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Meio Ambiente

Após piracema, ciclo recomeça e mostra a importância da vida nos rios

Filhotes de peixe, desovados durante o período de defeso, iniciam trajetos para explorar diferentes áreas

Por Izabela Cavalcanti | 29/05/2025 14:28


RESUMO

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Após quatro meses de piracema, período de defeso que se estendeu de 5 de novembro de 2024 a 1º de março de 2025, os rios de Mato Grosso do Sul exibem resultados positivos. Cardumes de alevinos, filhotes de peixes, podem ser observados em pontos como o Rio Miranda, evidenciando a importância da preservação do ciclo reprodutivo. A piracema, período em que diversas espécies migram rio acima para desova, é crucial para a renovação das populações e a manutenção do equilíbrio do ecossistema. A Operação Piracema 2024/2025, que contou com a participação de policiais militares ambientais, fiscais do Imasul e policiais da PMR, resultou em diversas autuações por pesca ilegal. Embora a piracema seja essencial, especialistas alertam para a necessidade de conservação dos rios e controle da construção de barragens, que interferem na migração e reprodução dos peixes. A liberação da pesca, apesar de aguardada, demanda responsabilidade para garantir a sustentabilidade e o equilíbrio dos ecossistemas aquáticos.

As águas dos rios de Mato Grosso do Sul começaram a revelar os frutos silenciosos do período da piracema. A natureza, que teve tempo para se recompor e se renovar, de 5 de novembro de 2024 até 1º de março de 2025, agora mostra cardumes jovens nadando às margens dos rios.

Vídeo que circula nas redes sociais exibe o resultado após quase 4 meses de espera: milhares de alevinos — filhotes de peixe — nadando em segurança às margens do Rio Miranda, próximo à ponte do 21, no município de Bonito (MS). A cena, registrada no dia 26 de maio, reforça a importância do respeito ao ciclo natural de reprodução dos peixes.

A piracema é o momento em que os peixes sobem os rios para desovar, garantindo a continuidade das espécies. Por isso, durante esse período, a pesca é proibida.

Os peixes que precisam migrar são das espécies dourado, piau, corimba, pacu, jaú, pintado e cachara, podendo percorrer longas distâncias — mais de 100 quilômetros de rio.

O ictiólogo Heriberto Gimênes, que também é biólogo e curador do Bioparque Pantanal, explica a importância do defeso na prática.

“A piracema é fundamental para a manutenção e o equilíbrio dos ecossistemas aquáticos, pois é o período em que os peixes realizam a migração reprodutiva, garantindo a renovação das populações", diz ele.

O profissinal lembra que "esse fenômeno assegura a diversidade genética, a sobrevivência das espécies e o fornecimento de alimento para outros animais que dependem desses peixes ao longo da cadeia alimentar. Além disso, a piracema sustenta a pesca de forma sustentável, quando respeitada”.

Em relação ao ciclo, o biólogo pontua que o período de defeso acontece de forma natural, coincidindo com as chuvas.  “O ciclo da piracema ocorre, geralmente, entre os meses de outubro e março, coincidindo com o período de chuvas e aumento do nível dos rios. Nessa fase, os peixes nadam contra a correnteza, muitas vezes percorrendo grandes distâncias, para alcançar locais adequados à reprodução".

"Esse comportamento de migração, reforça, é conhecido popularmente como piracema que significa ‘subida dos peixes’. As fêmeas liberam os ovos, que são fertilizados pelos machos. Esses ovos eclodem e as larvas são levadas pela correnteza até áreas marginais e alagadas, onde podem crescer em segurança e com oferta de alimento. Após a desova, os peixes adultos retornam para os canais principais dos rios”, explica.

Após piracema, ciclo recomeça e mostra a importância da vida nos rios

Barragens - Na teoria, a piracema é suficiente para manter as populações naturais de peixes. Mas não é somente isso que importa, conservar os rios e manter longos trechos livres de barragens também é essencial nesse processo.

As barragens criam barreiras físicas que impedem ou dificultam a passagem dos peixes para as áreas de reprodução. Em alguns casos, as espécies não conseguem ultrapassar as represas, ficando impedidas de completar seu ciclo reprodutivo.

De acordo com o ictiólogo Diego Garcia, Mato Grosso do Sul possui duas principais bacias hidrográficas: a do Rio Paraguai, principal afluente do Pantanal, e a do Rio Paraná, uma das maiores bacias hidrográficas do País.

“A maioria delas está localizada na bacia do Rio Paraná. Podemos citar como exemplo as barragens de Ilha Solteira, Jupiá, Porto Primavera, essas são as principais barragens de Mato Grosso do Sul, fazendo divisa com o estado de São Paulo. Mas, existem projetos e ideias para se implantar novas barragens no Estado, principalmente na Bacia do Alto Rio Paraguai, o que colocaria em risco a reprodução e a piracema dos peixes do Pantanal, por isso que é preocupante, isso afetaria diretamente a reprodução dos peixes nessa região”, pontua.

Ainda segundo ele, algumas barragens no Brasil têm sistemas de transposição de peixes, como escada e elevadores.

“Mas, elas são pouco eficientes no sentido de que alguns peixes sobem, conseguem transpor a barragem por esses sistemas, mas muitos deles não retornam rio abaixo. Além disso, quando eles chegam no reservatório que fica acima da barragem, as condições também não são boas para a reprodução, para a desova. Então, eles saem de um ambiente com água corrente e chega num com água parada. Então, muda completamente a condição do rio."

As barragens modificam o regime de vazão dos rios, reduzindo ou controlando a correnteza, o que afeta os estímulos naturais que desencadeiam a piracema.

Após piracema, ciclo recomeça e mostra a importância da vida nos rios
Três pessoas praticando pesca em um barco motorizado, em rio de Mato Grosso do Sul, durante o entardecer (Foto: Saul Schramm)

Resultado - A Operação Piracema 2024/2025 mobilizou 320 policiais militares ambientais, 70 fiscais do Imasul (Instituto de Meio Ambiente) e 120 policiais da PMR (Polícia Militar Rural).

Foram apreendidos 1.095,97 quilos de pescado ilegal, resultando na aplicação de R$ 477.415,00 em multas.

Ao longo da fiscalização, foram feitas 344 barreiras em estradas e 442 patrulhamentos fluviais. Durante as ações, mais de 9.200 pessoas e 8.000 veículos foram abordados. O trabalho resultou em 70 prisões em flagrante, além do cumprimento de dois mandados de prisão. No patrulhamento fluvial, foram percorridos 2.648 km de rios e abordadas 278 embarcações.

Conforme explica o Imasul, o monitoramento ocorre via satélite e com o uso de ferramentas de inteligência georreferenciada, que ajudam a identificar pontos críticos de pesca ilegal.

A liberação da pesca é um momento aguardado pelos pescadores, mas também exige responsabilidade para a preservação das espécies e o equilíbrio dos ecossistemas aquáticos de Mato Grosso do Sul.

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