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Sabor

Ele comprou restaurante de patrão assassinado para manter empregos

Com parte do Trem Pantanal ao lado, restaurante mantém história de um patrão que sempre foi amigo de todos

Thailla Torres | 30/03/2022 08:20
Braunei mantém restaurante em espaço histórico de Aquidauana, na companhia do "Trem do Pantanal". (Foto: Paulo Francis)
Braunei mantém restaurante em espaço histórico de Aquidauana, na companhia do "Trem do Pantanal". (Foto: Paulo Francis)

Ao perguntar indicação de um restaurante para comer peixe no almoço, a sugestão do restaurante Estação Pantaneira, em Aquidauana, chega acrescida de duas observações: aquele que tem o Trem do Pantanal ao lado e que o antigo dono morreu.

Na mesa, enquanto um dos funcionários anota o pedido, ele conta outro detalhe que chama a atenção. O novo dono é o antigo gerente, que resolveu comprar o restaurante depois que o patrão foi assassinado para manter o emprego de outros dois colaboradores.

Braunei de Arruda é o novo proprietário. Simpático e andando de um lado para o outro do salão, ele comanda e também atende os clientes. Quando questionamos a história, ele confirma, mas acrescenta. “O emprego era importante, mas queria manter também a história dele por aqui. Quem o conhecia sabia que ela era um bom patrão e gostava muito do restaurante”, conta.

Braunei era amigo de Ronaldo dos Santos Batista, o antigo dono foi vítima de latrocínio em Aquidauana. À época, o crime comoveu a cidade e muitos amigos, especialmente Braunei, que via no patrão um grande amigo. “Era um homem de bem, que tratava as pessoas com muito respeito. Ronaldo era amigo dos seus funcionários e admirado por muita gente aqui. O que aconteceu com ele foi muito injusto.”

Trem do Pantanal fica a poucos metros do restaurante. (Foto: Paulo Francis)
Trem do Pantanal fica a poucos metros do restaurante. (Foto: Paulo Francis)
Por dentro, detalhes estão deteriorados. (Foto: Paulo Francis)
Por dentro, detalhes estão deteriorados. (Foto: Paulo Francis)

Logo após o falecimento, Braunei e outros dois funcionários resolveram continuar no restaurante. A família de Ronaldo, embora estarrecida com o crime, até decidiu manter o estabelecimento, mas não teve forças para continuar. Foi quando surgiu oportunidade e o gerente fez oferta para comprar o restaurante. “A família de Ronaldo também é maravilhosa, a mãe dele me tem como um filho. Decidi que manter o restaurante seria uma forma de manter a história dele.”

A compra foi feita e, nos últimos anos, Braunei está no comando do estabelecimento. O lugar, que hoje fica na estação de trem, tem parte do Trem do Pantanal na área externa da estação. Os vagões abandonados estão com parte interna deteriorada. Do restaurante, é possível ver o que restou da história e do tempo que o trem era protagonista no lugar.

Para o dono, essa ligação com a história é o que torna o lugar especial. “Gosto muito daqui, não pretendo sair.”

Braunei lembra que começou a trabalhar como garçom aos 19 anos, quando saiu do quartel. De lá pra cá, ganhou experiência em restaurante e nunca mais abandonou o ofício. “Nem de longe eu imaginava que esse seria meu destino, mas gostei e quis continuar.”

Hoje, ele afirma que a tarefa de manter um restaurante não é fácil, “especialmente com a alta nos preços de tudo”, pontua. “Mas a gente faz por amor, né. Além disso, é gratificante quando a pessoa comenta que gosta do nosso peixe.”

No self-service diário, tem pratos tradicionais, massa, e claro, o tradicional peixe. Tem dia que é moqueca e no outro, peixe frito. Experimentamos também o pirão, bem saboroso para quem não dispensa o caldo. E mesmo no calor, o prato esgota no buffet.

Feliz com a visita, Braunei diz animado que, com a chegada da novela Pantanal, acredita que o turismo na região vá se fortalecer e espera que os tempos de glória para donos de restaurante venham no combo. “Principalmente, depois de momentos tão difíceis na pandemia.”

O restaurante funciona na Rua Bichara Salamene, 286.

Espaço manteve empregos e história de antigo dono. (Foto: Paulo Francis)
Espaço manteve empregos e história de antigo dono. (Foto: Paulo Francis)

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