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Cultura da paz na Universidade

Fernanda Arioli Heck e Willian Mella Girotto (*) | 02/12/2021 08:30

Uma pandemia, como a de covid-19, traz muitas incertezas e exige muitas adaptações, sendo esperados sentimentos de preocupação, confusão, ansiedade e sensação de falta de controle em relação ao que está por vir. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) publicou em 2020 documento intitulado Saúde Mental e Atenção Psicossocial na Pandemia covid-19, no qual indica que entre as reações comportamentais esperadas está o aumento de conflitos interpessoais, seja no ambiente doméstico, seja no ambiente de trabalho. Nessa direção, é necessário estimular ações compartilhadas de cuidado, evocando a sensação de pertença social (como as ações solidárias e de cuidado familiar e comunitário).

Em tempos tão difíceis, em que as disputas políticas estão cada vez mais acirradas e polarizadas, em que enfrentamos uma pandemia, em que as relações sociais se fragilizaram em função da exigência de isolamento, como podemos praticar a ‘cultura da paz’ na Universidade? Esse é o desafio com que somos confrontados diariamente em nossas relações mais próximas.

Cultura da paz, conforme definição da Organização das Nações Unidas (ONU) de 1999, representa um conjunto de valores, atitudes, tradições, comportamentos e estilos de vida de pessoas, grupos ou nações baseado no respeito pleno à vida, aos direitos humanos e às liberdades fundamentais. Envolve um modo de agir e de se posicionar baseado na prática da não violência por meio da educação, do diálogo e da cooperação.

Trata-se de um tema de extrema relevância na promoção à saúde no ambiente universitário, considerando que ações de educação que previnam vulnerabilidade a riscos relacionados à saúde e seus condicionantes ou determinantes se coadunam com o objetivo de propiciar bem-estar, qualidade de vida e ambientes saudáveis aos alunos, professores e servidores da Universidade.

Fomentar uma cultura de paz no ambiente da Universidade é um desafio, considerando a cultura competitiva vigente em nossa sociedade, bem como o caráter sistêmico e estrutural da violência. É por meio de reflexões e sensibilizações sobre processos estruturais, coletivos e individuais que podemos criar condições para resolver conflitos, promovendo mais saúde no ambiente acadêmico.

Cultura de paz se traduz em uma chance de resolução não violenta dos conflitos, de modo a colocar em prática atitudes voltadas à preservação da vida e à promoção de um incremento de qualidade nas relações interpessoais. Se os conflitos humanos trazem desconforto, a busca pela paz aparece como um contraponto que merece ser incentivado. O conceito de paz está atrelado à possibilidade de viver em harmonia, buscando minorar a ocorrência de conflitos. Já a cultura está relacionada à produção de significados mentais que compõem o conjunto de crenças, opiniões, hábitos e atitudes de determinada comunidade em um momento histórico definido.

Assim, estar inserido em determinado contexto cultural, tal como ocorre com aqueles que fazem parte da comunidade da Universidade, implica reproduzir crenças, mesmo que nem sempre seja possível dar-se conta de que isso ocorre. Se, por exemplo, alguém está inserido em um ambiente onde predomina uma forma de comunicação violenta, a tendência é de que as pessoas se relacionem em consonância com essa cultura, que acaba institucionalizada. Essa cultura não é, todavia, imutável; ela denota, mais propriamente, algo incompleto e transitivo.

É possível e desejável, portanto, promover mudanças na cultura da Universidade em prol da paz.

Podemos entender as violências como fenômenos desequilibrados e desarmônicos que estremecem as relações interpessoais. Para investirmos em uma ética que se contraponha às reações violentas, é preciso primeiramente identificar as formas pelas quais a violência se manifesta na Universidade (explícita ou velada, por exemplo) para, em seguida, fomentar a construção de um novo significado e de uma nova consciência na busca de uma finalidade pacífica.

A ‘cultura da paz’ se associa a um incremento de saúde e bem-estar. Implica o senso de justiça e de equidade, a capacidade de relativizar modos de pensar vigentes e que funcionam sob a forma de imperativos que delineiam as relações sociais. Ações que têm como mote a cultura da paz incluem o manejo da comunicação não violenta, assim como técnicas de resistência pacíficas, porém ativas. Vamos todos juntos agir no sentido de disseminar a paz pelo ambiente universitário?

(*) Fernanda Arioli Heck é psicóloga da Divisão de Promoção da Saúde do Departamento de Atenção à Saúde da UFRGS.
(*) Willian Mella Girotto é psicólogo da Divisão de Promoção da Saúde do Departamento de Atenção à Saúde da UFRGS.

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