Luciano Huck narra trecho de “quase morte” e “milagre” vivido em MS
"Vivemos os piores quatro minutos das nossas vidas”, diz apresentador em vídeo
Angélica, como se estivesse fazendo uma prece, fazia repetidamente um pedido aflito: “Pousa, pousa!”. “Nós não vamos pousar, nós vamos cair.” Falei para eles olhando para cada um nos olhos”.
Seis anos após o pouso forçado de avião que levava Luciano Huck, Angélica, os filhos e duas funcionárias, o apresentador lançou um livro onde conta detalhes do episódio ocorrido em Mato Grosso do Sul, em 2015.
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Luciano usou as redes sociais para divulgar um trecho da obra em que narra os momentos de desespero e de “quase morte”.
O livro De Porta em Porta é dividido em duas partes: numa, Huck usa as entrevistas que fez no ano passado com gente como Yuval-Noah Harari, Esther Duflo, Michael Sandel e Anne Applebaum para tentar explicar os movimentos do mundo nesta segunda década do século; na outra metade, ele procura compartilhar memórias pessoais e relatos de encontros com brasileiros anônimos.
Um dos capítulos narra com detalhes o acidente ocorrido nas proximidades da rodovia MS-080, a seis quilômetros do córrego Ceroula, na fazenda Palmeira, em 24 de maio de 2015. Passageiros e pilotos foram resgatados pelos Bombeiros e ninguém ficou gravemente ferido.
Leia o trecho completo narrado pelo apresentador:
"Antes da morte existe um silêncio, um vácuo de som em que tudo parece estar suspenso. Todos que estavam naquela cabine ouviram o som desse silêncio.
O avião bateu no chão. Ouviu-se então um estrondo ensurdecedor misturado com sons agonizantes de ferragens se dilacerando. O avião deslizou por mais de 200 metros pelo capim alto do pasto ermo. Só parou quando o bimotor que vinha arrastando cercas de arame farpado que dividem os pastos da fazenda, se chocou com o trecho mais elevado do terreno. Ouviu-se um novo silêncio.
Todos vivos. Um milagre. Na vida há sempre um momento de confrontação profunda com a verdade. Aquele instante no qual o futuro da gente se define. O meu foi esse, num descampado do Pantanal do Mato Grosso do Sul, numa manhã de domingo de 24 de maio de 2015. O dia estava deslumbrante. No céu azul não havia nem sequer um fiapo de nuvem. Quando o avião começou a subir, mirei a paisagem pela janela. Toda essa paz durou pouco.
Faltando cerca de 130 km para o aeroporto de Campo Grande, o barulho do avião mudou. O painel mostrava que um dos motores havia apagado. Dali em diante, vivemos os piores quatro minutos das nossas vidas. Quando começamos a perder a altura, mirei a paisagem de novo pela janela, agora com os olhos bem preocupados. Naquele momento devíamos estar a uns três mil pés do solo ou cerca de um quilometro, o que é muito baixo. As crianças começaram a gritar. Já não havia dúvidas que não chegaríamos ao aeroporto.
Léa e Didi, que tanto nos ajudam com as crianças, estavam petrificadas, em silêncio. Angélica, como se estivesse fazendo uma prece, fazia repetidamente um pedido aflito: “Pousa, pousa!”. “Nós não vamos pousar, nós vamos cair.” Falei para eles olhando para cada um nos olhos. “Todo mundo bota o cinto e abaixa a cabeça.”
Segundos depois já estávamos perto do solo. O piloto desligou os motores. Foi então que se deu aquele silêncio estranho que parece prenunciar a presença da morte. O bimotor colidiu três vezes contra o solo, subindo e descendo, até derrapar de lado e finalmente parou, apoiado em uma das asas.
Antes disso, vi Angélica voando da cadeira e batendo a cabeça na lateral oposta da cabine. Tivemos muita sorte. Além de contar com a perícia do piloto, Osmar Frattin e do co-piloto José Flávio Zanatto.
Mais tarde no hospital, descobrimos que fui eu o único passageiro a se machucar com mais gravidade. Quebrei a décima primeira vértebra, mas naquela hora, cuidando da família, não sentia nenhuma dor. A queda me tirou de vez da zona de conforto. Comecei a refletir sobre por que Deus havia sido tão generoso comigo sobre qual seria o meu chamado nessa segunda chance, nessa nova vida.
Da porta para dentro de casa, ficou claro que Angélica e eu deveríamos priorizar ainda mais o que já era prioridade: Nossa família.
Da porta para fora, iniciei uma cruzada pelo conhecimento. Queria ouvir, ouvir e ouvir mais um pouco. Percebi que deveria usar meus privilégios para servir aos outros. Este livro resume um pouco desse convite ao aprendizado e à transformação que somos capazes de fazer. E também uma singela homenagem ao conhecimento, à ciência e à potência de quem se esforça para fazer deste mundo... um lugar melhor para todos."
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