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Na Íntegra

Violência contra idosos começa dentro de casa, alerta juíza no Junho Prata

Titular da Vara do Idoso, Katy Braun relata abandono, agressões e falta de políticas públicas para envelhecer

Por Lucas Mamédio | 08/06/2025 07:23

Os pedidos de socorro partem em silêncio, muitas vezes escondidos atrás de um cartão de aposentadoria bloqueado, de um machucado disfarçado com casaco ou da vergonha de denunciar o próprio filho. No mês do Junho Prata, campanha de conscientização sobre os direitos da pessoa idosa, a juíza Katy Braun do Prado, titular da Vara da Infância, da Adolescência e do Idoso de Campo Grande, expõe a dura realidade de quem envelhece no Brasil — e especialmente de quem envelhece mulher.

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A violência contra idosos no Brasil tem como principais agressores os familiares, conforme alerta a juíza Katy Braun do Prado, titular da Vara da Infância, da Adolescência e do Idoso de Campo Grande. As agressões incluem violência patrimonial, física e psicológica, com casos frequentes de apropriação de cartões de aposentadoria e abusos domésticos. As mulheres idosas são as principais vítimas, em um ciclo de violência que se perpetua ao longo da vida. A juíza destaca a importância da rede de proteção e ressalta que instituições de acolhimento podem oferecer mais dignidade que algumas famílias, combatendo a romantização do cuidado familiar.

Durante entrevista ao podcast Na Íntegra, do Campo Grande News, Katy revelou que os principais agressores de idosos são os próprios familiares. “É o filho que agride, é o neto que rouba, é o parente que abandona. O medo da solidão faz o idoso aceitar o inaceitável. E quando ele procura ajuda, já foi muito machucado — no corpo ou na alma.”

Falta estrutura - A juíza lembra que o Brasil envelhece rapidamente, mas sem estrutura para garantir dignidade na velhice. “A gente não tem política de envelhecimento. O idoso só aparece para o poder público quando já está em situação de emergência, com saúde comprometida ou em conflito familiar. A prevenção é quase inexistente.”

Segundo Katy, uma das formas mais recorrentes de violência é a patrimonial. “Tem idoso que não vê o dinheiro da própria aposentadoria. O filho ou o neto toma o cartão, controla os gastos, toma decisões. Às vezes, sem agressão física, mas com controle absoluto da vida daquela pessoa.”

Idade e gênero - Mas as agressões físicas também são frequentes. Por isso, a Vara do Idoso tem atuado em medidas protetivas. “A gente recebe muitos pedidos de senhoras que querem afastar parentes da própria casa. Às vezes o neto é usuário de droga, vende os móveis, ameaça. Ou o filho humilha, grita, empurra. E esse idoso, mesmo com medo, pede socorro.”

Entre as vítimas, o recorte de gênero é claro: a maioria são mulheres. “A mulher apanha quando é criança, apanha quando é adulta e morre apanhando quando é idosa. Isso não é força de expressão. É o que a gente vê todo dia no fórum.”

A juíza explica que o abandono e a violência na velhice não aparecem do nada. São construídos ao longo da vida, muitas vezes com base em famílias frágeis, ausências paternas e estruturas precárias. “Acabei de fazer cinco audiências com adolescentes infratores. Nenhum deles tinha pai presente. O cuidado que a gente não ensina desde cedo volta no futuro. Como você cuida do seu pai é como seu filho vai cuidar de você.”

"Abandono é crime.” - Ela também alerta para a romantização do cuidado familiar. “Não é vergonha procurar uma instituição. Tem casas de acolhimento que tratam o idoso com muito respeito, com muito mais dignidade do que algumas famílias. O que não pode é largar. Abandono é crime.”

Apesar do cenário difícil, Katy destaca avanços. Um deles é o canal direto com a Secretaria Municipal de Educação que tem evitado judicializações desnecessárias. “Se um idoso ou uma criança precisa de vaga escolar, o pedido vai direto para a Semed. Em 10 dias, o problema se resolve, sem processo. Isso mostra que, com boa vontade, dá para fazer diferente.”

Ela também reforça a importância de acionar a rede de proteção: CRAS, CREAS, Ministério Público, Conselho do Idoso e o próprio Disque 100. “O Judiciário está aqui para garantir direitos. Mas ele entra depois. O que a gente precisa mesmo é que a sociedade volte a cuidar.”

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