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Meio Ambiente

Saúvas "dominam" áreas urbanas e podem matar espécies como ipês

Resistentes ao crescimento da cidade, formigas cortadeiras não possuem predadores naturais. "Difícil controlar", diz ambientalista.

Anahi Gurgel e Amanda Bogo | 01/08/2017 09:45
Formiga cortadeira em plena atividade em canteiro de avenida de Campo Grande. Espécies são resistentes ao processo de urbanização. (Foto: André Bittar)
Formiga cortadeira em plena atividade em canteiro de avenida de Campo Grande. Espécies são resistentes ao processo de urbanização. (Foto: André Bittar)

Elas são pequenas, mas possuem grande poder de destruição. A ação de formigas saúvas, mais conhecidas como cortadeiras, está chamando atenção de quem passa por canteiros, praças e avenidas de Campo Grande. Resistentes ao processo de urbanização, esses insetos "atacam" árvores para sobreviver e podem até levar à morte espécies nativas, como ipês e carandás.

Na Avenida Cônsul Assaf Trad, norte da Capital, vários formigueiros são avistados desde o início da via até o trecho próximo da rotatória na saída para Cuiabá. Ao redor de apenas um pé de ipê, foram contados, pelo menos, 20 ninhos.

Não é de hoje que João de Souza Lima, 55 anos, vem observando esse ataque de formigas nas plantas da cidade.  

“Tem uns três anos que vejo as cortadeiras acabando com as árvores. Muitos ipês já morreram. Fico preocupado porque eu sei como é difícil controlar”, afirma João, gerente de fazenda, onde uma uma de suas funções é justamente barrar a ação desses insetos. 

Ele ainda conta que, na propriedade onde trabalha, para combater o problema, utiliza inseticida durante a noite ou madrugada, quando as formigas agem. “É uma espécie de isca, que as cortadeiras levam para o ninho e o veneno age lá dentro. Mas tenho que ficar sempre de olho. E as árvores da cidade? Se não cuidar vão morrer", alerta. 

"Acessos" de fomigueiro ao redor de ipês, em canteiro da Cônsul Assaf Trad, norte do município. (Foto: André Bittar)
"Acessos" de fomigueiro ao redor de ipês, em canteiro da Cônsul Assaf Trad, norte do município. (Foto: André Bittar)

O comerciante Silvio Dias, 65, conta que tem reparado que os ipês estão com o desenvolvimento prejudicado. “Não vejo ninguém fazer nada. São vários formigueiros não só nessa região, mas em vários canteiros da cidade. Fica muito “a Deus dará”, deveria ter mais cuidado”, acredita.

Por que elas atacam? A formiga cortadeira realmente pode prejudicar o desenvolvimento de espécies nativas do cerrado encontradas em áreas urbanas da Capital. A presença dessa “tribo” de formigas reflete uma área já degradada e pode, sim, levar os vegetais à morte.

É o que explica o ambientalista Rodrigo Aranda, coordenador do Cinelab (Laboratório de Ecologia de Comunidade de Insetos), da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul).

“Diferente de outras espécies de formigas urbanas, a saúva, da tribo attini, se adapta mais facilmente a ambientes atropizados”, disse.

“Elas levam folhas, flores e as vezes até frutos para o ninho e transformam esse material orgânico em fungos, que são o verdadeiro alimento delas. Esses insetos têm uma estratégia de forrageio e exploram até o esgotamento dos recursos”, esclarece. 

Ambientalista Rodrigo Aranda, no Laboratório de Ecologia de Comunidade de Insetos, na UFMS. (Foto: Anahi Gurgel)
Ambientalista Rodrigo Aranda, no Laboratório de Ecologia de Comunidade de Insetos, na UFMS. (Foto: Anahi Gurgel)

Os ninhos das cortadeiras podem ultrapassar um raio de 30 metros. Muitos acham que são vários formigueiros, mas na realidade o que se vê são vários pontos de acesso do mesmo formigueiro, com milhões de indivíduos.

"Muito provavelmente esses ninhos já estavam lá antes da urbanização e elas conseguiram sobreviver por encontrar um ambiente favorável. As espécies nativas são as “preferidas” dessas formigas, pois proporcionam uma interação natural, sem oferecer risco de os fungos não se desenvolverem nos ninhos", diz.

Existem poucos estudos sobre formigas urbanas no País. Em Campo Grande, longe da área rural, além da saúva, as espécies mais encontradas são a lava-pé, formiga-fantasma e a argentina.

Solução – "O controle dessas espécies é muito difícil porque o formigueiro é enorme, um sistema extremamente estabelecido, com várias “castas” onde os indivíduos executam determinadas funções. São insetos sociais", explica Rodrigo.

O ambientalista afirma também que inseticida só resolve se matar a rainha, que fica muito bem protegida no ninho. O veneno pode até liquidar diversos “operários” e reduzir a atividade do formigueiro por um período. Mas a rainha bota novos ovos e logo restabelece a colônia.

A melhor forma de tentar evitar esses ataques é, naturalmente, aumentar a área verde na cidade, uma ação a longo prazo.

“Colocar cones de plástico ou passar alguma substância que torne o caule escorregadio, impedindo a formiga de subir na árvores, é uma estratégia simples e eficaz”, indica.

Sem muito detalhamento, a Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Gestão Urbana) informou que estão sendo executadas ações para manutenção dos canteiros e no manejo da arborização urbana, inclusive com apoio da Sisep (Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos).

Confira a galeria de imagens:

  • Folha com vestígios da ação de formigas cortadeiras.
  • Um ipê seco, indicativo de área degradada.
  • Saúva entrando em formigueiro.
  • Acesso de ninho de cortadeira em avenida de Campo Grande.
  • Pesquisadores do Laboratório de Ecologia de Comunidades de Insetos), na UFMS, realizam estudos sobre formigas urbanas.
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