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Comportamento

Do outro lado do mundo, Karina teve aborto autorizado, mas não desistiu de Sarah

Thaís Pimenta | 27/07/2018 08:12
Primeiro dia em que Victor foi visitar a irmã Sarah na UTI Neonatal. Lívia já estava em casa com a vovó e a titia. (foto: Acervo Pessoal)
Primeiro dia em que Victor foi visitar a irmã Sarah na UTI Neonatal. Lívia já estava em casa com a vovó e a titia. (foto: Acervo Pessoal)

Karina Ricitelli viveu um dos momentos mais difíceis de sua vida na outra ponta do mundo, nos Estados Unidos, em Newtown, estado de Connecticut. Casada com o americano Stephen William há 6 anos, escolheu mudar de Mato Grosso do Sul por conta do relacionamento que lhe trouxe Victor, hoje com 3 anos.

Depois da família já formada, Victor pedia por mais um irmão e o pedido foi devidamente atendido: veio em dobro. Karina estava grávida de duas meninas e nem testes eram necessários para comprovar a gravidez porque, segundo ela, sua barriga já "estava imensa na primeira semana de gestação". Mas assim que passou a fazer os exames rotineiros recebeu a notícia de que um dos bebês tinha a doença TGA (Transposição das Grandes Artérias)

"Era um exame feito em uma clínica específica. Os técnicos descobriram que um dos bebês tinha um problema no coração que, segundo eles, era incompatível com a vida. O sangue não circulava de maneira correta no coração, como se as artérias estivessem trocadas, além dos vários buraquinhos na membrana pericárdio", explica a mãe.

Vovó e Sarah (foto: Acervo Pessoal)
Vovó e Sarah (foto: Acervo Pessoal)

De imediato, o corpo médico sugeriu que a gravidez fosse interrompida, pois em Connecticut o aborto é uma prática legal. Karina ficou surpresa. "Ela nem tentou outra opção. Nem tem certeza disso, foi só um exame. Eu pensei 'não vou fazer isso'. Saí dali, liguei pra minha ginecologista, e contei o que aconteceu. Ela me tranquilizou e disse que iríamos achar outro médico, outro lugar de confiança para fazer os exames e dar prosseguimento à gravidez".

Karina ouviu o diagnóstico num exame de rotina e o mundo virou de cabeça pra baixo a partir de então. O marido e o filho mais velho foram porto seguro para enfrentar o que estava por vir.

Estar longe da sua família, que mora no Brasil, foi um grande desafio neste momento. E Karina só conseguiu ter um parto mais tranquilo porque sua mãe, dona Maria Ines Bastos Quirino, despencou de Campo Grande para a cidade da filhota. Mais tarde, depois do parto, até a irmã ficou por algumas semanas com a irmã em Connecticut. "Não sei o que seria sem as duas", diz a ela.

Primeiro colo de Livia. (foto: Acervo Pessoal)
Primeiro colo de Livia. (foto: Acervo Pessoal)
Victor aprendendo a ser irmão com sua boneca.(foto: Acervo Pessoal)
Victor aprendendo a ser irmão com sua boneca.(foto: Acervo Pessoal)

O outro médico foi indicado. Tratava-se de Mohsen Karimi, o anjo da guarda de Sarah. "Fomos conversar com esse homem mas eu só chorava na consulta. Só pensava em como seria dali pra frente. Ele me alertou que a Sarah poderia vir com síndromes também, por conta da doença. No meu coração só sentia que independente do que ela tivesse, se conseguirem fazer ela viver eu quero, pode vir com o pé na cabeça que eu quero. E ele sabia o que estava fazendo, disse que já tinha feito aproximadamente 50 vezes cirurgias semelhantes".

A gravidez das menininhas da casa foram até 40 semanas, e fizeram a cesária dia 27 de julho de 2017. Elas nasceram ainda sem nome, que foram escolhidos depois de todo o tumulto que foi a gravidez.

"Primeiro veio a Livia que chegou direto para meus braços. Depois foi a vez de Sarah e o nervosismo era grande. Mohsen havia dito que talvez ela nem choraria por conta de seu coraçãozinho, e eu não pude nem olhar pra ela, a equipe médica a levou direto para a UTI, onde ficou na encubadora. Mas para minha alegria, o chorinho dela veio, como se dissesse que a situação não era tão crítica assim".

(foto: Acervo Pessoal)
(foto: Acervo Pessoal)

Os buraquinhos no coração ajudaram Sarah à viver. "O sangue misturava por conta deles. Sorte, porque achamos que era uma coisa ruim de início, permitia que por ali passasse a quantidade de oxigênio suficiente". Ela passou por cirurgias, enquanto a família vivia a loucura de cuidar da irmãzinha e do meninão!

Finalmente, no dia 19 de agosto ela saiu do hospital! "Veio pra nossa casa e ficou fazendo acompanhamento até os 7 meses". O amor entre as gêmeas ficou claro no primeiro olhar das duas. "Elas se cuidam e não se desgrudam". Até Victor passou por um treinamento para cuidar das irmãs. Com uma boneca, ele imitava tudo que sua mãe e a vovó faziam com as meninas, o que garantia momentos de alívio na tensão da rotina.

Para agradecer tamanha importância que Mohsen teve para a família Karina preparou uma surpresa para ele, algo que ele nunca poderia conseguir sozinho e que não tivesse preço. No outdoor em frente ao hospital de Yale, onde todos os procedimentos foram realizados, ela colocou uma foto de Sarah agradecendo pela vida e saúde da pequena, com os dizeres "Dr. Mohsen Karimi, thank you for saving Sarah" (Doutor Mohsen, obrigado por salvar Sarah).

"Assim que a mensagem foi instalada eu soube que ele não estava mais atendendo no hospital. Tive que mandar uma foto para ele. Mohsen me respondeu dizendo que eu fiz o dia dele e ficou emocionado ao ver como minha pequena está linda", finaliza ela.

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Mensagem está no outdoor em frente do hospital de Yale. (foto: Acervo Pessoal)
Mensagem está no outdoor em frente do hospital de Yale. (foto: Acervo Pessoal)
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