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Comportamento

Anésia partiu, mas salvou três vidas e deixou história na culinária da cidade

Dona Anésia era cozinheira conhecida na cidade, especialmente, na Feira Central

Thailla Torres | 25/09/2018 07:54
Anésia era uma cozinheira conhecida em Campo Grande. (Foto: Arquivo Pessoal)
Anésia era uma cozinheira conhecida em Campo Grande. (Foto: Arquivo Pessoal)

Aos 67 anos, terminou a história de uma das cozinheiras mais conhecidas da cidade, dona Anésia, que até hoje tem o nome estampado em barraca da Feira Central. Após um AVC (Acidente Vascular Cerebral), ela partiu no dia 30 agosto e a decisão da família em doar seus órgãos foi uma nova chance para três famílias.

Anésia Tsuyako Okumoto madrugava para bater a massa do salgado e abrir as portas do Bar Brasil, na Avenida Calógeras com Rua 7 de Setembro, em 1966, ao lado dos pais que eram donos do estabelecimento na época. Foi ali que começou sua história com a cozinha e o início de uma paixão que nunca estremeceu.

Dos 15 anos até o casamento, ela aprendeu as receitas da mãe, aperfeiçoou pratos japoneses, mas não mentia para ninguém que um dos seus pratos preferidos era o tradicional arroz com feijão e bife acebolado.

Anésia, o filho Rodrigo no colo, o marido e Patrícia, ainda criança. (Foto: Arquivo Pessoal)
Anésia, o filho Rodrigo no colo, o marido e Patrícia, ainda criança. (Foto: Arquivo Pessoal)
Durante a pescaria com a filha. (Foto: Arquivo Pessoal)
Durante a pescaria com a filha. (Foto: Arquivo Pessoal)

Foi justamente a carne que fez sucesso quando ela e o marido inauguraram o restaurante Texaco, na Rua 26 de Agosto, que durante décadas funcionou nas mãos dela. “Cresci dentro da cozinha e segurando sua saia enquanto cozinhava. Depois ela me ensinou tudo”, conta a filha Patrícia ShimabukuroArikado, de 43 anos, dona de um restaurante japonês tradicional na Rua Maranhão.

Depois Anésia ganhou destaque na Feira Central quando abriu sua primeira barraca. Lá fez sucesso o com o pintado a urucum e o sobá com caldo feito no dia, “com tempero que era só dela, ninguém mais fazia”, garante a filha.

Há quatro anos Anésia quis vender sua barraca e continuar trabalhando ao lado da filha. Mas o nome famoso nunca saiu da fachada porque o novo dono fez questão de manter. “Por ela ser conhecida, ele não quis mudar. Eu fico feliz”.

No restaurante da filha preparava o almoço. Pulava cedo para comprar ingredientes fresquinhos e era criteriosa na hora do preparo. “Alguns pratos ela fazia questão de temperar, tinha um jeito todo especial, era muito caprichosa na cozinha”.

Anésia estava feliz com aniversário de 1 ano da neta. (foto: Arquivo pessoal)
Anésia estava feliz com aniversário de 1 ano da neta. (foto: Arquivo pessoal)

Sem livro de receitas, tudo que ela deixou ficou na memória da filha e do genro, especialmente, o Katsudon, um prato típico no Japão, servido com um pedaço de lombo de porco empanado com farinha panko, Gohan – tradicional arroz japonês - omelete com cebola, molho tarê por cima, nori - a alga- e a cebolinha. “O sabor especial ela dava o gengibre em conserva”.

Somente o marido de Patrícia sabe fazer a receita com fidelidade. “Ela tentou ensinar todo mundo, mas só ele aprendeu do jeitinho que ela gostava, virou o nosso carro chefe do restaurante”.

Anésia era uma mulher forte, a mais velha de 10 irmãos, bem disposta e vivia dias felizes dedicados ao preparo da festinha de aniversário da neta caçula que vai completar um ano de vida.

Adeus – Na última semana de agosto, Anésia foi internada após sofrer um AVC dentro de casa, em plena madrugada. Passou uma semana no hospital, até que os médicos suspenderam os sedativos à espera de estímulos, “mas ela não reagiu”, diz a filha.

Na noite do dia 30, Anésia partiu em silêncio, mas deixou alegria para três pessoas que tiveram chance de receber seus órgãos. Somente o coração de Anésia não está batendo por aí por causa da idade. “Autorizamos a doação de tudo, mas foram doados somente rim, fígado e córneas. O médico ainda me disse que se não fosse pela idade, o coração da minha mãe seria perfeito”.

Anésia deixou dois filhos, três netos e no último domingo, 23 de setembro, recebeu homenagem da banda Curimba durante show na Concha Acústica do Parque das Nações Indígenas. Seu filho, Rodrigo Okumoto, é um dos integrantes da banda sul-mato-grossense.

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