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Comportamento

Semana especial dá protagonismo a idosos porque "eles ainda existem"

Objetivo é promover a valorização, o respeito e a conscientização sobre os direitos e a importância deles

Por Natália Olliver | 01/10/2024 12:26
Irene Brites, em evento da Semana do Idoso, na praça Ary Coelho (Foto: Natália Olliver)
Irene Brites, em evento da Semana do Idoso, na praça Ary Coelho (Foto: Natália Olliver)

“Não tem um único segredo para envelhecer bem, o meu é viver a vida, curtir, sorrir, brincar mais e fazer tudo o que você acha que deve. Nunca dizer não posso, porque você pode”.

Para Jane Maria Tortorelli, a idade não diz nada além do tempo já vivido. Aos 78 anos, ela conta que se considera protagonista da própria história e feliz em envelhecer de forma ativa, tanto mental quanto fisicamente. Esse é o sentimento que a Semana do Idoso quer apresentar aos aposentados, que eles podem assumir o papel principal da própria vida.

Nesta terça-feira (1º), na praça Ary Coelho, coração de Campo Grande, o início das atividades, para o período de conscientização sobre os idosos e comemoração dos 21 anos do Estatuto deles reuniu alunos da UMA (Universidade da Maturidade) da UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul), agentes de saúde da SESAU (Secretaria Municipal de Saúde), Funtrab (Fundação de Trabalho de Mato Grosso do Sul), além do Procon.

Zirleide Barbosa, subsecretária estadual de Políticas Públicas para Pessoas Idosas ressalta que, até a metade do século passado, ser idoso era considerado quase como uma doença, “um atestado de óbito ambulante”. Hoje, não significa mais a mesma coisa.

“Depois de muitas lutas e uma constituição que vem garantindo os direitos da pessoa idosa, isso não é mais considerado. Mas ainda existem muitos preconceitos e estigmas com a velhice na sociedade. Quando se reúnem grupos, instituições e o próprio governo é para mudar essa forma de pensar e garantir que elas tenham esse direito, como por exemplo, ser recolocado no mercado de trabalho”.

Zirleide Barbosa, subsecretária de Políticas Públicas para Pessoas Idosas (Foto: Natália Olliver)
Zirleide Barbosa, subsecretária de Políticas Públicas para Pessoas Idosas (Foto: Natália Olliver)

Ela acrescenta que com o passar dos anos as pessoas começaram a viver mais e melhor, o que estende mais o tempo em que alguém é considerado idoso. “Antes eles trabalhavam e ‘logo’ morriam, hoje não, elas vivem mais e a pergunta é: estão vivendo como? O que fazer para que elas tenham os seus direitos garantidos?”.

Apesar dos avanços, ainda existem idosos que não conhecem o lazer, atividades laborais ou cursos gratuitos, conforme a subsecretária. “Ainda não acompanha para todos, um grupo de pessoas idosas está tendo acesso mas ainda não são para todos, por não conhecerem, não poderem ou conseguirem".

Para envelhecer de forma ativa que a ex-contadora, Jane Maria Tortorelli, entrou na UMA. Ela se orgulha em dizer que é caloura da instituição. Na universidade faz cursos de português, arte e cinema três vezes na semana.

Ex-contadora, Jane Maria Tortorelli, aluna caloura da UMA (Foto: Natália Olliver)
Ex-contadora, Jane Maria Tortorelli, aluna caloura da UMA (Foto: Natália Olliver)

“Tô gostando muito, tô amando, está me desenvolvendo. Faz muita diferença, atividade e principalmente a dança. Eu não sei dançar, mas vou mesmo assim na Vovó Ziza, que é muito bom. Vou nos bailes. Estou na ativa, vou no clube dos sargentos. Participo bastante para não entrar em estresse”.

Já Irene Brites, de 68, conheceu a UMA após a morte da mãe. Ela se refugiou no conhecimento para lidar com a dor.  “Eu sou veterana, agora participo mais de eventos, mas foi libertador, liberta a dor. Estive em um  processo de luto que tinha perdido a minha mãe e fui pra lá arrastando correntes, foi a coisa mais linda que me aconteceu".

