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Meio Ambiente

De volta ao lixão, catadores misturam queixas à comemoração

Aline dos Santos e Viviane Oliveira | 15/01/2013 11:07
Na manhã de hoje, 60 pessoas entraram no lixão. (Foto: Pedro Peralta)
Na manhã de hoje, 60 pessoas entraram no lixão. (Foto: Pedro Peralta)

Ao se deparar com o primeiro descarte do caminhão de coleta, o catador Márcio de Lima Gomes, de 34 anos, não se conteve e pulou no lixo. “As pessoas não sabem o quanto isso faz falta para quem não tem de onde tirar sustento. Fiz disso aqui a minha profissão”, conta, após o mergulho no detritos.

Na manhã desta terça-feira, Márcio foi um dos 60 catadores que puderam retonar ao lixão de Campo Grande, no bairro Dom Antônio Barbosa, que após 28 anos de atividade havia “fechado as portas” no fim de 2012. Enquanto trabalha em meio à sujeira e mau odor, o grupo sonha com o fim do dia. Quando o destino da maioria será o supermercado.

Em uma hora de coleta, Márcio garantiu R$ 25. O colega Vagner da Fonseca Pompeu, de 38 anos, foi ainda mais rápido: obteve R$ 25 em 15 minutos. Há sete anos trabalhando no local, ele mora no terreno invadido em frente ao lixão. “Melhor não pode ficar”, diz Vagner sobre o retorno financeiro da atividade.

No entanto, ele demonstra preocupação com o fato de a reabertura ser provisória, até a conclusão da UTR (Usina de Triagem). “Trabalhei lá na usina, mas faltei três dias para cuidar do meu filho doente e fui mandado embora. Agora, tenho que esperar dois meses para voltar”, relata. Ele tem dois filhos de 3 anos e cuida dos enteados de 12 e 17 anos. Com o fechamento do lixão, passou a coletar materiais recicláveis nas ruas.

Vagner reclama da forma de remuneração na unidade de triagem, feita de 15 em 15 dias. Antes com regras próprias, os catadores resistem a se enquadrar no novo modelo de trabalho, que prevê, por exemplo, desconto do valor do uniforme.

Conforme o representante da CG Solurb, Gustavo Pitaluga, o pagamento quinzenal foi definido pelos próprios catadores. “Se quiserem, a remuneração pode ser semanal”, afirma. A CG Solurb vai receber R$ 1,3 bilhão para fazer a gestão dos resíduos sólidos da Capital por 25 anos.

Resistência – Apesar do funcionamento do lixão ter sido liberado apenas das 8h às 18h, de segunda-feira a sábado, os catadores prometem que vão permanecer no local à noite e cobram funcionamento 24 horas.

Por dia, serão descarregados as cargas de 70 caminhões. Outra reclamação é o horário reduzido para entrada de compradores, das 8h às 10h. Maria Estela Carsoso, de 38 anos, compra os recicláveis no lixão há mais de uma década, Segundo ela, em média, são pagos valores de R$ 50 a R$ 150. Ela revende para duas empresas.

Achados – Além da venda dos recicláveis, a catadora Cláudia Souza Campos, de 39 anos, relata que o trabalho na montanha de lixo também proporcionava achados. “Já encontrei três tanquinhos, micro-ondas, forninho para pão e churrasqueira elétrica”, conta. Com uma bala alojada na coluna e apenas um rim, ela ressalta que outra “vantagem” de trabalhar no lixão é fazer o próprio horário de expediente.

Do lixo, eles também recolhem alimento. Caminhões de supermercados eram venerados. “Pegava presunto, mussarela, frango, arroz, lata de óleo”, lembra a catadora. Segundo ela, os produtos estavam perto do prazo de validade. “Mas nunca me fez mal”.

O pedido para reabertura do lixão partiu da Defensoria Pública, que alegou que as pessoas ficaram sem acesso ao ganha-pão, e a Justiça concedeu a liminar. Com 130 pessoas, a usina de triagem funciona de forma improvisada.

O MPT (Ministério Público do Trabalho) é contra a reabertura e prometeu recorrer para que o processo tramite na Justiça do Trabalho. Os catadores não terão acesso à montanha de detritos. Os caminhões da coleta descartam o lixo em um terreno, os recicláveis são separados, uma pá-carregadeira vai recolher o material e descartá-lo no aterro sanitário. Para ter acesso ao lixão basta apresentar documento de identidade na portaria.

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