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Comportamento

Diário guarda amor de casal que se apaixonou na infância e envelheceu junto

Paula Maciulevicius | 26/11/2014 06:24
"Quero ver minha santinha, faz dias que eu não escrevo..." conta Ito em diário. (Foto: Simão Nogueira)
"Quero ver minha santinha, faz dias que eu não escrevo..." conta Ito em diário. (Foto: Simão Nogueira)

Ito e Zeula. Ou "Meu anjo" e "Santinha" viveram um amor que daria filme, novela, livro. Primos, se apaixonaram ainda na infância, namoraram e noivaram durante 13 anos até a chegada do grande dia. A história de amor deles serve de inspiração para os filhos e por que não para todos nós?

O Lado B perguntou a vários filhos se eles sabiam como os pais se conheceram. Separados ou juntos, presentes ou ausentes, a história de como pai e mãe descobriram o amor merece ser ouvida, contada e escrita. Genilaine de Araújo, psicóloga e filha de Airton e Zeula foi uma das primeiras a narrar com orgulho, o conto de fadas que viveu dentro de casa.

A mãe, Zeula Bauermeister de Araújo está quase chegando aos 70. Psicóloga e uma das pessoas mais doces que eu conheço, é a protagonista de hoje que tanto amou, foi e ainda é amada.

"Eles eram primos de primeiro grau. Essa é a mãe da minha mãe, esse é o pai do meu pai. Eles são irmãos. Meu avô é irmão da minha avó materna e essas são as famílias", apresenta Genilaine, os porta-retratos da estante, com fotos dos familiares até o casamento dos seus pais.

Genilaine, filha de Airton e Zeula, narra o conto de fadas que viveu dentro de casa. (Foto: Simão Nogueira)
Genilaine, filha de Airton e Zeula, narra o conto de fadas que viveu dentro de casa. (Foto: Simão Nogueira)

Por 13 anos eles se corresponderam por cartas e bilhetes de amor. A parte dele, Airton, hoje falta ao mesmo tempo em que está presente no amor descrito nas palavras. Em 1967, numa tarde de garoa, ele começou a escrever um diário.

"Não sei por que resolvi escrever um diário, mas se homens célebres escreveram, por que eu não?... A resposta mais plausível é um encontro comigo mesmo". Hoje os dizeres tem um significado ainda maior, de eternizar a "Santinha" que fazia vestidos a espera do primo.

"Nós morávamos longe, ele sempre estudou na Capital. E as cartinhas, eu guardo todas", explica Zeula.

A filha que cresceu ouvindo as histórias e indo até os lugares onde os pais namoravam no Sul do País fala que era para acontecer. "Eu tinha uma tia-avó, e minha mãe até falava que eu pareço muito com ela, ela promoveu um encontro deles. Trouxe flores, fez um arranjo na mesa, uma toalha e convidou os dois para um chá. Ficou muito claro que sempre existia um sentimento entre eles", descreve.

Ito e Zeula. Ou "Meu anjo" e "Santinha" . (Foto: Reprodução/Simão Nogueira)
Ito e Zeula. Ou "Meu anjo" e "Santinha" . (Foto: Reprodução/Simão Nogueira)

A ligação entre Ito e Zeula era mais forte do que qualquer laço sanguíneo. "Ele falava dela com muito carinho, esperava os encontros", continua a filha, Genilaine que agora tem como base as páginas do velho caderno do pai.

Criados juntos, mas separados quando Airton, com 2 anos a mais de idade, foi para Curitiba estudar, a volta para a casa era sempre aguardada. Ela, filha de um alemão rígido, cruzava os braços no sofá em frente à TV da família para poder dar a mão para ele.

"Eu achei lindo um trecho do diário que fala de um encontro deles. A minha mãe sempre foi muito romântica. Ela sabia quando ele ia para lá e fazia vestidos com lacinho e tudo", relata a filha.

"Quero ver minha santinha, faz dias que eu não escrevo. Fui em casa passar o feriado de Finados, vê-la um pouco foi minha compensação. Ela estava linda, se arrumou para mim. Seus olhos estavam tristes e demonstravam que ainda gosta de mim. Vi-a projetada ora entre a mansidão do mar, ora entre as flores. Nosso amor é como eles: profundo, manso, singelo, delicado e lindo. Ainda farei uma poesia com este tema".

A ligação entre Ito e Zeula era mais forte do que qualquer laço sanguíneo. (Foto: Simão Nogueira)
A ligação entre Ito e Zeula era mais forte do que qualquer laço sanguíneo. (Foto: Simão Nogueira)
Depois da ausência física, foram as palavras que trouxeram Ito de volta. (Foto: Simão Nogueira)
Depois da ausência física, foram as palavras que trouxeram Ito de volta. (Foto: Simão Nogueira)

"E ele fez", anuncia Genilaine. Já era poesia.

Foram 32 anos de casados, até que Ito faltou sem fazer essa escolha. Nas décadas de convivência e do nascimento dos quatro filhos, Genilaine conta que nunca viu uma briga e nem os pais falando alto. Pelo contrário, as trocas de juras de amor duram até hoje, quando a mãe, Zeula, relê as cartas.

"Hoje eu te amo muito mais que ontem, hoje eu te amo menos que amanhã e amanhã te amarei muito mais", dizia um dos cartões em comemoração ao aniversário de noivado deles. 

Inspiração para os filhos. Foi isso o que ficou do amor dos dois. "É bonito, uma esperança para todo mundo. É o sonho de todo mundo, ver um amor assim. De verdade e eterno". Genilaine se casou com o vestido da mãe na cerimônia civil e o véu no religioso. 

E é o amor de Ito que sustenta Zeula. Depois da ausência física, foi através das palavras dispensadas com profunda doçura que ele continua perto da amada. "Para estar junto não é preciso estar perto, mas sim do lado de dentro", dizia mais um dos cartões. 

"Agora estou indo para os 51 anos. Está na hora de ter boas ideias e sentir o bom sonho da vida a dois. A vida passa rapidamente. Na visão de um pensador, Deus dividiu uma só alma em duas metades. Colocou em dois corpos, um polar positivo, outro negativo, a fim de que se chamando e se abraçando pudessem expressar a beleza e profundidade do amor. És minha Zeula, minha outra metade. Você e eu continuamos juntos em uma só vida... Agradeço pelos 20 anos em que estamos juntos e por tudo o que fizemos. O nosso amor é como luz, o nosso amor é bonito. Quando tiver que olhar para trás, quando um de nós faltar, dirá que valeu a pena. Um beijo carinhoso do teu Ito". 

"Quando tiver que olhar para trás, quando um de nós faltar, dirá que valeu a pena." (Foto: Simão Nogueira)
"Quando tiver que olhar para trás, quando um de nós faltar, dirá que valeu a pena." (Foto: Simão Nogueira)
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