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Artes

Com um show após o outro, oito duplas sertanejas dominam verbas culturais de MS

Fundação de Cultura investe 10 vezes mais em sertanejo que em teatro, por exemplo

Por Lucia Morel | 17/10/2025 09:00
Com um show após o outro, oito duplas sertanejas dominam verbas culturais de MS
João Bosco e Vinícius em Caarapó no mês de agosto deste ano. (Foto: Redes sociais)

A FCMS (Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul) já pagou quase R$ 10 milhões a apenas oito duplas e cantores sertanejos do Estado de janeiro a setembro deste ano. Quase todos garantiram, pelo menos, uma apresentação por mês, paga com verba pública. Em alguns casos, essa média é maior, com 14 shows em 9 meses.

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A Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul destinou cerca de R$ 10 milhões para shows de oito duplas e cantores sertanejos desde janeiro. João Bosco e Vinícius lideram os investimentos, com R$ 2,62 milhões por 14 apresentações, seguidos por Jads e Jadson, que receberam R$ 1,54 milhão por 11 shows. Em contraste, outras manifestações artísticas receberam valores significativamente menores. Grupos teatrais obtiveram entre R$ 8 mil e R$ 15 mil por apresentação, enquanto artistas do samba, como Jorge Aragão, receberam R$ 220 mil por participação no Festival de Inverno de Bonito.

Ao todo, R$ 9.296.000,00 foram destinados a apresentações de artistas cujas carreiras começaram em Mato Grosso do Sul, mas já alcançaram projeção nacional e consequente apelo comercial. Em contrapartida, ritmos diferentes, como o pagode e a MPB de bandas locais, além de expressões artísticas que dependem de incentivo para a projeção, como a dança e o teatro, recebem valores até dez vezes menores e quase não aprecem em programações bancadas com verba da cultura.

No ranking dos cachês milionários estão 8 duplas sertanejas que surgiram em Mato Grosso do Sul, várias delas que hoje vivem bem longe daqui. Com participação em 14 eventos ao longo de 2025, João Bosco e Vinícius, por meio da S4 Produções Artísticas, são os recordistas de pagamentos conforme site da transparência, do governo do Estado.

Os dois já receberam R$ 2.620.000,00, em apresentações pelo interior. Um dos shows foi na 32ª EXPOAC (Feira Agropecuária de Caarapó), em agosto. O primeiro deles no Estado este ano ocorreu na festa de 81 anos de Ribas do Rio Pardo, em março.

Jads e Jadson se apresentaram 11 vezes em Mato Grosso do Sul, incluindo a 35ª Festa do Clube do Laço, realizada durante o 61º aniversário de Antônio João, e a Festa Tradicional de Aparecida do Taboado. A última apresentação ocorreu em setembro, na Festa do Mel de Guia Lopes da Laguna. Até agora, a dupla recebeu R$ 1.540.000,00.

Outras duplas com apresentações em Mato Grosso do Sul e altos cachês incluem Henrique e Diego, da Hed Produções Artísticas, com sete shows que somaram R$ 1.001.000,00. Apesar dos dois serem de Cuiabá, a carreira se consolidou no estado, porque o empresário é sul-mato-grossense.

Depois aparecem Munhoz e Mariano, da M2 Produções Artísticas Ltda., com oito apresentações e R$ 960.000,00 pagos pela Cultura estadual. Na sequência, Alex e Yvan fizeram 10 shows e receberam R$ 525.000,00. Outro com apresentações constantes, Loubet teve oito apresentações e R$ 810.000,00 de cachê. Para fechar, a lista tem Maria Cecília e Rodolfo, com sete shows e R$ 940.000,00; e João Gustavo e Murilo, com nove apresentações e R$ 900.000,00.

Com um show após o outro, oito duplas sertanejas dominam verbas culturais de MS

Primo pobre – Se comparados a outros ritmos, o sertanejo reina absoluto em cachês. Para o grupo Top Samba, por exemplo,  foram pagos R$ 20.000,00 para o show no MS Ao Vivo.

A maior parte do levantamento feito pela reportagem no Portal da Transparência considerou apenas repasses feitos a pessoas jurídicas, ou seja, empresas, sem incluir contratações com pessoas físicas. Nessa categoria de pagamento direto estão, por exemplo, nomes sul-mato-grossenses da MPB, com Karla Coronel, que levou R$ 15 mil para uma apresentação.

Na lanterninha das verbas culturais estão os grupos de teatro, como Teatral Grupo de Risco, Grupo Casa e Circo do Mato, que durante o ano receberam cachês que variaram de R$ 8.000,00 a R$ 15.000,00 por apresentação, com cerca de 10 apresentações para cada grupo neste ano.

Um dos mais consolidados na cultura sul-mato-grossense, com reconhecimento nacional, o grupo de dança Ginga recebeu R$ 30.000,00 por duas apresentações, no Campão Cultural e no MS Ao Vivo.

Segundo o secretários da Setesc (Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Turimos), Marcelo Miranda, é preciso distinguir as duas frentes de atuação do órgão: as ações próprias da Secretaria e da Fundação, e as ações de apoio às prefeituras.

“Se observar bem, verá que nas nossas ações diretas, como o programa MS ao Vivo e os festivais, o percentual de sertanejo é mínimo. Nesses projetos, nós priorizamos outros ritmos”, explica, sobre as 6 edições do MS ao Vivo que pagam cachês grande apenas para atrações nacionais.

Ele reconhece, porém, que nos eventos realizados em parceria com os municípios a predominância do sertanejo é clara. “Mesmo oferecendo aos prefeitos e gestores municipais opções de outros estilos, como shows infantis, teatro e circo, eles acabam solicitando apresentações sertanejas. Alegam que atendem ao gosto popular, que, sem dúvida, aqui no Estado e também no Brasil, tende a preferir o sertanejo”, afirma.

Mas ele destaca ainda que há uma regra estabelecida pela Fundação: nos apoios às prefeituras, só são contratados artistas sul-mato-grossenses.  “E quando se observa os artistas do Estado com destaque nacional, são basicamente esses oito nomes que você citou”, diz.

Ocorre que a escolha de artistas famosos contraria a função estabelecida como fundamental em lei. Textos da Política Nacional de Cultura Viva, Lei Aldir Blanc e os princípios do Sistema Nacional de Cultura, por exemplo, falam em “descentralização e democratização” dos recursos. A lógica defendida é que Estado não deve atuar como patrocinador de mercado, mas como agente de equilíbrio.

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