Aos 80 anos e após um AVC, nada parou Mãe Fátima na religião Ifá
Com cinco décadas de fé, ela é uma das mulheres mais velhas ainda atuantes em Campo Grande

Apesar da agilidade que falta ao corpo com o passar dos anos, Mãe Fátima d'Òsányìn segue atravessando o portão da casa espiritual que frequenta, assim como fez a vida inteira. Aos 80 anos, ela é da religião Ifá e foi uma das homenageadas na noite desta terça-feira (25) pela Câmara Municipal. Entre elas muitas da umbanda e candomblé.
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Mãe Fátima d'Òsányìn, aos 80 anos, é uma das mulheres mais velhas ainda atuantes nas religiões de matriz africana em Campo Grande. Natural de Fortaleza, onde viveu por décadas, ela mantém viva a tradição do axé há mais de 50 anos, mesmo após mudar-se para Mato Grosso do Sul há uma década. Mesmo após sofrer um AVC em 2016, a anciã continua atendendo pessoas de diferentes estados e participando ativamente dos ritos religiosos. Além de sua devoção espiritual, Mãe Fátima é reconhecida por seu papel político na defesa das tradições afro-brasileiras e no incentivo a políticas públicas para terreiros.
Em Campo Grande, onde a anciã vive há 10 anos, ela carrega o título de uma das mulheres mais velhas ainda atuantes no axé, e cumpre essa missão porque não sabe viver de outro modo. Para quem veio depois dela, a mulher é exemplo da fé que resiste apesar das adversidades. “Eu não sei viver sem”, responde ao ser questionada por que continua firme mesmo depois de tantos anos.
Raquel Soares, filha de sangue e admiradora na fé, cresceu dentro do axé. O terreiro em Fortaleza, os ritos, as obrigações anuais e a vida comunitária fizeram parte da infância dela como algo natural. “Tenho 47 anos e digo que desde a barriga eu já acompanhava minha mãe na religião”, conta.
Hoje, mãe e filha seguem no Ifá, no Obasegun Jagun Edesola, sob o cuidado de um babalorixá amigo de longa data da família.
Mesmo longe da terra natal, Mãe Fátima nunca abandonou sua missão. Embora não tenha aberto casa em Campo Grande, continua atendendo quem a procura. Gente do bairro, da cidade, de outros estados. “Ela abre a porta e as pessoas vêm. Tem clientes de Curitiba, de Fortaleza. Ela continua atendendo, continua ajudando”, conta Raquel.
Em 2016, um AVC ameaçou interromper a trajetória da anciã. Mas, segundo a filha, o que surpreendeu médicos e conhecidos foi justamente a desenvoltura com que ela voltou à rotina. “A chama sempre continuou. O amor, a devoção. Nós vivemos dentro de casa como se estivéssemos dentro do terreiro, com os fundamentos todos os dias”, revela.
Hoje, mesmo com limitações físicas, ela segue aos ritos, consultas e encontros quando pode. “Vou continuar até quando puder”, afirma a anciã.
Além da devoção religiosa, Mãe Fátima é lembrada por seu papel político. Em Fortaleza, foi incentivadora de terreiros, articuladora de discussões sobre políticas públicas e uma das vozes mais firmes em defesa das tradições afro-brasileiras.

“Ela sempre foi muito à frente, sempre incentivou. Comentava as políticas públicas, fazia viagens, participava. É uma mulher que inspirou muita gente. As pessoas se encorajam através dela”, explica a filha.
Apesar das poucas palavras, resultado da idade já avançada, Mãe Fátima deixa um conselho para quem veio depois dela e resiste na fé. “Seja firme e humilde”, finaliza.
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