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Comportamento

Quem é rei nunca perde a majestade, mesmo se o reinado for em rua deserta

Paula Maciulevicius | 31/07/2015 06:23
"Por que eu sou rei? Porque eu faço qualquer tipo de conserto". (Foto: Marcos Ermínio)
"Por que eu sou rei? Porque eu faço qualquer tipo de conserto". (Foto: Marcos Ermínio)

Rua Aquidauana, praça de mesmo nome. A placa anuncia "Nilton alfaiate, o Rei do Conserto" e com o número de telefone abaixo. Nilton Rocha tem 66 anos, é alfaiate desde os 17 e passou as últimas duas décadas costurando na realeza campo-grandense.

"Por que eu sou rei? Porque eu faço qualquer tipo de conserto. Apareceu um aqui também querendo conhecer, agora já sabe que eu sou o rei". E é na simplicidade, atrás da máquina de costura, que ele responde o porquê da placa.

"É que eu faço coisas que os outros alfaiates não fazem, eles mandam coisa aqui para mim porque ninguém gosta de fazer. Fazer e consertar é bem diferente. Eu vou consertar o que alguém já errou. Estragou o colarinho da camisa? Traz aqui para o rei", se vende. Até se rasgar pedaço, ele conserta. "Eu sou modelista, estilista, é assim que fala né?" pergunta.

Alfaiate desde menino, Nilton viu a confecção chegar com força e tirá-lo do reino. (Foto: Marcos Ermínio)
Alfaiate desde menino, Nilton viu a confecção chegar com força e tirá-lo do reino. (Foto: Marcos Ermínio)

O óculos é a coroa e o cetro é o dedal que o acompanha quando o ponto é feito na agulha. Rei que é rei, nunca perde a majestade, mesmo que o reinado mude para uma rua onde quase não passa ninguém.

Depois de 18 anos no coração da cidade, bem na esquina da 14 de Julho com a Dom Aquino, logo acima da banca do Hélio, ele se mudou para a frente da Praça Aquidauana, num trecho bem pacato do Centro. Saiu de lá levando consigo a mesma pompa com que atendia a clientela quando o espaço era enorme. "É que defasou a profissão por conta da confecção, hoje você vai na loja e está tudo pronto", explica.

Há quatro anos que o reinado mudou de lugar. A placa, assim como o apelido, não foi ideia sua. "Foi um cliente que me deu, mandou fazer e me deu. E o apelido, não fui eu que pus, foram os fregueses".

Fiel escudeiro, o som Toshiba só toca música de baile. (Foto: Marcos Ermínio)
Fiel escudeiro, o som Toshiba só toca música de baile. (Foto: Marcos Ermínio)

A origem da nobreza do alfaiate é de uma fazenda entre Dourados e Ponta Porã. "Nasci na fazenda do meu pai, fui registrado em Ponta Porã, mas nunca morei lá", conta. No histórico, Nilton passou por Dourados e também morou em Brasília.

O ofício, aprendido tão cedo, veio das mãos de um amigo. "É igual barbeiro, sabe? Você fica conhecido, vira amigo de um e um dia ele pergunta se você não quer aprender a profissão. Foi assim com a alfaiataria e eu me entusiasmei", diz.

Nas mãos estava um calça social de um cliente que ganhou uns quilinhos a mais. O jeito foi tirar as pregas para deixá-la um tamanho maior. Ao lado do rei, o fiel escudeiro é um velho aparelho de som Toshiba, comprado na extinta lojas Arapuã, que só toca música de baile.

No final da entrevista, ele pede para que seja falado que, além de ser o rei, ele também mora ali. "Aqui é alfaiataria 24h, caiu botão, pode bater até se for no domingo", e se despede.

Hoje o reinado do alfaiate fica na Praça Aquidauana. (Foto: Marcos Ermínio)
Hoje o reinado do alfaiate fica na Praça Aquidauana. (Foto: Marcos Ermínio)
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