ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
MAIO, SEXTA  10    CAMPO GRANDE 24º

Comportamento

Reginaldo é o amolador de facas que mantém tradição na história da família

De um jeitinho tradicional, ele já está na profissão há três décadas

Thailla Torres | 29/04/2017 07:10
Resistente, Reginaldo acredita ser o único amolador artesanal pelas ruas de Campo Grande. (Foto: Alcides Neto)
Resistente, Reginaldo acredita ser o único amolador artesanal pelas ruas de Campo Grande. (Foto: Alcides Neto)

Seu Reginaldo é uma figura de antigamente. Pelas ruas de Campo Grande, ele mantém viva uma tradição antiga que acompanha sua família há mais de cinco décadas. Amolador artesanal de facas, ele caminha pela cidade com um modelo de bicicleta adaptada exercendo o ofício de porta em porta.

A cena que dificilmente se encontra nos dias atuais, prova que há tradições que continuam como uma marcação do passado. E é o que traz satisfação a Reginaldo Severino Xavier, de 42 anos.

Ele mora no bairro Taquarussu, mas caminha por várias regiões da cidade em busca de clientes. Muitos já estão acostumados com a chegada dele. "Tem gente que eu bato na porta e diz que eu cheguei na hora certa", fala.

Bicicleta foi adaptada para ser carregada em qualquer canto da cidade. (Foto: Alcides Neto)
Bicicleta foi adaptada para ser carregada em qualquer canto da cidade. (Foto: Alcides Neto)

Apesar da existência de tecnologia para quase tudo nessa vida, parece que nada substitui quem tem a técnica para deixar bem afiado o alicate ou aquela tesoura pequena, que é o xodó de algum artesão. "Não é fácil amolar, se for tentar sozinho até estraga, principalmente o alicate", defende Reginaldo que trabalha para que sua profissão não desapareça.

Ele nasceu em Jundiaí (SP), mas cresceu com a família em Anaurilândia (MS). Aprendeu amolar com o pai que sustentava a família na mesma profissão. Aos 10 anos, ele começou a circular pelos bairros da cidade e ainda dividia espaço com a concorrência da época. Hoje, acredita ser o único amolador artesanal da cidade atendendo em domicílio.

Na resistência, ele continua porque sabe que a profissão está na memória de muita gente. "Onde eu passo tem alguém que já conheceu um amolador como eu e serviço no falta".

Mas ele também lida com a curiosidade dos mais jovens que ficam intrigados assim que Reginaldo posiciona a máquina para amolar. Sentado como se fosse andar de bicicleta, com as pedaladas surge o som da lâmina de aço.

Uma das suas clientes é moradora do Jardim dos Estados. Ela prefere não se identificar, mas diz que a família não abre mão dos serviços de Reginaldo. Em menos de 20 minutos, ele amola cinco facas a residência. Diariamente consegue até 10 clientes e o serviço custa R$ 7,00 para amolar faca, alicate, tesoura, facão, foice ou enxada.

É preciso técnica para amolar as tesouras sem danificar a peça.
É preciso técnica para amolar as tesouras sem danificar a peça.
Serviço é feito na porta de casa e na frente do cliente. (Foto: Alcides Neto)
Serviço é feito na porta de casa e na frente do cliente. (Foto: Alcides Neto)

Para Reginaldo, a profissão é uma herança de um saber técnico, que garante a sobrevivência da família e o futuro dos filhos. Mas para encontrar caminhos de sustentar à atividade, ele precisa usar a simpatia para fazer amigos.

O que antes era fácil de fazer no interior, aqui ele encontra dificuldades por conta do crescimento da cidade. "Quando eu termino o trabalho, deixo a máquina em alguma oficina, pego o ônibus e vou para casa. No outro dia eu sempre encontro outro lugar para fazer o serviço".

Até hoje só encontrou gente disposta a ajudar, mas é preciso ter boa conversa. "Tenho que explicar meu trabalho, mostrar a bicicleta pra pessoa confiar. Tem gente que já pensou que era roubada", diz.

Solteiro e pai de três filhos, Reginaldo tem o maior orgulho da profissão, mas sente que o trabalho pode ser esquecido nas próximas gerações. "Meus filhos não quiseram aprender, acho que eles tem vergonha de bater na casa das pessoas. Mas eu não tenho, nunca tive motivo para sentir vergonha".

Curta o Lado B no Facebook.

Nos siga no Google Notícias