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Papai Noel não existe!

Por Paulo Cabral (*) | 18/05/2017 14:49

O vazamento da delação dos donos do JBS, guarnecida com robusto conjunto probatório, envolvendo Michel Temer, Aécio Neves, Guido Mantega e sabe-se lá quem mais, além de abalar severamente a República, tornando insustentável a permanência do presidente, põe a nu o quão entranhada está a corrupção no aparelho de estado brasileiro e na prática política dos detentores do poder.

Os tentáculos da Lava-Jato, que examina só um pedacinho dela, relativo à Petrobrás, parece não intimidá-los; os mal feitos foram flagrados no último mês de abril, quando a Operação, em seus três anos de existência, encontra-se em sua quadragésima fase, e eles nem aí.

A corrupção é supra-partidária, transita por todos os espectros religiosos e ideológicos, é comum aos dois gêneros, espraia-se pelos três poderes, atinge municípios, estados, união, bem como empresas. Por mais que se tente eliminá-la, resiste e permanece espalhando o mal. A convicção da impunidade é renitente e os corruptos (ativos e passivos) zombam dos cidadãos.

O texto do presidente do PSDB, na gravação revelada, conforme pontuou o insuspeito Merval Pereira, comentarista chapa branca da Globo News, é próprio de mafiosos. Eduardo Cunha, apesar de preso, prossegue atuando, em seu melhor estilo; chantagem é com ele mesmo. A Chicago dos anos 20, quando Al Capone, o mais popular gangster americano, reinava absoluto, é nada diante do que se vive hoje. Aliás, a técnica da “operação controlada”, utilizada para chegar aos “tubarões”, foi desenvolvida pela Polícia Federal com o objetivo de combater o tráfico de drogas. Traficantes e políticos no mesmo balaio. A que ponto se chegou!

A gravidade da conjuntura política nacional é indiscutível. Nas bolsas de Nova York e Tóquio os papéis brasileiros despencaram em média 10%, na noite do anúncio, revelando o impacto da bomba política sobre o “deus mercado” e, provavelmente, o quadro deva piorar. Muitos dos “ratos” que até aqui se locupletavam do poder, já anunciam ou se movimentam para deixar o barco, afinal, conduta muito coerente nesse pântano de fisiologismo.

Como será o “after day” ninguém arrisca especular. O Planalto blefa, tentando aparentar normalidade. Dá uma de Maria Antonieta que, às vésperas da Tomada da Bastilha, com o povo faminto a protestar nas ruas de Paris, teria dito “se não há pão, comam brioches”. Independentemente das manobras que estejam sendo urdidas para se salvar os dedos, o futuro imediato é preocupante, pois, a luz no fim do túnel parece distante. O mais dramático é a profunda crise de liderança em que nos encontramos, e não venham dizer que João Dória reúne condições. Ele, como no passado Collor, é fruto de marketing político.

Nesse vácuo, florescem viçosos os discursos salvacionistas. A direita mais radical conta com Bolsonaro 18. Menos espalhafatoso, mas tão direita quanto, Ronaldo Caiado ensaia aparições. Lula, a depender do desfecho judicial, estará no páreo, já que conserva razoável densidade eleitoral; Alckmin, da mesma forma, apesar da criatura por ele criada pretender voo próprio. Ciro Gomes e Marina Silva apenas coadjuvantes. Com isso, os militares são lembrados como a grande possibilidade para salvar a pátria (livre ou não).

Há de se lembrar, porém, que José Sarney, o imperador do Maranhão e Paulo Maluf, na mira da Interpol, foram líderes sustentados pela ditadura militar; que o rombo da previdência, tão decantado, tem sua origem quando Jarbas Passarinho, Ministro da Previdência, em 1967, unificou os Institutos de Aposentadoria e Pensão – IAPs, criando o INPS, (ele também foi padrinho político de Eurides Brito, aquela deputada distrital filmada colocando a propina na bolsa).

E Mário Andreazza, Ministro dos Transportes que, ao deixar o governo, era dono de inúmeras jazidas no Amapá? E a primeira dama Yolanda Costa e Silva, que teria desviado dinheiro da Legião Brasileira de Assistência, obrigando o governo a afastá-la do comando e transformar o órgão em uma fundação? Quanto custaram a ponte Rio-Niterói e a Transamazônica, obras símbolo dos projetos faraônicos que permitiam a malversação dos dinheiros públicos, sem que se pudesse denunciar, porque a censura à imprensa impedia?

Acreditar que os militares sejam a salvação é, no mínimo, ingênuo ou equivocado. Papai-noel não existe! Não há soluções mágicas; é preciso lucidez e coragem para enfrentar esse mar de lama e defender a Democracia!

(*) Paulo Cabral é sociólogo

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