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Comportamento

Neta e avó de 94 anos são cumplicidade comovente em fotos da vida em família

Paula Maciulevicius | 23/09/2015 06:45
"Dias tristes acabam mais rápido quando se tem uma vó cheirosa pra dormir junto". (Fotos: Arquivo Pessoal)
"Dias tristes acabam mais rápido quando se tem uma vó cheirosa pra dormir junto". (Fotos: Arquivo Pessoal)

Se a cumplicidade fosse "personificada" com certeza seria dividida em duas. Renata e Delmira. Neta e avó que protagonizam o sentimento quase que diariamente nas redes sociais. O amor da vida de uma é a outra, a ponto de elas tirarem uma foto peladas para mostrar como o tempo faz história ou combinarem que ao invés da "morte", quando chegar a hora, dona Delmira fará uma viagem, de avião, para o Rio de Janeiro.

Renata tem 25 anos. Delmira, 94. As duas sempre foram próximas, mas passaram a dividir o mesmo teto há 16 anos, depois que a transferência do genro saiu, dona Delmira seguiu de Bela Vista para Ponta Porã com a filha, genro e a neta.

São 11 netos, nove bisnetos. Renata é a terceira das meninas, mas a mais próxima, tanto fisicamente, quanto de alma. "A minha mãe ficou na casa da vó quando engravidou, porque era de risco e a vó ajudou, não sei se isso justifica, porque desde sempre tem uma coisa que eu não sei explicar. A vó sempre foi meu amor e eu o dela. Parece que sinto isso de forma concreta até", explica a neta, a jornalista Renata Boeira.

"Velhinhos são crianças nascidas faz tempo".
"Velhinhos são crianças nascidas faz tempo".

Dona Delmira guarda segredo como ninguém. E se a neta pede algo que exija responsabilidade, ela desenvolve incrivelmente. "Ela é impecável com acordos, nunca me deixou na mão. No tratamento que faço para depressão, já perdi as contas de quantas vezes ela foi meu norte", diz a neta.

Um dos acordos selados entre as duas é quanto à partida. Sem data para chegar, neta e avó sabem que não falta muito. "A parte ruim é que a vida toda tive medo dela ir 'viajar', como a gente combinou de chamar a hora que ela ir embora", descreve Renata. A avó brinca que quando isso acontecer é para dizer que ela viajou, de avião, para o Rio de Janeiro. "Ela só conhece São Paulo, o Rio é como um desejo mesmo. Acho que ela tem vontade porque sempre vê na TV. Tem aquela ideia romântica", imagina a neta.

É por telefone, no viva-voz, que a gente conversa com a dona Delmira. Eu pergunto daqui, a neta repete de lá. A lucidez é perfeita, mas a audição já ficou alguns anos para trás. Na primeira resposta, a avó já solta uma risada e todo bom humor.

"Eu amo a minha neta. No que a gente mais se parece? Ela é muito bonita, não é parecida comigo agora, porque eu já estou velha e ela está nova". 

No dia a dia, a senhorinha diz que o mais ama na neta são as conversas e o fato de que Renata explica tudinho para ela. "As coisas que antigamente não tinha, a internet, eu fico admirada com o computador. É tanta coisa diferente que eu não sei e ela me explica", ri.

"Diz, quem é maior que o amor?"
"Diz, quem é maior que o amor?"
"Escopa de 15 pra comemorar os 93 anos".
"Escopa de 15 pra comemorar os 93 anos".
"Dia 11 de março é dia dela e todos os outros também são. Feliz aniversario, vó! As coisas mais lindas e puras do mundo pra ti!"
"Dia 11 de março é dia dela e todos os outros também são. Feliz aniversario, vó! As coisas mais lindas e puras do mundo pra ti!"

A gente não vê a feição, mas entende a alegria pelo tom de voz. Dona Delmira estava toda contente não pela entrevista em si, mas pelo orgulho de falar da neta. "A gente toma chimarrão todo dia. De manhã e à noite, mesmo no calor. Se eu não tomo, me dá dor de cabeça", relata.

O que ela mais gosta de fazer é jogar baralho. Escopa de 15. A 'velhinha' dá um banho em todo mundo e é difícil ganhar dela na mesa. "É difícil mesmo, mas olha é tudo brincadeira, não é dinheiro não", frisa. Se fosse, dona Delmira já tinha era deixado a família toda pobre.

"Eu chamo ela de Renatinha porque ela é a minha netinha. Ela dorme comigo, sai para passear comigo, eu sou muito apegada à ela", explica.

Benzedeira oficial da família, Delmira tem para si que "a fé faz muita coisa" e que guardar segredo, também. "Eu guardo e muito. Palavra por palavra, a gente guardando, passa melhor minha filha. Renata me conta o segredo dela e eu guardo no meu coração. Custa sair da minha boca, eu não conto", reforça.

Quando "aperta" o coração, é para a neta que ela recorre e vice-e-versa. "A gente sempre foi amiga. Ela é minha neta e minha amiga do coração".

" Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto."
" Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto."

Sobre o acordo da "viagem", ela explica que firmou porque assim prefere. "Eu já tenho meus pais falecidos, alguns irmãos e isso é muito triste. A morte é muito triste. Eu não quero que fale que eu morri, fala que eu fui viajar, que eu acho que tem mais fundamento. Nosso fim, a gente sabe, é morrer. Mas não diga não, diz que eu fui viajar, de avião..."

A avó fez e formou a pessoa que Renata é. Disso a menina não tem dúvidas. Refúgio, exemplo, fortaleza. "Nela eu encontrava um lugar que eu podia ficar em paz, desde criança, ela me deu isso".

Em casa, todo dia é uma alegria quando Renata acorda e vê que a avó está lá, sorrindo para mais um dia. "Conviver com ela me fez ter uma humildade muito grande com a vida, no sentido de ver que a gente não é nada. A velhice é algo muito cruel para nos mostrar isso.

Quando eu vejo alguém sendo esnobe ou querendo ostentar com futilidade, eu não entendo. Porque o importante mesmo é só a troca que temos. As pessoas que amamos. A vó me deu isso, de poder ver essa realidade".

E num dos dias mais engraçados da vida de Renata, a avó e a mãe protagonizaram ao lado dela uma foto paa ficar na história. A ideia foi da neta, por se impressionar com o que o tempo faz e provoca no corpo. "A minha avó tem uma beleza que o tempo fez nela", justifica.

Para isso, ela tomou coragem e propôs à Delmira que fizesse um registro. Ela, mãe e neta. As três sem roupa. "Eu perguntei se ela aceitava, porque eles têm um pudor diferente não é? Eu disse que precisava que ela tirasse a roupa. Ela tirou na hora, sem perguntar e falou que confiava em mim".

Feita a foto, dona Delmira, no meio, se segurou para não cair no riso.

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