Na mesma esquina há 50 anos, borracheiro já salvou até governador
Bom de memória, Florêncio lembra da época em que região na Avenida Mato Grosso era imensidão de fazendas
Quando Florêncio Pereira Guedes nasceu, em 1941, não existiam prédios altos, nem semáforos na esquina da Avenida Mato Grosso com a Rua 13 de Junho. Tudo era terra batida, ponto de boiadeiro e fazendas ao redor. Bom de memória, ele lembra que o asfalto só veio anos depois, em 1955.
Hoje, aos 83 anos, é no mesmo lugar, exatamente onde nasceu, que Florêncio ainda bate ponto todos os dias na borracharia que ergueu há 50 anos com as próprias mãos e que ainda salva muita gente nessa cidade esburacada. Ali o que não falta é gente pedindo socorro quando o pneu perde a vida.
O lugar abre de segunda a segunda e descanso só das 7 da noite às 7 da manhã do dia seguinte. Mas, ainda assim, ele diz que ainda abre exceções. “Se bater algum desesperado, amigo mesmo, a gente atende. Antes eu até ficava aberto à noite mas hoje em dia é perigoso”, conta.
Com meio século de trabalho, Florêncio conta que faz todo o tipo de serviço relacionado a pneus e já atendeu senador e até governador. "Muita gente importante já passou por aqui. Desde a época dos carros boiadeiros, até político atual", afirma.
A borracharia de esquina foi herança do pai, baiano que chegou no local em 1919, quando tudo era mato e fazenda. A mãe, vinda do Rio Grande do Sul, também se estabeleceu na região, onde os dois se casaram e montaram inicialmente uma fábrica de colchões. Ali, foi criada a família Guedes.
"Eu tocava a fábrica do meu pai e a borracharia junto. Quando ele morreu fiquei só com a borracharia. Aprendi o serviço com um amigo que me que me ensinou tudo e assim fui levando”, conta.
Com meio século de experiência, Florêncio já viu de tudo e, segundo ele, não sobrou ninguém da “velharada” da época. “Meus amigos velhos já morreram todos só sobrou eu", brinca.
Ver a cidade crescer ao redor, segundo ele, foi como ver um filho virar adulto. “Aqui era chão batido, nem água tinha. Energia era fraquinha, não é como hoje em dia. Fui vendo tudo mudar, cada pedacinho dessa cidade. Hoje, conheço Campo Grande como a palma da minha mão” relata.
Casado, o borracheiro criou a filha única com o sustento da borracharia. “Toda a vida sustentei todo mundo aqui dentro e continuo aqui até hoje. Vou longe ainda”, garante.
Depois da perda da esposa, vítima da covid há dois anos, ele diz que se garrou ainda mais ao trabalho e à rotina em meio aos pneus. "Aqui eu vou levando a vida. Só paro quando Deus me levar, e tomara que isso demore um pouco", finaliza.
Receba as principais notícias do Estado pelo celular. Baixe aqui o aplicativo do Campo Grande News e siga nas redes sociais: Facebook, Instagram, TikTok e WhatsApp.