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Comportamento

Em pleno Santa Fé, família troca sala de jantar pela calçada todo santo dia

Paula Maciulevicius | 15/12/2014 06:12
É debaixo do pé de manga que eles fazem todas as refeições. E se a conversa tiver boa, se emenda almoço e lanche. (Foto: Alcides Neto)
É debaixo do pé de manga que eles fazem todas as refeições. E se a conversa tiver boa, se emenda almoço e lanche. (Foto: Alcides Neto)

Pode ser uma segunda, uma terça, um feriado, um domingo. Seja qual dia o calendário marcar, a partir das 11h, já tem mesa de plástico e cadeiras espalhadas na calçada. Em pleno bairro Santa Fé, na Rua João Akamine, a família de dona Genésia Gonçalves, de 81 anos, se acomoda. Há muitas décadas eles trocaram a sala de jantar pela calçada na frente de casa. É debaixo do pé de manga que eles fazem todas as refeições. E se a conversa tiver boa, se emenda almoço e lanche.

O Lado B já havia passado por ali algumas vezes. Mas achou que fosse meio improvável que o hábito não fosse restrito aos finais de semana ou feriados. Aliás, a regra é essa: se come com o prato na mão, conversando, falando do dia. A exceção é só quando a chuva resolve fazer uma 'boquinha' por ali também. E ainda assim, precisa chover forte, porque até pelos galhos e folhas da árvore, eles dão um jeito de se acomodar.

A família é grande, mas não é por falta de espaço na casa que eles se adaptaram assim. Foi por querer mesmo. "Só de filho, tenho 13, de neto? Ah, devem ser uns 40, 50, nem dá para contar", brinca Genésia. Moradora no bairro há 57 anos, a casa já foi erguida com o pé de manga à frente e faz parte da família tanto quanto qualquer filho ou neto.

Neto adotivo, advogado diz que na casa pode faltar tudo, menos comida. (Foto: Alcides Neto)
Neto adotivo, advogado diz que na casa pode faltar tudo, menos comida. (Foto: Alcides Neto)

Debaixo da árvore a gente pode contar: eram 10 cadeiras de plástico e uma só mesa. Naquele dia, "só cinco" tinham aparecido para almoçar, constatou dona Genésia.

Crescida em fazenda, foi na lavoura e na beira do fogão que ela e o marido, já falecido, criaram os filhos e fizeram a vida. O costume de receber muita gente na varanda e também cozinhar para dezenas de barrigas já vem desde sempre. Então, é normal que em casa isso se repita, mesmo que seja em bairro considerado nobre. "É um privilégio, tranquilo, ninguém incomoda... As pessoas passam e ficam olhando, uns têm vontade de chegar aqui, bater um papo comigo, eu falo: pode vir", convida a senhorinha.

A sombra do pé de manga é realmente convidativa, assim como o cardápio. Só de almoço era arroz, feijão, polenta, peixe, galinha, carne e salada. Um verdadeiro banquete, digno de festa em pleno dia de semana.

Só de almoço era arroz, feijão, polenta, peixe, galinha, carne e salada. (Foto: Alcides Neto)
Só de almoço era arroz, feijão, polenta, peixe, galinha, carne e salada. (Foto: Alcides Neto)

Neto adotivo, como se apresentou o advogado Cleronio Nóbrega, de 40 anos, a hora do almoço já havia passado e ele aproveitava a pausa para um descanso. "Aqui é o ponto de encontro da família e a comida é gostosa, tem sempre áa quem está passando. Aqui, pode faltar qualquer coisa, menos comida", alerta.

De fato, dona Genésia concorda e ainda exemplifica "só olhar o povo que você vai ver", brinca. 

O almoço, a rotina e a vida sob o pé de manga é o maior prazer para a senhorinha. A comida, é sempre feita de montes e fica aberto à quem quiser se achegar.

"Vender? Eu só vendo ou saio aqui se tirarem meu pé de manga. Tenho tudo aqui, meus filhos, meus genros, meus netos".

"Vender? Eu só vendo ou saio aqui se tirarem meu pé de manga", avisa dona Genésia. (Foto: Alcides Neto)
"Vender? Eu só vendo ou saio aqui se tirarem meu pé de manga", avisa dona Genésia. (Foto: Alcides Neto)
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