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Comportamento

Depois de 2 filhos assassinados, a cura para luto de Roseli foi o jardim de casa

Em dois meses, ela montou o jardim dos sonhos, e encontrou no cuidado de suas orquídeas e plantas a paz pro coração

Thaís Pimenta | 22/06/2018 08:31
Foram precisos 2 meses para ajeitar o jardim do jeito que ela sempre quis. (foto: Paulo Francis)
Foram precisos 2 meses para ajeitar o jardim do jeito que ela sempre quis. (foto: Paulo Francis)

O sorriso ainda aparece discreto no rosto de Roseli Francisco. E a batalha para recuperar a felicidade foi, e continua sendo, diária. Lutar para viver, mesmo em luto, e com saudade, de dois de seus cinco filhos, que morreram assassinados, não é fácil para a mãe. ''Ainda tem dias que eu passo o dia todo no quarto'', diz. No tratamento contra a depressão, Roseli encontrou no cuidado com o jardim de sua casa um baita de um remédio contra a tristeza.

Hoje ela tem noção que sempre gostou de plantas e de gatos, ''desde que se entende por gente'', como pontua. Mas como morou por anos de aluguel, o processo de mudança de uma casa pra outra era um momento de martírio. ''Eu decidi que só voltaria a ter plantas quando tivesse minha casa própria''. Então, há 18 anos, ela realizou o sonho do terreno próprio e, pouco a pouco, na raça, ela foi arrumando o lar, até que finalmente o sonho de ter um jardim só seu foi se tornando realidade.

A primeira muda que Roseli plantou foi a das folhagens Cica, no muro dos fundos. Mal sabia ela que aquele cantinho de sua casa ficaria tão lindo alguns anos depois. 

Reaproveitando materiais que seriam descartados, Roseli fez esse belo jardim. (foto: Paulo Francis)
Reaproveitando materiais que seriam descartados, Roseli fez esse belo jardim. (foto: Paulo Francis)

Apaixonada por orquídeas, Roseli foi criando um apreço cada vez mais especial por essas flores. Foi por meio delas, inclusive, que a mãe teve certeza de que precisava montar seu jardim. ''Meu filho mais velho, Rodolfo, que faleceu depois de o filho mais novo, André, sempre foi muito carinhoso comigo e sabendo do meu amor pelas orquídeas, me deu uma muda de falaenopolis, que eu plantei no meu orquidário. Na época, ela já chegou pra mim sem botões abertos, e eu me lembro de ter até comentado com ele que não demoraria muito tempo para eles se abrirem''. 

Eles só não poderiam prever o trágico momento em que os botões floresceriam: dois dias depois de Rodolfo falecer. ''Pra  mim aquele foi um contato do meu filho comigo. Tomei como uma mensagem e decidi arregaçar as mangas pra colocar meu sonho de pé''.

Foram precisos apenas dois meses para a primeira parte do jardim de Roseli ficar prontinho. Reaproveitando pneus descartados, um carrinho de mão aposentado, banquetinhas e tocos de madeira, e uma cadeira de sua filha, Maria Beatriz, ela foi vendo renascer a esperança na vida a cada mudinha plantada. 

Carrinho de mão virou vaso. (foto: Paulo Francis)
Carrinho de mão virou vaso. (foto: Paulo Francis)
Vasinhos já existiam em casa. (foto: Paulo Francis)
Vasinhos já existiam em casa. (foto: Paulo Francis)

Com uma tinta, Roseli pintou esses artigos que seriam descartados de vermelho e lhes deu nova utilidade. ''Aqui tenho plantado onze-horas, cravo, gardênia, maria-sem-vergonha, vinca, pimenta ornamental, margarida, supercal, hortelã e samambaias. Todas elas gostam de sol e deixaram o jardim bem colorido'', detalha ela. 

Por dia são mais de 2 horas e meia entregues ao jardim. Isso sem contar quando ela se mete a cuidar das orquídeas. ''Aí eu chego a levar um dia inteiro''. Além de aguá-las, Roseli conversa com seus matos e passa horas admirando a sua pequenina floresta.

Guerreira, Roseli teve que aprender a cuidar de cada espécie que incluía em sua coleção. O orquidário foi o maior desafio. ''No início eu não sabia nada delas e perdi várias. Até que fui atrás de aprender. Entrei em um grupo de cuidadores de orquídeas e hoje faço parte do Associação de Orquídeas''.

Ela não descarta nenhuma espécie, nem mesmo as nativas. ''São plantas que muita gente nem dá bola mas todas tem sua beleza. Se eu encontro uma mudinha, se ganho, ou se compro, o valor é o mesmo''.

A última orquídea que Roseli ganhou de seu filho mais velho, Alberto.(foto: Paulo Francis)
A última orquídea que Roseli ganhou de seu filho mais velho, Alberto.(foto: Paulo Francis)

Aos olhos de quem vê o jardim de Roseli pela primeira vez ele parece perfeito, mas ela diz que ainda vai mexer em muita coisa por lá. ''Quero aumentar ele até o fim do muro, só que ali eu quero que tenham rosas e grama, com poucas coisas. Também pretendo mudar o carrinho de lugar e plantar as orquídeas em vazinhos já que os troncos em que elas estão cada dia apodrecem mais''.

O cuidado com seu jardim é tanto que, se ela quebra, por acaso, um galho de suas plantas, chega a pedir perdão para a natureza. ''Eu ter essas belezas na minha casa é uma dádiva da natureza. Só não tenho uma horta por causa do gato da Maria, que mora aqui''.

A semelhança com suas orquídeas vai além da beleza exterior de ambas. Assim como as catasetum, uma espécie de orquídea que passa a maior parte dos dias ''adormecida'', Roseli deve, finalmente, florescer tão bela quanto as flores da rara planta. Basta dar tempo ao tempo para que tudo floresça no coração da mãe.

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Cadeira foi ''emprestada'' da filhota para ornar no jardim de casa. (foto: Paulo Francis)
Cadeira foi ''emprestada'' da filhota para ornar no jardim de casa. (foto: Paulo Francis)
Quando vai cuidar das orquídeas, Roseli passa um dia todo ali. (foto: Paulo Francis)
Quando vai cuidar das orquídeas, Roseli passa um dia todo ali. (foto: Paulo Francis)
Flores dão alegria ao jardim e à vida de Roseli. (foto: Paulo Francis)
Flores dão alegria ao jardim e à vida de Roseli. (foto: Paulo Francis)
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