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Comportamento

De empacotadora a modelo, Miriam estreia na São Paulo Fashion Week

Miriam Santiago saiu de MS há quatro anos e, hoje, faz parte de uma das maiores agências de modelos do mundo

Aletheya Alves | 04/06/2022 13:28
Miriam Santiago durante sua estreia na São Paulo Fashion Week. (Foto: Leandro Chemalle/The News2)
Miriam Santiago durante sua estreia na São Paulo Fashion Week. (Foto: Leandro Chemalle/The News2)

Quatro anos depois de sair de Campo Grande em um ônibus de sacoleiros para tentar a vida em São Paulo, Miriam Santiago fez sua estreia nas passarelas da SPFW (São Paulo Fashion Week) - o evento de moda mais importante da América Latina. Modelo da agência Ford, ela desfilou pela grife Projeto Ponto Firme nesta sexta-feira (3), mas já foi desde empacotadora de supermercado até vendedora antes disso.

Longe de ter sido um processo tranquilo, a modelo conta que sua trajetória envolveu desde a descrença em conseguir chegar à profissão até passar fome em São Paulo e viver em meio às baratas. E, apesar de todas as dificuldades e questionamentos da sua história, desfilar na SPFW foi um dos seus grandes objetivos conquistados durante os últimos anos.

“Tudo na vida tem um momento e eu entrei na São Paulo Fashion Week no momento certo. Poderia ter sido antes? Poderia, mas acho que não seria tão especial como foi”, Miriam introduz sobre a experiência de desfilar no evento depois de uma vida com sonhos.

Contando que para chegar até os dias de hoje muita coisa aconteceu, a modelo e designer de moda lembra que tudo começou por aqui, entre as revistas de crochê da mãe, no bairro Residencial Oliveira 3. “Eu via aquelas meninas vestidas com roupa de crochê, aquelas modelos, e eu falava ‘cara, ainda vou estar nessa revista’, até porque era a minha primeira referência de moda”, explica.

Modelo vestiu o terceiro look do Projeto Ponto Firme. (Foto: Divulgação/Projeto Ponto Firme)
Modelo vestiu o terceiro look do Projeto Ponto Firme. (Foto: Divulgação/Projeto Ponto Firme)

Miriam não foi parar nas revistas de crochê da mãe, mas parecendo um fio condutor de filme, ela estreou na São Paulo Fashion Week com as peças do Projeto Ponto Firme, que usam, principalmente, a técnica do tecido.

“Para mim é tão simbólico estar desfilando com a Ponto Firme porque é basicamente feita de crochê, que foi minha primeira referência de moda. Além disso, há uma história linda por trás da marca, uma história de pessoas de penitenciária, mulheres trans que fizeram essa roupa. Tem um apelo social muito forte e é algo que eu amo”, detalha Miriam.

Assim como seu primeiro contato com a moda foi em Campo Grande, a modelo explica que o sonho de ir para as passarelas também nasceu e foi enterrado por vezes na cidade. Se lembrando de como pensava na infância, ela diz que seus objetivos eram claros: "eu era tímida, mas muito sonhadora. Tinha sonhos de ser muito famosa e de ser muito rica”.

De família simples e evangélica, Miriam explica que enquanto seus objetivos estavam definidos, o contexto parecia querer desfazer os pensamentos. “Eu sonhava muito alto, mas pelo fato dos meus pais serem da igreja e ter um sistema muito rígido lá, com tudo sendo pecado, eu ouvia muito que jamais seria modelo”, diz.

Miriam, a mais nova, com seus pais e sua irmã mais velha. (Foto: Arquivo pessoal)
Miriam, a mais nova, com seus pais e sua irmã mais velha. (Foto: Arquivo pessoal)

E, por muito tempo, a vida fez com que de fato ela imaginasse que suas vontades eram impossíveis. Com 15 anos, Miriam começou a trabalhar para ajudar nas finanças de casa e foi desde empacotadora de supermercado, vendedora de lojas em shopping até secretária.

Ainda em Campo Grande, ela chegou a fazer parte de uma agência de modelos e desenvolver alguns trabalhos, mas nada profissionalmente, como ela explica. “Eu tinha uma amigo que confiava muito em mim e me dizia que eu precisava deixar tudo para virar modelo e ir para São Paulo. E meu sonho já estava enterrado”.

