1973 no Esporte Clube Comercial, onde jogou por 9 anos até 1981.

“O Comercial de Campo Grande foi o time onde eu mais joguei e fiz 78 gols como ponta-direita. Ainda hoje sou o maior artilheiro da história do Comercial”, comemorou ele.

Time do Comercial no Campeonato Brasileiro de 1975: Em pé - Aranha, Higino Gamarra, Nandes, Henrique Pereira, Diogo e Jorge Carraro; Agachados - Copeu, Dante, Bife, Golê e Carlinhos.
Time do Comercial no Campeonato Brasileiro de 1975: Em pé - Aranha, Higino Gamarra, Nandes, Henrique Pereira, Diogo e Jorge Carraro; Agachados - Copeu, Dante, Bife, Golê e Carlinhos.

PROJETO SOCIAL - Atualmente, Copeu trabalha no projeto social da Prefeitura de Campo Grande com escolinhas públicas de futebol para crianças de famílias economicamente carentes. Seu núcleo de atuação é na Praça de Esportes Belmar Fidalgo, no centro da cidade.

Com quatro filhos, dois do primeiro casamento e dois do segundo, e ele está há 43 anos com a sua segunda esposa, Copeu se diz realizado na vida. “Fiz tudo que eu queria fazer, realizei o sonho de ser jogador de futebol, e nunca quis ser rico. Hoje já estou queimando meus últimos cartuchos, não corro atrás de nada, muito menos de dinheiro”, afirmou ele entre sonoras gargalhadas.

No dia da entrevista ao Canal Copa 2018 do Campo Grande News, na última sexta-feira, Copeu estava há dois meses de uma delicada cirurgia de próstata. “Na mesa da cirurgia descobri que o médico era torcedor do Santos. Aí ficou tudo em casa”, mais risos.

DE OLHO NA COPA - Acompanhe essa e outras notícias sobre a Copa do Mundo todos os dias no canal Copa 2018. O Campo Grande News será o único veículo da imprensa de Mato Grosso do Sul presente na Rússia para a cobertura da 21ª edição da principal competição de futebol entre seleções do planeta.

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