Sobre o um ano e meio que esteve no local, Irene diz sentir saudades da turma. Por isso começou a ir em outros projetos pela cidade. "Eu fiz muita coisa lá [na UMA]. Fiz a formatura em julho e morro de saudades da turma. Isso me fez querer continuar aprendendo, faço espanhol e memorizadas. Continuo estudando, leio muito”.

Irene era técnica de enfermagem e comenta que estando assim, ativa, a aposentadoria não foi de todo ruim “É difícil, mas eu não paro em casa, sou visita na minha casa, gosto muito de frequentar shows, teatro música, escuto o dia inteiro. Para mim não teve problema me aposentar".

Atividades de mobilidade e alongamento foram feitas nesta terça-feira pelos alunos da UMA (Foto: Natália Olliver)
Atividades de mobilidade e alongamento foram feitas nesta terça-feira pelos alunos da UMA (Foto: Natália Olliver)

Outro lado da velhice 

Apesar de ser descrita como “a melhor idade”, a realidade não é bem assim. Ana Maria Thimóteo da Silva, presidente do CEDPI/MS (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa) comenta que além do abandono, os idosos ainda esbarram em questões básicas como quebra de direitos que permeiam a dignidade humana. Alimentação, higiene, acesso ao lazer e cultura.

“A gente precisa conscientizar as pessoas idosas e quem cuida delas para que percebam onde elas violam esses direitos. Hoje o que a gente mais tem é a violência física, infelizmente, que acontece em maioria dentro dos ambientes que deveriam proteger eles, como a própria casa e instituições”.

Ela pontua que a violência contra os idosos não atinge exclusivamente uma única camada social, todos, dos 60 aos 100 anos, podem estar sujeitos a algum tipo de violência. O cenário é visto pela presidente como algo enraizado na cultura.

“Temos trabalhado bastante para tirar isso. Queremos que todos entendam que tem que proteger a pessoa idosa e que quando ver um direito sendo violado também saiba que é responsável por isso, que tem que denunciar”.

Assitência médica, nutricional e fisioterapêutica foram oferecidas aos idosos (Foto: Natália Olliver)
Assitência médica, nutricional e fisioterapêutica foram oferecidas aos idosos (Foto: Natália Olliver)

Ana Maria acrescenta que um dos fatores que contribuem com o cenário é o isolamento social após a aposentadoria.

“Uma das coisas fundamentais para envelhecer bem é o convívio social. A gente entende que a pessoa idosa ativa, que frequenta um ambiente de universidade e estudos, seja informal ou não, centro de convivência e esporte estão menos sujeitas às violações. As pessoas mais isoladas são as que mais correm risco. Por isso a gente sempre trabalha com empregabilidade, não pra que elas sejam obrigadas a voltar a trabalhar, mas para que tenham a escolha, que as portas estejam abertas”.

Para que os idosos deixem, cada vez mais, as estatísticas de violência, a saída é estimulá-los a envelhecerem bem e ativos, ou seja, dar a eles atividades e possibilidades de continuarem a se especializar, caso queiram e o mais importante, acesso.

Ana Maria Thimóteo da Silva, presidente do CEDPI/MS (Foto: Natália Olliver)
Ana Maria Thimóteo da Silva, presidente do CEDPI/MS (Foto: Natália Olliver)

“A gente vê, cada vez mais, os idosos ativos. A gente percebe, você vê pessoas com até 80 muito ativas e lúcidas, vê que essas pessoas são as que socializam, porque ajuda nesse processo de estimular o físico e o cérebro”.

Conforme Ellen Lane, 26 anos, profissional de educação física da UMA, 140 idosos participam do projeto que leva  a terceira idade até a universidade de maneira gratuita.

“Poucas pessoas conhecem, mas nós temos muita procura, tivemos que abrir turma nova de tarde. A UMA tem menos de dois anos. A primeira turma se formou agora em junho, não quis parar uma aula mesmo depois de formados e aí pediram mais, fizeram lista para abrir a turma, abrimos uma nova para os veteranos”.

Atualmente há 20 vagas disponíveis. Para se candidatar basta comparecer no bloco D da UEMS, localizada na Av. Dom Antônio Barbosa, 4155 - Vila Santo Amaro. Para se inscrever clique aqui.

Também há oferta de cursos na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul).

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