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Arquitetura

A vontade de se livrar da casa antiga para entrar na tribo da alvenaria

Ângela Kempfer | 22/02/2013 07:00
No São Francisco, toda quadra tem pelo menos uma casa de madeira em meio aos prédios. (Fotos: João Garrigó)
No São Francisco, toda quadra tem pelo menos uma casa de madeira em meio aos prédios. (Fotos: João Garrigó)

Em um dos bairros mais antigos de Campo Grande, toda quadra tem pelo menos uma casa de madeira em meio aos prédios, daquelas antigas, a maioria com a estrutura até torta. Para quem ainda resiste sob o teto de mais de 40 anos, viver assim pode até ser interessante, mas só para quem vê.

Mesmo os mais velhos parecem loucos para deixar a vida de madeira e entrar na tribo urbana da alvenaria. “Não tem glamour nenhum. É uma casa velha, não tem como ficar arrumada. É muito desconforto”, reclama o aposentado José Coimbra, depois de 46 anos na casa de madeira do bairro São Francisco.

Quando era pequeno, o pai trocou um sítio em Bandeirantes pela casa no São Francisco, bairro valorizado, que ainda hoje tem metro quadrado valioso.

A casa é linda aos olhos de quem procura humanidade na arquitetura padronizada dos bairros. Parece coisa de fazenda, com uma varandinha charmosa e um pomar no quintal, enorme. Mas para José, virou um problema.

“O imóvel ainda está no nome do meu pai. Meus irmãos ficam com dó de vender porque eu vivo sozinho aqui e com a partilha não sobraria dinheiro para eu comprar algo descente. Tenho 15 irmãos. Não tem como resolver”, lamenta o senhor de 79 anos.

Três quadras depois, Gisele Oliveira é outra decidida a derrubar a casa ou mudar de endereço. Ela mora com o filho, a irmã e os pais no São Francisco, em uma casa pequena de dois quartos, que destoa dos equipamentos eletrônicos espalhados pelo imóvel.

Prestes a se formar no curso de Química, ela e a mãe são as mais dispostas e dar um fim às tábuas, mas o pai não toma uma decisão. “Dia desses, veio o eletricista e disse que não poderia subir ( no teto) para consertar a fiação porque ia cair com tanto cupim comendo a estrutura”, conta.

O terreno é grande, vale cerca de R$ 300 mil, estima Gisele, o que renderia uma casa nova e do tamanho certo para a família. “Eu quero derrubar e construir aqui mesmo. Meu pai quer vender. O fato é que alguma coisa a gente vai ter de fazer”.

Com família no Rio Grande do Sul, ela conta que por lá “não há diferença de classe social entre quem tem casa de tijolos ou de madeira”. Mas reclama que em Campo Grande é bem diferente. “Para as pessoas daqui, é feio”.

José Coimbra vive há 46 anos na casa de madeira do bairro São Francisco.
José Coimbra vive há 46 anos na casa de madeira do bairro São Francisco.

Vantagens – Mas há quem veja o lado positivo da casa velha, principalmente quem mora de aluguel. Vanusa Brandão vive em uma casinha azul e paga só R$ 250,00 por mês. “Nunca encontraria nada de alvenaria por esse preço”, explica.

Infelizmente, a tranquilidade tem os dias contados. Em maio, a proprietária vai derrubar o imóvel, para construir outro para a filha que vai casar. “Vai ser menos uma de madeira aqui”, resume Vanusa.

A vizinha de bairro, dona Maria Zenaide de Deus, de 76 anos, vê outras vantagens. “Pode cair o mundo que não entra uma gota de água aqui dentro”, garante.

Mãe de sete filhos, cinco vivendo longe, ela saiu do bairro Vida Nova para morar com as duas filhas na região central. A casa é do patrão de uma delas. Forte até no jeito de falar, ela ainda limpa quintal e passa roupa em casa de família e adora o lugar onde vive, também pela segurança.

“Aqui ninguém assalta não. Ladrão prefere entrar em casa de tijolo. Também, se entrar aqui, vai levar um susto”, brinca.

Dona Maria Zenaide na casa que aluga há 12 anos.
Dona Maria Zenaide na casa que aluga há 12 anos.
Casa de Gisele, também no São Francisco.
Casa de Gisele, também no São Francisco.
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