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Comportamento

Há quase 20 anos, bar gay tinha palco na rua e gaiola na 15 de Novembro

Naiane Mesquita | 18/09/2015 06:34
Jean tocou o espaço por seis meses até precisar assumir os negócios da família (Foto: Gerson Walber)
Jean tocou o espaço por seis meses até precisar assumir os negócios da família (Foto: Gerson Walber)

Em 1997, um bar pequenininho na rua 15 de novembro não se importava com a falta de espaço e montava o palco na rua, convidando quem quisesse a subir e dar uma palinha. No "It", um dos primeiros bares gays a assumir a proposta segmentada LGBT na Capital, liberdade era a palavra-chave. O ex-proprietário Jean Pierre Michel, 50 anos, garante que não havia diferenças e todos se divertiam juntos ao som dos sucessos da época e de shows de drag queens.

Como todo sagitariano, Jean Pierre é um festeiro convicto. Ele lembra que a ideia de criar o bar surgiu após a comemoração do seu aniversário, em 5 de dezembro. “Todo ano, no meu aniversário eu fazia uma festona. Eu tinha um conhecimento grande de como era a noite gay em São Paulo e no exterior e quis trazer isso para cá, com artista da noite, drags, gogo boys, até o lançamento da G Magazine”, afirma o empresário.

O bar ficava na mesma quadra do antigo Cine Campo Grande e como o espaço interno era pequeno, o jeito foi inventar um palco na rua. “Era um palco aberto e as pessoas montavam o show e subiam. Isso porque era a época sertaneja em Campo Grande, então o que acontecia, acabava os bailes quatro horas da manhã e todo mundo subia para lá. Gays, lésbicas, travestis, drags, os cowboys e soldados, todos ficavam assistindo os shows com artistas regionais”, indica.

Ponto onde ficava o bar na 15 de novembro
Ponto onde ficava o bar na 15 de novembro

Jean jura que nunca saiu uma briga no bar, que durou apenas seis meses. “Não tinha rixa, briga, nada. Por isso que quem viveu lembra até hoje. Não tinha tanta marginalidade como antigamente. Pegava fogo, mas não tinha tanta malícia na noite, hoje em dia é muito diferente”, acredita.

A data em que o It abriu as portas, Jean não lembra muito bem, apenas que era em dezembro. Um tempo depois surgiram outras opções para a noite LGBT, como o Bistrô. “Eu ajudei o João Henrique com o Bistrô, que de bar depois virou boate, principalmente com as drags que eu conhecia. No ITE eu colocava drags para recepionar o público, eram as hostess. Fazia um sucesso, porque nunca ninguém tinha visto isso aqui”, explica.

Jean conta ainda que tinha até uma gaiola dentro do bar, onde homens e mulheres dançavam. “Contratava gogo boys e gogo girls. Eu trazia muita gente de fora, das antigas, as transexuais de São Paulo, drags, Léo Áquilla, Adriana Martinelli, mas tinha também o pessoal daqui, como a Susi Washington, lindíssima e que era de Campo Grande. Na época, eu levava o pessoal de fora para casa, ficava todo mundo lá e ainda almoçavam na minha mãe, minha família nunca ligou”, relembra.

Na época, como era novidade, os sul-mato-grossenses do interior montavam caravanas para curtir a noite gay. “Gente de Dourados, Corumbá participavam da festas. Eu pedia permissão da prefeitura e até fechava a rua”, diz.

Apesar de ter bombado, o bar só durou seis meses. Jean precisou assumir os negócios da família e acabou se desligando da noite. “Um dia meu pai chegou e disse ou você trabalha de dia ou de noite, os dois não dá. Encontrei uma pessoa para comprar o espaço, mas ela não soube seguir com a proposta, queria meu público, mas não deu”.

Das lembranças ficaram apenas as fotos que ele tem dificuldade de encontrar e a saudade de uma noite LGBT animada. “Não vejo uma noite assim em Campo Grande há muito tempo. Sinto saudades, mas não tenho mais pique”, confessa. Agora, onde antes a cor reinava só sobrou o vazio com grades brancas.

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