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Esportes

Time de basquete que nasceu no "terrão" quer título das Olimpíadas em 2012

Fabiano Arruda | 22/12/2011 10:45

Equipe começou há cinco anos num bairro da periferia de Ponta Porã e ficou entre as quatro melhores equipes do País na competição realizada em Curitiba no começo deste mês

Equipe do Estado ficou atrás apenas de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e São Paulo nas Olimpíadas Escolares deste ano. (Foto: Divulgação)
Equipe do Estado ficou atrás apenas de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e São Paulo nas Olimpíadas Escolares deste ano. (Foto: Divulgação)

Quarto colocado nas Olimpíadas Escolares de Curitiba (PR), etapa 15 a 17 anos, realizadas este mês, o time de basquete masculino nascido no “terrão” do bairro Jardim Ivone em Ponta Porã quer o título da competição no ano que vem.

Na capital paranaense, a equipe do Porã Bask – clube Ponta Porã Basquetebol, representada neste ano pela Escola Estadual Fernando Saldanha, ficou atrás apenas de times de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e São Paulo, considerados principais centros da modalidade no País.

Os resultados na competição foram três vitórias e duas derrotas bastante sofridas. Uma delas na semifinal para o Rio Grande do Sul por um ponto de diferença. A quatro segundos do final do jogo, a equipe do Estado vencia por 68 a 66, mas, no último lance, os gaúchos converteram uma cesta de três e viraram para 69 a 68.

Na disputa pelo terceiro lugar, derrota por dois tentos de diferença diante dos paulistas.

O detalhe é que os times do RS e SP tinham atletas de estatura, cerca de dois metros, apesar da idade. Já o mais alto entre os sul-mato-grossenses tem 1,87 metro.

A diferença para quem assiste às partidas, no entanto, está na filosofia implantada, espelhada na escola argentina de basquete, pelo técnico da equipe, Hugo Costa. Forte marcação em toda a quadra, tanto na saída de bola, quanto no ataque. E todos os jogadores aptos a fazer qualquer função e jogadas como arremessos de três pontos e infiltrações no garrafão.

A tática gera um estilo de jogo muito veloz, ponto que equipara o time e faz a baixa estatura passar despercebida por muitas vezes.

Para isto os treinos são puxados. No mínimo duas horas seguidas de treinamento com bola.

Há cinco anos, time treinava em "terrão" em Ponta Porã; terreno virou sede do clube. (Foto: Divulgação)
Há cinco anos, time treinava em "terrão" em Ponta Porã; terreno virou sede do clube. (Foto: Divulgação)

Formação do time competitivo - Poucos que olham o time disputando de igual para igual jogos diante de equipes de grandes centros, como ocorreu em Curitiba, imaginam que o Porã Bask, que atende hoje 200 crianças de 7 a 17 anos no município da fronteira do Estado, tinha, há cinco anos, apenas um descampado de terra batida para os treinamentos. Hoje o projeto tem times nas categorias Sub-14, Sub-15, Sub-16 e Sub-14, além do feminino Sub-12 e Sub-14.

O técnico Hugo Costa, que começou a carreira de treinador de basquete há 20 anos em Pedro Juan Caballero, no Paraguai, resolveu, à época, prestar concurso para professor de Educação Física na prefeitura de Ponta Porã. Aprovado, foi para a escola do Jardim Ivone e, sem estrutura adequada, resolveu improvisar num terrão as aulas de basquete.

O interesse de meninos pelo esporte, nem tão popular no País, chamou atenção e virou tema de reportagens que foram exibidas em rede nacional e motivaram até a visita do ídolo do esporte, Oscar “Mão Santa”, ao projeto.

Foi o início para a viabilização de patrocínio (hoje gira em torno de R$ 10 mil mensais, renovado anualmente), que permitiram recursos para iniciar o projeto e construir o clube para os treinamentos.

“Eles nunca tinham jogado basquete na vida deles”, conta o treinador sobre os primeiros alunos. “O primeiro time que disputou o Campeonato Escolar treinou no terrão. Quando chegaram à competição nunca tinha jogado numa quadra”.

No primeiro ano, a principal conquista foi o vice-campeonato, mas em 2006, veio o título, ainda no terrão, lembra o técnico. Em novembro daquele ano, após a visita do ídolo Oscar, “o projeto impulsionou”.

