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Política

Diretor do Consórcio fala em deficit, mas diz desconhecer destino de 11 milhões

Em CPI, ele não soube dizer como gastos administrativos saltaram de R$ 86 mil para R$ 11 milhões em 5 anos

Por Kamila Alcântara e Ketlen Gomes | 18/06/2025 14:25
Diretor do Consórcio fala em deficit, mas diz desconhecer destino de 11 milhões
Em primeiro plano está o diretor-presidente do Consórcio Guaicurus, Themis de Oliveira; acompanhado do advogado Felipe Barbosa (Foto: Osmar Veiga)

Durante depoimento à CPI do Transporte nesta quarta-feira (18), o diretor-presidente do Consórcio Guaicurus, Themis de Oliveira, afirmou que o transporte coletivo de Campo Grande opera com prejuízo e só continua funcionando graças a repasses da prefeitura. Ele admitiu não ter domínio sobre despesas fora da operação do transporte que somaram R$ 11 milhões em 2021, conforme planilha do próprio consórcio, refentes a 2021.

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Diretor do Consórcio Guaicurus admite déficit e dependência de verbas públicas para manter o sistema de transporte coletivo de Campo Grande. Em depoimento à CPI do Transporte, Themis de Oliveira afirmou que a empresa opera no limite e precisa de aportes da prefeitura. Ele defendeu a refaturação do contrato com o município, com a participação da Câmara e do Ministério Público, e criticou a falta de infraestrutura para o transporte público, como corredores exclusivos e fiscalização. Oliveira também confirmou a presença de João Resende na diretoria, contrariando depoimento anterior. Questionado sobre altas despesas com manutenção, justificou os gastos com a frota envelhecida e as más condições das vias. A vereadora Ana Portela questionou os lucros registrados entre 2016 e 2019 e a falta de investimentos correspondentes, além de R$ 11 milhões em despesas não operacionais em 2021, cujos detalhes Oliveira desconhece. A CPI investiga irregularidades no contrato de concessão e realizará audiência pública em 25 de junho.

O que os vereadores questionam é que esse valor subiu muito, passando de R$ 86 mil para R$ 11 milhões em cinco anos. Apesar do salto estratosférico, o diretor, que assumiu este ano, não respondeu. Os gastos não operacionais são despesas com acidentes e questões judiciais. No depoimento do ex-presidente, João Rezende, a mesma pergunta foi feita e ele se negou a responder.

Segundo Themis, qualquer análise contábil revela que o sistema opera no limite. “Qualquer banco que olhar nosso balanço vai afirmar que teremos dificuldades para pagar uma operação de crédito de R$ 170 milhões sem os aportes que a prefeitura precisa fazer. Essa é a realidade”, afirmou.

Coringa perguntou se o consórcio estaria disposto a discutir uma eventual refaturação do contrato com o município. Themis respondeu que essa é uma intenção permanente dos gestores. “Todos os dias buscamos um caminho comum para sentar com a prefeitura e chegar a um acordo. Acredito que seja extremamente importante envolver a Câmara e o Ministério Público nesse processo. Não dá para resolver só com ônibus novos se não houver corredores exclusivos e infraestrutura adequada.”

Ele criticou a falta de vias dedicadas ao transporte coletivo na cidade. “Conheço várias cidades do Brasil com mais de 250 mil habitantes que já têm monitoramento por câmeras e faixas exclusivas. Aqui, não tem. Em alguns trechos até indicam o caminho do ônibus, mas qualquer um pode parar onde quiser, porque não há fiscalização”, reclamou.

O diretor também confirmou que João Resende, ex-presidente do consórcio, ainda faz parte da atual diretoria, o que contradiz depoimento anterior prestado por ele à CPI. “Sim, o senhor João integra a diretoria”, afirmou Themis.

Sobre os custos com manutenção, Themis explicou que os gastos incluem desde peças e pneus até serviços de funilaria, agravados pelas condições das vias e falta de poda de árvores. “Fundimos um motor por entrada de água no dia 2 de fevereiro, por exemplo. Temos problemas diários. Galhos de árvores danificam os alçapões dos ônibus. Isso aumenta os custos e exige reparos constantes.”

Diretor do Consórcio fala em deficit, mas diz desconhecer destino de 11 milhões
Vereador Júnior Coringa (MDB) faz perguntas ao Themis de Oliveira, que está no fim da mesa; ao centro estão os outros vereadores: Ana Portela (PL), Lívio Leite (União), Maicon Nogueira (PP) e Luiza Ribeiro (PT) (Foto: Osmar Veiga)

A vereadora Ana Portela (PL) apresentou dados da DRE (Demonstração de Resultados do Exercício) do consórcio, mostrando que desde 2016 os custos com manutenção consomem mais de 70% da receita tarifária. Em 2020, o índice chegou a 87%. Em 2023, ficou em 80%. “Como é viável operar com esse nível de gasto?”, questionou a parlamentar.

“Esses percentuais refletem o custo de manter uma frota envelhecida. Ninguém quer ônibus velhos, eles desvalorizam a empresa e aumentam o custo. Compramos 171 ônibus nos anos anteriores e mais 73 em 2023, mesmo sem recursos. Usamos o nome dos acionistas como garantia para conseguir crédito nas instituições financeiras. Ainda estamos pagando por eles”, afirmou Themis.

Sobre os lucros apresentados entre 2016 e 2019, que somaram quase R$ 33 milhões, a vereadora cobrou explicações sobre a ausência de investimentos proporcionais. Themis rebateu afirmando que o montante não cobre sequer meio por cento do investimento necessário. “E, contratualmente, a nossa TIR (Taxa Interna de Retorno) deveria ser de 12,20%. Estamos operando com resultados muito abaixo do previsto.”

Já o presidente da Comissão, o verador Livio Leite (União), pediu esclarecimentos sobre os valores classificados como “despesas não operacionais” na contabilidade da empresa, que saltaram de R$ 84 mil em 2016 para R$ 11 milhões em 2021. Themis disse não saber os detalhes. “Essas despesas não estão diretamente ligadas à operação, podem incluir sinistros, perdas judiciais, venda de ativos, multas... Vou levantar esses dados ano a ano e enviar à comissão antes da elaboração do relatório.”

Comissão - A CPI do Transporte foi criada para investigar possíveis irregularidades no contrato de concessão do sistema de transporte coletivo operado pelo Consórcio Guaicurus. A comissão já identificou falhas na fiscalização por parte do poder público e assimetria de dados entre as agências reguladoras e do consórcio. A próxima fase da comissão será uma audiência pública com participação da sociedade civil, marcada para o dia 25 de junho.

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