ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, QUINTA  25    CAMPO GRANDE 27º

Comportamento

Entre canteiro de obras e música, Leandro quer fama como “Cowboy de Portugal”

Aos 8 anos, ele começou a trabalhar com seu pai, José Carlos, cavando poços e o ouvia cantar o sertanejo raiz

Alana Portela | 18/08/2019 08:35
Na pausa da obra, Leandro Àvila pega o violão e solta a voz (Foto: Paulo Francis)
Na pausa da obra, Leandro Àvila pega o violão e solta a voz (Foto: Paulo Francis)

Trabalhando em construções e cantando nos bares de Campo Grande, Leandro Àvila se divide entre o canteiro de obra e a música. Aos 38 anos, ele é o “Cowboy de Portugal” e já gravou CDs com músicas de autoria e em parcerias com artistas conhecidos. “Gravei com a Paula Mattos a canção ‘Orelhão’, que conta a história de dois amigos que se conheceram na infância e se apaixonam quando adultos”, contou.

Ele também fez parceria com a dupla Alex e Yvan e gravaram a música “Batidão da Viola”. “Esse é um modão, que escrevi em menos de um dia”, disse. Apesar da tentativa, ainda não alcançou o sucesso desejado, porém não desanima e sai nos finais de semana tocando nos bares da Capital.

O interesse pela música surgiu através de seu pai, José Carlos, que era pedreiro. Ele quem o ensinou a não ter medo de serviço e colocar a mão na massa, quando ainda tinha 8 anos de idade. Na época, a família precisa de renda extra para manter a casa. “Era de baixa renda, meu pai furava poços e me ensinou. Cavávamos muito, e os buracos tinham que ser bem profundos”.

O pedreiro finalizando o fechamento de um poço (Foto: Paulo Francis)
O pedreiro finalizando o fechamento de um poço (Foto: Paulo Francis)
Colocando a mão na massa (Foto: Paulo Francis)
Colocando a mão na massa (Foto: Paulo Francis)

Atualmente, Cowboy continua seguindo os passos do pai. Foi seu primeiro trabalho na área, mas nunca esqueceu dos aprendizados e dos momentos que atuou ao lado de José Carlos. “É difícil pedirem esse serviço, a não ser que não tenham rede de esgoto em casa, mas continuo na área”, disse. Para ele, o serviço é como se aproximasse de seu pai.

Passou a trabalhar em construções e aceitava os serviços que apareciam. Enquanto “batiam” massa, seu pai cantava para fazer o tempo passar mais rápido. Eram canções de Chitãozinho e Xororó, João Mineiro e Marciano, que de tanto ouvir, Cowboy pegou gosto pela música. Cresceu em meio ao serviço pesado, até que aos 20 anos decidiu arriscar na música.

“Ele era apaixonado por sertanejo e comecei a gostar também. Sozinho, fui aprendendo a tocar violão e até montei uma dupla chamada ‘Leandro Àvila e Elizeu’. Nos apresentamos por um ano, depois encerrou. Meu pai sempre me acompanhava nas apresentações”, recordou. Com um chapéu na cabeça, botina e violão, Cowboy rodou a cidade de bar em bar e montou uma agenda de shows.

Cowboy dentro do poço que cavou (Foto: Arquivo pessoal)
Cowboy dentro do poço que cavou (Foto: Arquivo pessoal)

Como estava familiarizado às músicas antigas, criou um repertório de sertanejo raiz e misturava com outros estilos quando pediam. Certa vez, um produtor que morava em Portugal esteve em Campo Grande e por coincidência, sentou-se num bar onde Cowboy estava se apresentando. Ouviu-o cantar e ao final lhe fez uma proposta de trabalho para o exterior.

“Gostou do meu trabalho e fez um contrato de seis meses para me apresentar em Portugal. Fui pra lá e vi como era o mercado, o sertanejo tem bastante influência e passei a tocar em outros locais. Era de segunda a segunda, durante a semana as apresentações aconteciam em restaurantes e nos finais em clubes”, lembrou.

Seu pai sempre orgulhoso, claro. Se falavam com frequência, mas após dois anos da mudança, José Carlos descobriu um problema no rim e passou a fazer tratamentos médicos. No entanto, a cada dia que passava sua saúde ficava mais complicada. Numa dessas, para sentir que o filho estava por perto, ele ligou para Cowboy e pediu que gravasse a música “Folha Seca” do cantor Amado Batista. Queria ouvir a música na voz do filho.

“Gravei um disco e fiz a dedicatória especial pra ele. Mandei por Sedex e hoje toda vez que tem um show canto essa música, porque traz à lembrança do meu pai”. Foram sete anos em Portugal, até que precisou voltar para Campo Grande, e ajudar a cuidar de José Carlos. “Ele tinha que fazer tratamento e estava muito debilitado. Tinha que dar apoio. Somos em quatro irmãos e vim ajudar”.

Dois anos após o retorno de Cowboy, seu pai faleceu de insuficiência renal. Contudo, Cowboy decidiu continuar cantando, como homenagem a José Carlos, e concilia com seu outro trabalho, que também traz recordações da infância e juventude.

Selfie tirada por uma amiga de Cowboy, que canta no microfone e aparece ao fundo, na foto. (Foto: Arquivo pessoal)
Selfie tirada por uma amiga de Cowboy, que canta no microfone e aparece ao fundo, na foto. (Foto: Arquivo pessoal)

Manteve o perfil sertanejo e ganhou o apelido de “Cowboy de Portugal”, o chapéu na cabeça, fivela na cintura e botinas nos pés colaboraram para o codinome. Com mais bagagem do que na época que se mudou da Capital, ele continuou no mundo da música.

Já que havia juntado um bom dinheirinho com as apresentações em Portugal, Cowboy construiu uma casa de shows no bairro Colibri 1, para cantar. “Tinha esse sonho de cantar, mas quando comecei fechavam muito as portas”. O dinheiro deu para fazer parte da obra, porém, precisava de mais recurso para concluir o projeto.

No mesmo período, gravou um CD, e na tentativa de divulgar o próprio trabalho e levantar mais recurso, usou uma estratégia. “Quem comprava um CD ganhava o segundo. Vendia por R$10,00. Batalhei muito, passava em vários locais e todos onde tinham pessoas oferecia. Foram vendidas e distribuídas 40 mil cópias. Fui até para Dourados, Aquidauana, Sidrolândia. O dinheiro usei para finalizar meu clube em 2014”, recordou.

Atualmente o clube funciona mais para locação do espaço. “As pessoas fazem eventos. A maioria que loca me contrata para fazer show nos finais de semana”, disse. Enquanto isso, Cowboy trabalha de segunda a sexta, das 7h30 às 17h30 como pedreiro nas obras da prefeitura da cidade, pega construções por fora quando sobra tempo e também se dedica a carreira de cantor. “Meu objetivo é fazer sucesso”, destacou.

No vídeo, Cowboy solta a voz e canta a música "Bijuteria" da dupla Bruno e Marrone. 

Contato para shows: (67) 9 9141-7559

Curta o Lado B no Facebook e no Instagram.

O Cowboy de Portugal se apresentando  (Foto: Arquivo pessoal)
O Cowboy de Portugal se apresentando (Foto: Arquivo pessoal)
Nos siga no Google Notícias