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Nós somos os patrões

Por Jeovah de Moura Nunes* | 26/10/2011 10:26

Nasceu este guerreiro chamado Carlos Lamarca em 27 de outubro de 1937 e faleceu em 17 de setembro de 1971, portanto com apenas 34 anos de uma existência útil ao seu e ao nosso país. É em razão de existirem homens assim, mais herói do que homens, a vitória de nossa democracia. De nossa História de pesadelos sem fim. Basta lembrar de Canudos, um dos maiores genocídios do mundo só vencido pela caótica segunda guerra mundial, baseando-se principalmente nas máquinas de morte dos nazistas, chamadas de “campos de concentração”, visto que de concentração não tinha nada e sim de assassinatos em massa de milhões de pessoas, gentes, indivíduos que nada deviam ao nazismo. A matança de brasileiros deu continuidade nos tempos ditatoriais, quando os generais carrancudos tomaram o poder a partir do presidente Castelo Branco. Foi uma época de pesadelos. A humanidade é pecadora demais. Refiro-me à humanidade repleta de egoísmos, de tentações para o mal, tal e qual ocorre rotineiramente em países como o Brasil. Nós não somos diferentes dos nazistas. Somos tão nazistas quanto os nazistas. Aqui a violência ultrapassa a violência nazista antes do início da guerra. Quando os nazistas alemães deram início à guerra uma enorme matança se generalizou por toda a Europa e parte da Ásia. Foi praticamente a ferida do planeta Terra com sua humanidade sanguinolenta.

A América do Sul salvou-se em parte, mesmo porque o Brasil sem ter declarado guerra nenhuma teve dezenas de nossos navios afundados sem que pudéssemos reagir contra os navios de combates alemães. Getúlio Vargas demorou-se demais para enviar tropas à Europa, mesmo ouvindo rotineiramente os pedidos dos americanos, que nesta altura já combatiam o nazismo em território europeu. O tal Getúlio não era tão estadista quanto precisava ser naquela época. Acho até que era medroso. Afinal, desafiar a Alemanha nazista não era a praia do Getúlio, que também pautava sua política como sendo a mesma para todos os países. Deu no que deu: o afundamento de muitos navios brasileiros e o pior: praticamente no espaço de poucas milhas das praias brasileiras. Dava para as populações praieiras verem a fumaça e os navios afundando. Não sei porque o nosso país sempre se atrasa em resolver problemas urgentes. Lamarca foi uma pessoa corajosa demais. Muitos achavam que era ele um comunista, mas não era nada disso. O que ele realmente desejava era à volta da democracia, visto que os militares tomaram conta do poder e militar no poder significa basicamente injustiças para todos os lados. Lugar de militares é na caserna e não no poder da República. Em 11 de setembro de 2011 um canal de tv brasileira mostrou ao povo os acontecimento em Nova York 10 anos atrás, quando as torres do World Trade Center foram atingidas por duas aeronaves de grande porte, que resultou na morte de inúmeras pessoas, porém os acontecimentos dos tempos ditatoriais nem são mais lembrados neste país, quando centenas de brasileiros – tanto homens quanto mulheres – foram mortos sob tortura das mais cruéis que podemos imaginar. Isto praticado por forças tanto do Exército quanto das polícias militares. Exército que servi em 1964 e se gabava de ser o mais justo e honesto de todas as democracias. Estava eu redondamente enganado, bem por isto pedi baixa e sai mais que depressa da caserna.

Em 17 de setembro de 2011, completou 40 anos da execução sumária de Carlos Lamarca e nenhuma reportagem foi efetuada no Brasil o que demonstra claramente que não temos heróis brasileiros, ou não temos a coragem de apresentar esses heróis que lutavam a favor de uma real democracia. Nós brasileiros só apreciamos a farra, a pingaiada, as festas, os carnavais. Isto é: não temos a coragem de lutar por um Brasil melhor, pela melhoria de nossas causas sociais e honrar o nome do Brasil, como fizeram nossos antepassados. Não há mais brasileiros com a coragem de um jagunço canudense lutando contra a criminalidade de uma República recém estabelecida neste país. Afinal Canudos não era um lugar de estrangeiros, mas de brasileiros humildes e corajosos, que lutaram pela honra, pela decência contra um exército mais criminoso do que propriamente legalizado. Gostei demais do artigo de Zé da Cruz datado de 03 de outubro último, quando ele se refere à luta do povo humilde de Canudos. Passo a seguir um trecho do que escreveu o Zé da Cruz:

“Espero em Deus, porque na terra temos pouquíssimos apoios, e porque quando Ele quer não tem quem não queira. Espero nesse mesmo Deus e em autoridades comprometidas com a luta do povo, que aquela ocupação não se tornará um arraial de Canudos. Para quem não sabe, Canudos foi uma ocupação que ocorreu no sertão da Bahia, onde um agrupamento de pessoas que só queriam um pedaço de terra para plantar e viver em paz foi massacrada com o apoio das autoridades, da imprensa, da Igreja e dos coronéis latifundiários, que transformaram, para a opinião pública, aquelas pessoas em bandidos, ou monarquistas que queriam dar um golpe no país”.

Aquela guerra brasileira levou à morte 30.000 inocentes brasileiros. Boas partes das crianças sobreviventes foram levadas por soldados e pessoas de alto escalão, tornando-as escravas em suas casas. Talvez tenha sido essa tragédia brasileira o início de outra tragédia que foi durante muito tempo a vida dessas crianças já na idade adulta.

Portanto, os quarentas anos da morte de Carlos Lamarca selam definitivamente o esquecimento desse homem que particularmente para mim foi um verdadeiro herói, lutando pela democracia do país, num tempo em que nada podia ser dito com veracidade. Havia dedos duros por toda parte e o silêncio da população só era quebrado ao passar defronte do DOPS e ouvir os gritos de quem estava sendo torturado. Cansei de ver na cidade de São Paulo nos tempos da ditadura pessoas inocentes sendo espancadas à toa somente para divertimentos dos policiais. E quem é que não se lembra mais do tal “esquadrão da morte”, um verdadeiro grupamento à moda dos nazistas? É meu caro amigo leitor, o nosso país não é aquele que tanto veneramos. O nosso país tem muitas injustiças que nem dá para relacionarmos aqui neste espaço. As autoridades só são carrascos quando se trata de problemas do povo, como se o povo não tivesse o direito de participar deste país em quaisquer dos problemas, os quais geralmente nascem nas poltronas onde os deputados e senadores se espreguiçam. Representantes estes que são mais das elites e não do povo que os elegeu. Penso que a morte de Muammar Kadhafi sirva de exemplo para muitos políticos sem vergonha na cara que existem neste Brasil, principalmente àqueles que se acham os donos das cocadas pretas, quando na verdade não passam de empregados do povo. Nós somos os patrões! Que eles não se esqueçam disso!

(*) Jeovah de Moura Nunes é escritor e jornalista

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