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Meio Ambiente

Moradores encontram nascente e usam água até para tomar tereré

Mariana Rodrigues | 11/02/2016 14:18
A nascente fica em um canteiro no Bairro Nova Campo Grande. (Foto: Marcos Ermínio)
A nascente fica em um canteiro no Bairro Nova Campo Grande. (Foto: Marcos Ermínio)

Uma nascente no canteiro da avenida 7, no bairro Nova Campo Grande se tornou atração para os moradores que resolveram preservar a área e utilizar a água, inclusive para tomar tereré. Segundo eles, a nascente está ali há mais de 10 anos e segue ao longo do canteiro. Porém, a Águas Guariroba - concessionária responsável pelo tratamento de água- afirma que a mina d'agua não serve para consumo, pois não recebeu tratamento adequado e apesar de ser límpida pode ter contaminação.

Segundo a Águas Guariroba a nascente foi originada de um lençol freático alto e quando chove, a água mina. Muitos moradores já confundiram com vazamentos, e várias vezes equipes foram até o local e verificaram que, na verdade, se trata de uma nascente. A água do local também não é apropriada para os abastecimento por ser um lençol freático raso. "A água usada para abastecer a cidade é coletada de poços profundos e antes do poço ser furado é feito um estudo para saber a qualidade da água e se ali existe produção suficiente para a demanda".

Mesmo com todos os riscos os moradores, e até quem só passa por ali, usa a água para beber. Walter Massulo, mora no bairro Taveirópolis e passou pelo local algumas vezes, ele ficou encantado com o que viu, tanto que fez um vídeo e postou nas redes sociais. "É uma água de graça que está sendo jogada fora, isso é um desperdício. É só bombear para um reservatório e pode ser usada e consumida", lamenta ele que toma a água sem rodeios.

Walter Massulo bebe a água e garante que não faz mal. (Foto: Marcos Ermínio)
Walter Massulo bebe a água e garante que não faz mal. (Foto: Marcos Ermínio)
Augusto Juarez cuida do local para evitar o acúmulo de lixo. (Foto: Marcos Ermínio)
Augusto Juarez cuida do local para evitar o acúmulo de lixo. (Foto: Marcos Ermínio)

Os moradores contam que tentam preservar o local, por isso limparam ao redor, colocaram grama e fizeram o plantio de mudas de várias espécies. O operador de empilhadeira Augusto Juarez, 33 anos mora bem em frente da nascente, ele conta que quando mudou, há cerca de 9 meses, só tinha mato e a água se acumulava por toda a rua.

"Nós tiramos o mato, abrimos uma valeta para desaguar, tubulamos e fizemos um desvio para facilitar quando chove pois alagava tudo", explica o procedimento. Augusto também comprou grama para colocar em volta e sempre recolhe o lixo para evitar sujeira no local, já que a maioria dos moradores usam a água para beber e tomar tereré. "Colocamos o gelo e tomamos", diz.

Augusto conta que uma das suas vizinhas chegou a colher uma amostra da água e levou para ser analisada na Águas Guariroba. "Eles falaram que a água era potável e podia ser consumida". Porém em contato com a assessoria de imprensa da concessionária, a mesma informou que não faz esse tipo de análise particular e que, como a água não possui cloro, ela não está apropriada para consumo humano.

Mas, não são só os moradores que bebem a água, quem trabalha ali por perto também usa a água para se refrescar. Esse é o caso Paulo Sérgio, 32 anos, pedreiro, ele está trabalhando na construção das casas na região e sempre ingere o líquido. "Trabalho há três meses aqui e sempre tomei a água, inclusive para tomar tereré, nunca passei mal", conta.

Eduardo César Cardoso pretende abrir uma valeta para desviar a água que se acumula da nascente. (Foto: Marcos Ermínio)
Eduardo César Cardoso pretende abrir uma valeta para desviar a água que se acumula da nascente. (Foto: Marcos Ermínio)

Alagamento - Mas a nascente tem causado problemas ao longo da Avenida, segundo Eduardo César Cardoso, 36 anos, que tem uma borracharia nessa via desde 2001, a mina já chegou a ser drenada, mas o encanamento não aguentou a pressão da água e acabou estourando.

"Como usaram um cano muito fino, ele não aguentou a pressão da água e acabou estourando". Agora Eduardo vai abrir uma valeta para desviar essa água que se acumula em frente a sua borracharia e deixa o local intransitável. "Eu já abri um buraco na rede de captação de água pluvial para a água cair lá, foi o que deu uma amenizada", afirma.

Eduardo conta que o problema maior é quando chove, já que nessa área onde mora não é asfaltada, a água da nascente desce até o final da avenida e se acumula bem em frente da casa dele. Várias poças de lama se formam e a rua fica intransitável. "Pensamos em desviar o curso desa água para o asfalto, mas aí iria estragá-lo, então resolvi abrir valetas mesmo para facilitar o trânsito".

Diferenças - O geólogo Milton Saratt, explica que há diferenças entre o lençol freático e um aquífero, e é essa diferença que vai determinar se a água é imprópria ou não para o consumo. Ele explica que nos dois casos a formação é decorrente da infiltração da água da chuva.

Porém no aquífero a água está abaixo do solo tem uma proteção natural contra contaminações. Já no lençol freático, a água fica na superfície do solo em contato direto com a vegetação e totalmente exposta.

Para Saratt como a nascente está localizada na região urbana, ela fica exposta à vegetação, aos organismos e isso de certa forma acaba contaminando a água. "Diferente de uma água de um aquífero, que já está lá há muito tempo e por ser mais profunda tem uma proteção natural e mesmo assim, quando se fura um poço, por exemplo, essa água recebe cloro para eliminar possível contaminação e ser tornar potável par o consumo humano", esclarece.

Sobre o consumo da água, ele alerta que como a água flui em um ambiente totalmente expostos animais, bichos, lixo e a própria vegetação e como não possui cloro, ela tende a ser contaminada. "É uma água de afloramento de nível que aflorta no solo em vegetação e está sujeito a alteração de presença de organismos. Para ser de qualidade teria que tratá-la ou clorar".

Moradores tentam mantêm a limpeza da nascente. (Foto: Marcos Ermínio)
Moradores tentam mantêm a limpeza da nascente. (Foto: Marcos Ermínio)
No final da avenida, a água que escorre vai direto para o sistema de captação de águas pluviais. (Foto: Marcos Ermínio)
No final da avenida, a água que escorre vai direto para o sistema de captação de águas pluviais. (Foto: Marcos Ermínio)

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