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Comportamento

Entre os adolescentes, a lição de como fugir de notícia mentirosa

Psicólogo alerta para o "descarte" de notícia por não concordar com a fonte que a propagou

Mayara Bueno | 02/10/2018 16:41
As amigas Samar e Karen no banco da escola. (Foto: Marina Pacheco).
As amigas Samar e Karen no banco da escola. (Foto: Marina Pacheco).

Em um cenário tão bombardeado de informações, principalmente na internet, adolescentes afirmam que sabem diferenciar notícias falsas e verdadeiras e ensinam como costumam tentar escapar das já conhecidas “fake news”.

As afirmações contrastam com dados do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica) 2017, divulgados pelo MEC (Ministério da Educação), que apontam conhecimento insuficiente e inadequado por estudantes.

É claro que a pesquisa leva em consideração outros fatores, mas no que diz respeito ao discernimento de notícias, que demanda interpretação de texto e dados, ao menos os entrevistados pelo Campo Grande News afirmam que sabem.

Samar Alri Ghaddara, 18 anos, procura se inteirar do que está acontecendo no Estado e no País por jornais mais tradicionais e também em conversa com os pais. “Eu geralmente tento ver quem é a fonte”. Ela lembra que tem muita gente que posta algo em rede social, mesmo sem saber as fontes e que ela procura fazer diferente. “Eu pergunto da onde tirou, se é de algum site. Sempre peço a fonte”.

Votando pela primeira vez deste ano, a jovem diz que escolheu seus candidatos pesquisando fontes oficiais e assistindo ao programa eleitoral. “Ainda mais agora, em época de política. É muita discussão que gera conflito, então eu tento sempre saber antes”.

A amiga Karen Eduarda Lopes Aquino, 19 anos, já prefere não assistir jornais e nem se informar pelas redes sociais. “Fico sabendo geralmente pelas pessoas. Não gosto muito”.

“O pior meio é por rede social, porque o que é divulgado muitas vezes é notícia falsa”, afirma Tiago de Souza Pereira, 18 anos. Para ele, o que torna a rede social um ambiente tão suscetível às notícias falsas, é a rapidez com que uma informação chega e se espalha. “A gente vive numa grande bolha, fica fechado no nosso meio de interesse. Então, chega uma notícia do nosso interesse, a gente compartilha sem nem saber a fonte”, avalia.

De sua parte, o jovem afirma que, geralmente, descarta notícias divulgadas no Facebook. E, quando algo noticiado por lá chama atenção, ele procura pesquisar no Google para ver qual o site de origem. “E isso, infelizmente, ainda não é garantia”.

O mesmo pensamento tem João Pedro Borges, 18 anos. Quando nota uma notícia com 'cara' de mentira, procura comparar se a informação saiu em pelo menos dois veículos de comunicação confiáveis. “Já dá para acreditar um pouco mais”.

“Consigo diferenciar olhando qual é a página que postou. Confio mais se for da página oficial de um jornal, por exemplo”, diz Eric Pinheiro, 15 anos. Ainda um pouco longe da obrigação de votar, Fernando Arruda, também de 15 anos, afirma que procura ver dois fatores: qual a fonte e a se a notícia faz algum sentido.

Tiago de Souza fala sobre como pesquisa notícia. (Foto: Marina Pacheco).
Tiago de Souza fala sobre como pesquisa notícia. (Foto: Marina Pacheco).
O estudante João Pedro na saída da escola. (Foto: Marina Pacheco).
O estudante João Pedro na saída da escola. (Foto: Marina Pacheco).

Descarte – O psicanalista Tiago Ravanello explica que avaliar um fato como verdadeiro porque ele corresponde algo que de fato ocorreu é “muito simplista”. “Ela [constatação] não dá conta de fenômenos complexos como a política, como as relações sociais, humanas e familiares, etc”.

Segundo o profissional, é comum que jovens digam ou repassem algo não por ser verdadeiro ou falso, mas porque cria um “efeito” que pode ser medido por curtidas ou compartilhamentos. É uma forma, junto com outros fatores, de o jovem, por exemplo, se afirmar no meio social e construir uma imagem de si.

Thiago Ravanello durante entrevista. (Foto: Mayara Bueno).
Thiago Ravanello durante entrevista. (Foto: Mayara Bueno).

Até mesmo o que os adolescentes citam sobre “saber quem é a fonte”, o psicólogo levanta a discussão sobre descartar quem produz alguma notícia alvo de discórdia, simplesmente por não concordar, não necessariamente por ser mentira.

“Então ao invés de pensar: eu tenho de interpretar o texto, a gente substitui por: eu preciso saber a fonte. E se eu não gosto da fonte, eu não preciso desconstruir, não preciso criticar, mas atacar a fonte. Ao invés de dizer que eu não concordo com a notícia que foi veiculada, porque eu vou avaliar os fatos, porque eu vou interpretar e vou fazer uma crítica, eu digo esse canal não me serve, então eu bloqueio ele. Descarto, como a gente tem feito tudo”.

A explicação do profissional vai de encontro com o que o MEC aponta. Os dados referentes aos estudantes sul-matogrossenses indicam que, num universo que avaliou a proficiência com classificação de 0 a 9, o nível médio não passou do 6 – considerado básico e aquém do esperado pelo sistema de ensino.

Quanto à língua portuguesa, os alunos das escolas públicas saem do ensino médio sem saber localizar informações explícitas em infográficos, reportagens, crônicas e artigos; identificar a finalidade e a informação principal em notícias, diferenciar fato de opinião em contos, artigos e reportagens e identificar a informação principal em reportagens.

Para o professor Antônio Sales, doutor em Educação e professor da Uniderp, a questão é saber porque os estudantes não estão aprendendo bem. "Na minha perspectiva, o problema do baixo rendimento escolar dos nossos estudantes não está limitado às paredes escolares ou à metodologia de ensino adotada. É preciso repensar muita coisa". Ele cita gestão escolar e das secretarias, conflitos ideológicos, entre outros, como fatores a ser discutidos e analisados.

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