Nessa época, Miriam trabalhava em um dos shoppings da Capital e, após fazer um concurso para trabalhar em hospital, recebeu o convite para atuar em uma propaganda da Cassems. Em seguida, ela passou a trabalhar na empresa e foi criando raízes, até que, como ela conta, percebeu que aquela vida não era a que tinha sonhado.

Durante os momentos de ócio no trabalho, Miriam começou a procurar por cursos de moda em São Paulo e, após encontrar uma possibilidade de bolsa de estudos, a vontade de se tornar modelo profissional retornou.

Comprei uma passagem daqueles ônibus de sacoleiros, que saem no dia anterior e chegam em São Paulo pela manhã, e vim. Cheguei e fiquei esperando até a hora de ir para a faculdade. fui para lá, fiz a prova e no outro dia chegou no meu e-mail que eu tinha conseguido. Fiquei tão feliz. Não eram meus planos, achei que fosse passar, mas falei ‘é agora ou nunca’, ela relembra.

Começando do zero

Mesmo sabendo que começar a vida em São Paulo seria difícil, Miriam pediu demissão no serviço de Campo Grande, fez as malas, colocou R$ 500 no bolso e foi sem conhecer ninguém. Passou quatro meses morando em um quarto alugado com um amigo também de Mato Grosso do Sul e, como se a experiência por si só não bastasse, os dois ainda precisaram sair do local sem nenhum preparo.

Sem renda fixa, não conseguiram alugar um espaço específico e, apenas na região central de São Paulo, é que encontraram um albergue para viver.

“Era um quarto mínimo para cada um, só cabia uma cama de solteiro e tinha um banheiro, além de uma infestação de baratas. Eram 30, 40 baratas passando o tempo todo, diz.

Na época, Miriam trabalhava como garçonete e até conseguir se estabilizar como modelo demorou. E até a história de como encontrou sua agência, uma das maiores do mundo, a Ford Models.

Ela conta que foi convidada por uma amiga para ir a um evento da Renner e a caminho dos banheiros do local é que tudo aconteceu. De acordo com Miriam, uma amiga blogueira havia indicado que ela participasse do evento e deveria conversar com colegas para não ficar sozinha, antes disso precisar ocorrer, ela foi convidada pela Ford.

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Dois bookers da Ford me encontraram. Perguntaram minha idade, se eu já tinha sido modelo e eu disse que tinha feito apenas alguns trabalhos, mas sem ser profissional. Então perguntaram se eu não queria ser modelo da agência deles. Nessa hora eu queria desmaiar porque a Ford sempre foi um ícone de agência, nunca eu iria imaginar na minha vida que iriam me convidar, explica.

Desde então, Miriam foi contratada pela agência e passou a integrar campanhas comerciais para diversas marcas, sendo a primeira de destaque a Eudora. Com o passar do tempo, novas marcas passaram a fazer parte da história da modelo, sendo a última, a Ponto Firme na São Paulo Fashion Week.

Reconstruindo o poder

Miriam destaca que além das dificuldades causadas tanto pela pobreza quanto pela falta de incentivo, um dos grandes obstáculos a serem enfrentados foi a falta de auto estima. “Eu sempre fui uma criança que me sentia muito feia, tinha uma auto estima muito baixa até porque sofria muito bullying na escola. Fui me sentir bonita de verdade aqui em São Paulo com 25 anos quando a Ford me chamou, mas mesmo assim eu não me sentia merecedora daquilo”.

Miriam faz parte do time da Ford Models. (Foto: Arquivo pessoal)
Miriam faz parte do time da Ford Models. (Foto: Arquivo pessoal)

Para a modelo, entender que ela era mais do que sempre acreditou foi uma etapa importante de seu crescimento.

Foi um processo muito grande de auto aceitação da mulher que eu sou, da mulher preta bonita e empoderada que sou, assim como da modelo. A auto estima é algo que é imprescindível na vida de cada um e se você não tiver, isso só te atrasa, ela pontua.

Agora, além de continuar sua carreira de modelo, Miriam se prepara para lançar seu primeiro trabalho profissional como stylist. Conforme ela detalha, sua produção será para o clipe de seu marido, Rafael Coelho, ainda a ser lançado.

E, para conhecer mais sobre o trabalho de Miriam, confira seu perfil no Instagram, @miriam.santiago.

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