“A prefeitura me cedeu e começamos a ganhar tudo. Em 2008, 2009 e 2010 levantamos títulos no Sub-14, Sub-15 e Sub-17. Hoje somos bicampeões dos Jogos Escolares de Mato Grosso do Sul, campeão do JEMS no Sub-14, bicampeão do Jogos da Juventude de Mato Grosso do Sul Sub-17”, listou algumas conquistas o treinador, enaltecendo a principal delas, o título da primeira divisão das Olimpíadas Escolares no ano passado, conquista que deu direito ao time a competir pela divisão especial da competição em Curitiba neste ano.

Como se mantiveram entre os quatro melhores, permanecem na divisão de elite no ano que vem nas Olimpíadas, que serão disputadas em Cuiabá na etapa 15 a 17 anos. “Dentro do Estado somos o time a ser batido”, diz Hugo.

Equipe reunida durante intervalo em partida disputada em Curitiba no começo deste mês. (Foto: Fabiano Arruda)
Equipe reunida durante intervalo em partida disputada em Curitiba no começo deste mês. (Foto: Fabiano Arruda)
Atleta do Porã Bask tenta jogada diante de representantes do Rio Grande do Sul na semifinal; Derrota por um ponto no último segundo. (Foto: Fabiano Arruda)
Atleta do Porã Bask tenta jogada diante de representantes do Rio Grande do Sul na semifinal; Derrota por um ponto no último segundo. (Foto: Fabiano Arruda)

Social - “Os meninos que competiram em Curitiba, há cinco anos, muita gente diria que eles não seriam nada”, comenta o treinador sobre a parte social do projeto que atua num bairro carente de Ponta Porã.

“Aos poucos eles começaram a viajar para jogar fora do Estado, viajaram de avião pela primeira vez. Em São Paulo, na época, eles conheceram os pontos turísticos da cidade. Ficaram hospedados em hoteis, enfim, o esporte mostrou para eles que valia a pena”, pontuou, dizendo que os garotos iniciaram no projeto “mal educados” e pouco adeptos à disciplina.

Para o treinador, muitos jogadores poderiam estar à mercê da criminalidade na região de fronteira do Estado ou vítimas das drogas. “Ainda temos baixas. Alguns meninos estão em situação que a gente não deseja”.

Título - Para a temporada 2012, Hugo diz que o time tem totais condições de conquistar o título da primeira divisão nas Olimpíadas Escolares, a principal meta da próxima temporada e que esteve perto neste ano.

Sobre o torneio disputado no Paraná, o treinador admite que a derrota para o Rio Grande do Sul por um ponto no último minuto de jogo da semifinal “tirou o sono” da equipe.

Com a vaga nas mãos a quatro segundos da partida, o técnico diz que ficou tão triste quanto os atletas e que alguns já não estarão no grupo em 2012.

“Mas esta é a nossa função. Mostrar que o esporte tem estas coisas. Às vezes temos um ótimo time e naquele dia não estávamos bem ou simplesmente o adversário estava melhor. É preciso orientar os garotos”, frisa.

Hugo conta ainda que alguns atletas do time vão completar 18 anos e, no Estado, já não terão mais competições. A partir de agora eles começam a fazer testes em outros Estados. Alguns deles irão a São Paulo e Minas Gerais. “Fico na torcida para que surjam boa proposta para eles”, diz.

Questionado qual foi a reflexão que fez em ter seu time entre os quatro melhores do País, o treinador analisou. “Fomos campeões em Curitiba se pensarmos pelo lado de que os garotos das outras equipes tiveram condições muito melhores que meus atletas. Não tinha atleta pobre nos outros times. Chegamos muito longe”.

Ídolo do basquete brasileiro, Oscar visita início do projeto. Foi o começo da viabilização de patrocínio e construção do clube. (Foto: Divulgação)
Ídolo do basquete brasileiro, Oscar visita início do projeto. Foi o começo da viabilização de patrocínio e construção do clube. (Foto: Divulgação)
Imagem mostra época de alagamento no "centro de treinamento" após dia de chuva em Ponta Porã. (Foto: Divulgação)
Imagem mostra época de alagamento no "centro de treinamento" após dia de chuva em Ponta Porã. (Foto: Divulgação)
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