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Arquitetura

Lorena e Carla, as marceneiras de respeito que você precisa conhecer

Elas chefiam uma equipe de três homens e executam trabalhos pesados com madeira; são projetos inteiros do início ao fim

Lucas Mamédio | 30/04/2020 06:25
Carla e Lorena estão juntas nessa vida de marceneiras há sete anos (Foto: Paulo Francis)
Carla e Lorena estão juntas nessa vida de marceneiras há sete anos (Foto: Paulo Francis)

Não mente pra gente não, sempre que você precisa de algum projeto que leva madeira na sua casa você diz assim: “vou atrás de um marceneiro pra ver quanto fica”, não é? Falar no masculino nem é o problema, está gramaticalmente correto, mas o fato é que na cabeça da gente vem logo um homem pra executar o serviço.

Claro que isso tem sua razão. Nem se compara a quantidade de homens e mulheres nessa área, são muito mais homens. Pois aqui em Campo Grande, duas mulheres, as sócias Lorena Ferreira, de 33 anos, e Carla Qualhato, de 34, são as marceneiras que você mais respeita.

Não tem, pode procurar, mulher que desenha, corta madeira, prega, parafusa em Campo Grande só as duas (essa frase foi provocativa, tomara que apareçam outras). A oficina delas fica no Parque do Lageado, e é gigante.

Tudo começou com a Carla. Ela hoje usa parte do terreno da oficina do pai, que trabalha com aço inox. “Comecei cedo, com 13 anos, ajudando meu pai em no escritório, depois fui botando a mão na massa”, lembra Carla.

O gosto pela madeira veio ao longo do tempo, além de vislumbrar no material um segmento de mercado interessante. “Sempre trabalhei com a parte de corrimão na construção civil com meu pai, o que faço aqui é totalmente diferente”.

O pai, ao contrário do que podemos pensar, foi um dos maiores incentivadores para Carla virar marceneira. “Ele sempre me trouxe pra dentro da oficina, sempre me apoiou nas minhas escolhas”.

As duas trabalhando em um corte de madeira (Foto: Paulo Francis)
As duas trabalhando em um corte de madeira (Foto: Paulo Francis)

Depois de sete anos juntas, elas já têm uma clientela consolidada. “Fazemos projetos inteiros de madeira, mas essa parte fica mais com a Lorena”, explica Carla.

Lorena entrou de gaiato nessa. Formada em História e tendo tentado empreender na área de revenda de gás antes, foi convidada por Carla para dar o empurrão que a empresa delas precisava para dar certo.

“Aqui não tive moleza não, primeiro fui para área da produção, peguei no batente mesmo, mexendo com máquina pesada, serra”.

Carla fica mais com a parte de produção (Foto Paulo Francis)
Carla fica mais com a parte de produção (Foto Paulo Francis)

Hoje em dia as duas conseguem dividir bem as funções. “A Lorena fica mais com a parte de projetos e financeiro e eu fico mais na parte de vendas e produção”.

Elas chefiam uma equipe de três homens. Enquanto estávamos na oficina, Carla parou a conversa algumas vezes para dar orientações aos rapazes. “Eu costumo sair com eles, coordenar as ações, tudo. Em alguns casos não vou mentir, tem que ser homem para fazer, tem madeira que é muito pesada”, diz Carla.

As duas já tentaram contratar outras mulheres marceneiras, mas não deu muito certo. Segundo cálculo delas, quando anunciaram a vaga, apareceram mais de 100 homens para uma única mulher.

Percebendo algumas limitações na candidata, ainda assim investiram nela que, infelizmente, ficou só um mês. “Ela não se adaptou ao nosso modo de trabalho, uma pena, mas foi tudo numa boa”, justifica Lorena.

Último projeto executado pelas duas (Foto: Paulo Francis)
Último projeto executado pelas duas (Foto: Paulo Francis)

Lorena também fala um pouco sobre como elas são vistas no mercado por serem mulheres marceneiras. “Olha, diretamente não sofremos nenhuma ofensa, o que percebemos são pequenas coisas como duvidarem da qualidade do nosso trabalho por meio de questionamentos sobre o preço e outras coisas mais”.

Apesar disso, Lorena acha muito importante elas darem certo, não só por elas mesmas, mas para mostrar pra outras mulheres que é possível sim ser marceneira ou fazer qualquer outro trabalho estigmatizado. “Gostamos de dar exemplo, de mostrar que fazemos e fazemos até melhor”.

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