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Artes

Crianças e adultos aprendem a fabricar berimbau com madeira do cerrado

Naiane Mesquita | 12/09/2016 06:25
Isabela tentando limpar o guatambu (Foto: Alcides Neto)
Isabela tentando limpar o guatambu (Foto: Alcides Neto)

O primeiro passo é limpar o guatambu. Com o auxílio de uma faca ou pedaço de vidro, cada imperfeição é retirada do futuro berimbau. A madeira flexível, típica do Cerrado, é encontrada com facilidade na região do Inferninho ou de Furnas de Dionísio, comunidade quilombola de Jaraguari, interior de Mato Grosso do Sul, onde mestre Leandro justamente aprendeu a fabricar o instrumento.

“Como uma verga do cerrado ela pode ter alguma curvatura e a gente sempre fala que o ideal é sete palmos de tamanho. A gente descasca e limpa com vidro ou com a própria faca, depois lixa para ela ficar bem lisinha e depois enverniza ou pinta. Hoje, vamos envernizar apenas”, afirma Leandro Busanello, 30 anos.

Adultos e crianças aprendem a diferença de cada cabaça e madeira (Foto: Alcides Neto)
Adultos e crianças aprendem a diferença de cada cabaça e madeira (Foto: Alcides Neto)
Mestre Leandro aprendeu o ofício em Furnas de Dionísio (Foto: Alcides Neto)
Mestre Leandro aprendeu o ofício em Furnas de Dionísio (Foto: Alcides Neto)

Professor de capoeira e da oficina de berimbau que aconteceu na manhã e tarde de ontem, na Escola de Capoeira Roda de Bamba, Leandro pratica o esporte desde os 11 anos e aprendeu a fazer o primeiro instrumento aos 12. “Primeiro teve a parte teórica, em que expliquei um pouco sobre a filosofia e como fazer o berimbau e agora estamos na prática”, indica.

Entre os alunos, adultos, adolescentes e crianças animadas não só por quebrar a rotina em um domingo, mas pelo peso da cultura afro valorizada na capoeira. Alguns mal manuseavam os instrumentos, precisavam de ajuda do Mestre ou de algum professor. O curso foi pago, custou R$ 60,00, com direito a levar seu próprio berimbau para casa. “Se você for comprar um sai em média R$ 90,00”, defende mestre Leandro.

A escolha da cabaça também é importante. “Tem a viola, que é a pequena que usamos uma verga mais grossa, com som agudo, mais estridente e tem a verga flexível, a gente faz com os gungas. Também tem o berra-boi que é para vergas mais altas, grandes”, indica.

Na verdade, é difícil conversar com Leandro durante a oficina. Apesar dos professores, muitos querem a opinião do mestre, inclusive as crianças. Elas vêm com as cabaças, as vergas e tudo mais, querendo indicação. “São muitos detalhes, não é muito fácil. Tem muitas artimanhas, desde entrar na mata para encontrar o guatambu, que gosta de serra, de morro e de água. A forma como você retira também é importante, nós não matamos a planta, apenas retiramos a verga”, frisa.

O berimbau pode ser envernizado ou pintado (Foto: Alcides Neto)
O berimbau pode ser envernizado ou pintado (Foto: Alcides Neto)

Um dos pequenos da oficina é afilhado do mestre. Enzo Gabriel Abdalla, 7 anos, andava para lá e para cá com a verga que ainda precisava ser lixada. “Estou gostando, mas é difícil”, confessa o garoto, meio tímido.

Leandro diz que apesar da pouca idade, Enzo foi companhia em expedições a procura de guatambu. “Entrou na mata três vezes comigo já”, ri o mestre. Outras crianças que participaram são de projetos sociais mantidos pela Roda de Bamba na cidade. “Levamos aulas de capoeira para a periferia de Campo Grande, em vários bairros. Alguns ganham incentivo, outros são por meio do voluntariado. Eu atendo mais de 100 crianças, mas todo o projeto deve contemplar 500 alunos”, frisa.

As crianças adoram o trabalho de limpar as peças (Foto: Alcides Neto)
As crianças adoram o trabalho de limpar as peças (Foto: Alcides Neto)
Professor ajuda Enzo a limpar o futuro berimbau (Foto: Alcides Neto)
Professor ajuda Enzo a limpar o futuro berimbau (Foto: Alcides Neto)

Tem quem esteja descobrindo agora a capoeira e o berimbau. Isabela Portela Barbosa, 21 anos, estudante de psicologia da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) manteve a calma na hora de lixar o guatambu. “É difícil, você precisa de resistência e força”, sorri.

Há seis meses praticando capoeira, essa é a primeira vez que ela se arrisca na oficina. “Eu sempre gostei, via as pessoas praticando e achava uma boa ideia. A capoeira é boa não só para o físico como para a mente, a questão espiritual também, do equilíbrio. Agora, estou tentando fazer o berimbau também”, diz, confiante. 

Informações sobre os trabalhos desenvolvidos pela escola na página do Facebook ou no telefone (67) 3026-5987. 

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